"A Noite Devorou o Mundo" começa com Sam (Anders Danielsen Lie) indo até a casa de Fanny (Sigrid Bouaziz), sua ex-namorada, para pegar algumas de suas coisas. Uma festa está acontecendo e o novo affair dela também está por lá. O ambiente é desagradável, mas Fanny insiste para que ele espere para que possam conversar a sós. Enquanto revira alguns de seus discos, Sam acaba dormindo. Quando acorda, sangue e vísceras tomam as paredes do imóvel, Fanny tenta ataca-lo e Paris pela janela parece do avesso.
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“A Noite Devorou o Mundo” é um filme francês de zumbis. Nessa ordem etimológica. O drama do protagonista, que se flagra solitário e sem saber como agir para continuar vivo norteia o longa-metragem.
Sam decide ficar no apartamento e isolá-lo para que os zumbis que tomam as ruas de Paris não possam entrar. Não é uma lógica à prova de falhas. Músico, Sam tenta extrair sons e melodia de seu dia a dia e é na maneira como se fia na música para manter-se são que o filme de Dominique Rocher se vocaliza. Há ali uma metáfora potente sobre as dores e angústias de se terminar uma relação amorosa.
Para além dessa alegoria afetiva, “A Noite Devorou o Mundo” é um filme de zumbi diferente. Onde a desesperança e o desencanto do protagonista permeiam o registro. Há uma cena, em que Sam toca efusiva e desesperadamente bateria para uma horda de zumbis que tenta sem sucesso escalar as paredes da casa que provoca um tipo diferente de terror no espectador, de ordem emocional. A cena lembra um show de rock e a catarse perdida de ser só um em uma multidão. Remete-nos à incapacidade de conexão do mundo moderno.
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O final, uma suspensão em si, refuta soluções fáceis e reforça a ideia de que “A Noite Devorou o Mundo” é uma experiência cinética e sensorial que, embora tenha três atos textualmente muito bem definidos, não se esgota.