A filmografia de Heitor Dhalia , um dos mais talentosos e versáteis cineastas brasileiros, não é vertical no sentido de se construir sobre um mesmo tema, como o são, por exemplo, as filmografias de Christopher Nolan – às voltas com personagens obsessivos – ou de Martin Scorsese – que tem no gangsterismo e na culpa cristã alicerces vitais de sua obra. A comparação pode soar ousada, mas Dhalia não tem medo de ousadia, como atesta “Tungstênio”, seu sétimo longa-metragem.
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Adaptado da Graphic Novel homônima de Marcello Quintanilha, “Tungstênio” é um thriller nervoso, tropical e que carrega tintas fortes de uma brasilidade tão moderna quanto tradicional.
Dhalia utiliza uma estética cartunesca que agrega valor dramático ao filme e o oxigena enquanto experiência cinematográfica. Em cerca de 80 minutos, o cineasta esculpe um retrato poderoso das tensões que permeiam as relações humanas.
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Estamos na Bahia de todos os santos. Richard (Fabrício Boliveira) é um policial malando que pode ser receptivo às engrenagens de corrupção. Ele vive um tumultuado casamento com Keira (Samira Carvalho) que tenta reunir forças para deixa-lo, mas parece não resistir ao charme cafajeste do marido. Já seu Ney (José Dumont), é um ex-sargento saudosista. Aquele tipo que vive a apregoar que nos tempos dos militares é que o Brasil era bom. Há, ainda, Cajú (Wesley Guimarães), um jovem que trafica drogas escondido da mãe beata.
Esses personagens colidem em uma trama de ritmo eletrizante. Dhalia faz com que o narrador – voz de Milhem Cortaz – extrapole as emoções dos personagens. Ora situando-as, ora assumindo-as, frequentemente os desafiando. É um recurso enriquecedor dentro da proposta dramática do filme e que agiganta o registro dramatúrgico.
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“Tungstênio” , portanto, se apropria de uma atmosfera muito particular para dimensionar algumas das contradições humanas. Complexos e intrincados desejos, anseios e inseguranças ganham relevo no longa e uma acentuação que, quando não é tenra, assusta.