De volta à Cannes depois de ser banido e declarado persona non grata em 2011 por falar "que entendia Hitler" na coletiva de imprensa de "Melancolia", Lars Von Trier estreia "The House That Jack Built" (A casa que Jack construiu - em tradução livre) em sessão polêmica no Grand Theatre Lumière. O filme teve em sua premiere mais de 100 pessoas que saíram da sessão antes do final, mas dos que restaram no teatro, muitos aplaudiram de pé.

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"The House That Jack Built"

Em "The House That Jack Built" , Matt Dillon é Jack, um psicopata que tem mais de 60 mortes em seu currículo. Carrancudo, com um olhar apático e um humor afiado, tem como suas principais vítimas mulheres. Não simplesmente mulheres - "mulheres burras", segundo relato dele mesmo durante o filme, em um aceno autoconsciente e irônico do diretor às alegações de assedio sexual que recebeu de Bjork e de diversas mulheres que trabalharam em suas produções.

Além disso, Jack almeja construir uma casa com materiais perfeitos à beira de um lago e aprecia muito a arte, inclusive comparando suas mortes - uma mais cruel e criativa que a outra - com sua tentativa de chegar à perfeição artística comparável a grandes nomes da história.

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Com cenas impactantes de assassinato, empalhamento de cadáveres e tortura animal, o filme choca no visual explícito contradito pela trilha sonora animada - inclusive Fame do David Bowie, músico que ilustra vários outros filmes do diretor.

Com uma fotografia bem similar a filmes de terror snuff e de terror de baixo orçamento, se destaca pela atuação e pela montagem com um timing ótimo para humor, causando inclusive risos da audiência em cenas absurdamente chocantes, deixando claro que uma ótima construção de personagem faz a audiência ter empatia mesmo com as personagens mais horríveis.

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Cena de "The House That Jack Built", novo filme de Lars Von Trier criticado em Cannes pelo excesso de violência

No final das contas, " The House That Jack Built " é uma comédia sádica repleto de imagens absurdamente misóginas, explicitas e chocantes, reforçando por meio de sua arte exatamente o que o diretor se mostra na mídia: machista, violento e com um humor questionado por muitos; deixando claro que em um mundo onde se preza cada vez mais respeito e igualdade, Lars utiliza seus filmes como uma criança mimada que se recusa a obedecer a mãe.

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