Paulo José, que convive com o Parkinson há 25 anos, em um dos momentos que surge no filme:
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Paulo José, que convive com o Parkinson há 25 anos, em um dos momentos que surge no filme: "Tenho a sensação de estar sendo filmado"

Fazer documentário sobre grandes personalidades costuma ser algo muito aferrado a um manual, mas “Todos os Paulos do Mundo” quebra esse paradigma. Em parte porque se trata do grande Paulo José, ator que está com 81 anos e é tido como um dos principais expoentes da arte de atuar no Brasil. Em parte porque os diretores Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira queriam de partida propor algo diferente com o filme.

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Paulo José e os diretores de "Todos os Paulos do Mundo" durante a premiere do filme no Festival de Cinema do Rio em 2017

“Como achamos que o Paulo é o maior ator do Brasil, nos parecia muito natural contar a história dele por meio dos personagens que ele interpretou”, observa Ribeiro ao iG Gente .  " Paulo José é quase uma unanimidade. Não conheço ninguém que diga ‘não gosto desse ator’. Então ia ser uma bajulação muito grande se fôssemos pela via tradicional”.

“Todos os Paulos do Mundo” evita o convencional e abraça o poético. O filme, em si um elogio da montagem, reúne os trabalhos do ator no cinema para dimensionar seu legado e permitir que se expresse por meio de seus personagens. É um recurso bonito e que revela esmero e carinho gigantescos por parte dos realizadores com o seu biografado.

“Eu procurei a Vania (Catani, da produtora Bananeira Filmes), com quem eu já tinha trabalhado, e eu sabia que ela era amiga do Paulo, para falar que queria fazer um filme sobre ele”, conta Ribeiro. “Foi aí que ela me apresentou o Rodrigo que também já tentava fazer um filme sobre ele e não conseguia”.

Os filmes de Paulo José que constam de
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Os filmes de Paulo José que constam de "Todos os Paulos do Mundo"

A persistência de Rodrigo, Gustavo e Vânia rendeu um belo fruto. A produtora é amiga pessoal de Paulo José há mais de 20 anos. “É quase família”, situa Ribeiro. Ela possibilitou um acesso ao ator que tornou toda a experiência mais palatável. “A gente gravou dois dias com ele. Quando a montagem já estava bastante avançada”.

Ribeiro conta que o ator foi extremamente generoso em todo o processo. “Nós mostramos um corte bastante avançado para ele e ele nos deu uma folha com anotações. Às vezes a gente mexia, às vezes não. Ele foi muito generoso e não fez nenhuma exigência. Nós é que discutíamos entre a gente se era pertinente mudar algo ou não”.

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Em busca de Paulo José

Cena do documentário
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Cena do documentário "Todos os Paulos do Mundo", que estreia nesta quinta-feira (10)

A voz de Paulo José surge múltipla no documentário. Colaboradores da vida e da carreira leem manifestações do ator ao longo da vida que convergem com os registros visuais. É um trabalho de lapidação muito cuidadoso e detalhista e que recebeu de gente como Fernanda Montenegro , Selton Mello e os filhos Paulo Caruso, Bel, Ana e Clara Kutner devoção equivalente. Eles e outros admiradores de Paulo José narram falas extraídas de sua autobiografia publicada na coleção Aplauso e em entrevistas a revistas e jornais.

Esse esforço tanto criativo como de garimpagem não só presta enternecida homenagem ao grande ator, como revela o pensador contumaz e crítico que é Paulo José. Indubitavelmente esse é um ganho muito particular do documentário e da proposta bancada pelos diretores.

Por outro lado, “Todos os Paulos do Mundo” desperta uma apreensão em quem se deixa abundar pelo talento de Paulo José. O que será do cinema depois dele? Quais são os candidatos a ocupar o espaço de “melhor ator do cinema brasileiro”? Hesitante, Ribeiro faz a ressalva de que não estar a ofender ou questionar qualquer ator, mas defende ser difícil fazer um apontamento nesse sentido.

Paulo José: Que ator pode ser expressado por meio dos seus personagens?
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Paulo José: Que ator pode ser expressado por meio dos seus personagens?

Para ele, Paulo José vem de uma geração muito culta, que estudava muito cinema e muito teatro. Que lia Brecht e Sartre e isso hoje é muito raro. “Acho que hoje em dia isso se perdeu um pouco. A coisa ficou muito restrista à fama. Ao mesmo tempo, o Paulo e a Dina (Sfat, esposa do ator entre 1965 e 1980) eram o casal celebridade da Globo nos anos 60 e 70”, pondera.

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O diagnóstico de Ribeiro é, com todas as suas escusas, eloquente da singularidade de Paulo José e de um momento de inflexão do cinema brasileiro. “Essa turma que aparece no filme. O Selton, a Marina (Ximenes) e o Matheus Nachtergaele são bons representantes desse legado do Paulo”, reflete o diretor. Não à toa, foram atores que beberam da fonte do que de melhor nosso cinema já apresentou.  “Todos os Paulos do Mundo”,  como se já não lhe sobrassem predicados, em um contexto histórico, pode ser o retrato desse movimento.

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