Ainda que o samba tenha acompanhado a vida de Lei Di Dai, que cresceu em uma família tradicional sambista da zona leste, foi por meio do dancehall que a artista encontrou o seu lugar na música . A cantora entrou em contato com o sound system nos anos 90, mas foi só na virada do século que ela se associou de verdade ao gênero musical. De lá para cá, diversas pontes foram construídas e a paulista acabou sendo coroada como a Rainha do Dancehall Ragga no Brasil. Em entrevista ao iG Gente , Lei Di Dai relembrou um pouco sua trajetória, que agora ganha um ingrediente especial: o coletivo GRRRL.

Lei Di Dai foi consagrada como a Rainha do Dancehall Ragga no Brasil
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Lei Di Dai foi consagrada como a Rainha do Dancehall Ragga no Brasil

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“O dancehall foi a base na minha vida porque mudou totalmente o meu ponto de vista musical”, conta Lei Di Dai . “Foi uma liberdade musical muito grande. Depois de entrar no universo do dancehall me sinto livre. Falo o que eu quero, faço o que eu quero, tenho minha própria linha de produção. É uma coisa bem libertária”, completa a cantora.

Apesar de ainda não ser tão disseminado no Brasil, a cantora vê o crescimento do ritmo no país e leva como missão a divulgação dessa cultura para mais pessoas.

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Com o projeto “Gueto Pro Gueto”, lançado em 2012, Lei Di Dai promovia festas, arte, música e toda uma cultura nas ruas das periferias de São Paulo com um grande enfoque no ritmo. “O danchall mudou minha vida, me ensinou e inspirou. Tudo gira em torno dele”, comenta. “A minha grande felicidade é que tenho um grande nome e levo para todos os lugares. Eu sou eu fico muito feliz de ser mulher e ter essa visibilidade bacana”, completa a cantora que, desde então, tem alçado grandes voos pelo mundo invadindo inclusive a Europa, onde o gênero é bastante conhecido.

Uma caminhada por Londres

Cena de
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Cena de "Fox In Da Street"

Com o seu mais recente lançamento, o clipe Fox In Da Street , gravado na cidade de Londres, Inglaterra, Lei Di Dai comemora não só o sucesso da produção como também a oportunidade de gravar o seu próximo disco no País – que ainda conta com um minidocumentário. “Londres é como a minha terra. A Inglaterra colonizou a Jamaica então lá é um lugar que tem muitas comunidades jamaicanas, onde é possível encontrar diferentes artista de reggae, produtores de dancehall e uma cultura bem rica”, explica a cantora.

A conexão com a cidade, por sua vez, já foi apresentada anteriormente, com o videoclipe de Shine , que também foi gravado pelas ruas da capital britânica. “A maior parte do meu novo disco foi gravado por lá e deve chegar em agosto no Brasil”, adianta. “O legal de fazer esse disco foram as parcerias. Eu conheci diferentes sounds e me deu visibilidade pra uma galera trabalhar comigo e deu sorte pra ter carreira internacional”, completa a cantora.

Para ela, a realização do disco na cidade rendeu bons frutos. “Fiquei finalizando o disco e foi uma experiência maravilhosa porque muitos caras que eu sou fã fizeram o disco ali em Londres e aquele rolê de estar sentindo mesmo a cidade, as pessoas, vendo como fazer música dá liberdade é um dispositivo dançante”, explica. Para ela, a cidade relembra muito a sua terra natal, São Paulo, por conta da característica urbana e multicultural que ambas apresentam.

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Música fluindo por Lei Di Dai

Não foi apenas a presença em Londres que fez com que Lei Di Dai tivesse uma experiência especial nesta temporada. Para o seu quarto disco, a cantora deixou o som fluir pelas conversas com outros artistas e pelas suas próprias veias vibrantes por dancehall. “Antes era uma coisa bem pensada e esse disco não, é bem sincero, instantâneo. Eu entrava o beat no carro e falava ‘hoje quero falar sobre determinado tema’. A música veio natural”, conta.

“E isso é bacana, me trouxe esse lado compositora que eu gosto muito. Foi bacana para os caras entenderem que o dancehall é universal, as pessoas se conectam através da música e tem uma linguagem universal que faz a gente se conectar”, completa a cantora, relembrando que sua espontaneidade gerou admiração dos seus colegas em Londres.

Mais mulheres

O projeto integra oito mulheres de diferentes nacionalidades
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O projeto integra oito mulheres de diferentes nacionalidades

Entretanto, não é apenas na carreira solo que Lei Di Dai vem se focando nos últimos anos. Em 2016, a cantora ingressou no coletivo GRRRL. A iniciativa veio com a proposta de colocar em evidência as mulheres da música eletrônica ao redor do mundo, contando por meio da música as suas histórias coletivas de vida, conflito, desigualdade e mudanças.

Ao todo, são oito artistas de oito países diferentes. Speech Debelle, Mercury Prize 2009; Awa  Khiwe (African Women Arise) rapper do Zimbábue; a rainha do dancehall brasileiro Lei Di Dai; a cantora e compositora afro-ganesa Noella Wiyaala - que canta em seus dialetos nativos de Sissala e Waale e também em inglês; Sohini Alam, vocalista do Bangladesh; a artista, produtora, cantora e DJ britânica Afrodeutsche e a cantora e compositora de Jazz Nono Nkoane, de Cape Town.

“A iniciativa foi da AIPU, uma organização que se preocupa com artistas de países subdesenvolvidos. O grande lance foi em 2016 quando fiz uma turnê na Europa e me convidaram para participar”, conta. “Só trabalham mulheres na produção e dentro da equipe. Foi bom participar do projeto porque foi a oportunidade de conhecer gente de outros lugares”, explica.

Para ela, a música é uma ferramenta transformadora. “Estar ali é uma sensação de liberdade e com pessoas que estão no mesmo propósito que eu, me incentiva a continuar fazendo música. Isso é muito significativo para que a gente continue a fazer música sincera, que vem do coração”, afirma.

Entrando em turnê na última quinta-feira (05) com o coletivo, Lei Di Dai revela que passar tanto tempo com outras mulheres do mesmo âmbito gerou bastante aprendizado. “O meu maior aprendizado foi com essa convivência com outras mulheres da música. E também ver que nós brasileiros temos uma importância, somos queridos em qualquer lugar”, comenta. A turnê com o coletivo, por outro lado, é uma oportunidade de Lei Di Dai divulgar o seu trabalho, já que ela é a responsável pela a abertura dos shows – pelo menos nesta turnê.

Para ela, o trabalho internacional é algo positivo, mas as suas raízes no Brasil não são esquecidas: “é muito louco porque as pessoas não querem me ouvir cantando em inglês e sim em português”, comenta. A cantora passará por Londres na próxima terça-feira (10) com o GRRRL e depois ainda terá mais três shows na Austrália ainda este mês. Depois da turnê, vem a divulgação do seu novo disco, que desta vez terá shows no Brasil e exterior.

“Eu me inspiro muito em artistas como General Levy, Barrington Levy , que continuam fazendo dancehall de qualidade porque a música não é apenas da juventude,  é da vivência”, opina. “Quanto mais você ouve dancehall mais você fica vivo. Eu sei que vou continuar velhinha fazendo isso”, prevê Lei Di Dai.

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