Ao sintonizar nas rádios no início dos anos 2000, Anthony Kiedis frequentemente aparecia cantando sobre enfrentar uma longa fila para assistir a um show à noite. A canção pode ainda ter a sua validade nos shows do Red Hot Chili Peppers mundo afora, mas no Lollapalooza, os fãs trocaram as calçadas ardentes pelo frescor gramado e, aqueles mais fanáticos, resolveram agarrar-se durante o dia inteiro nas grades do palco Budweiser para esperar a grande atração da noite desta sexta-feira (23) na sétima edição do festival.
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Começando o show com vinte minutos de atraso, o Red Hot Chili Peppers tinha um grande desafio: cativar o público brasileiro que, há menos de seis meses, assistia a performance da banda californiana no Rock in Rio. Os primeiros acordes instrumentais aqueciam o que viria mais tarde – e o título da canção, Can’t Stop , já anunciava que o show a seguir seria realmente incontrolável.
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Os holofotes logo se voltam para o baixista Flea , que impôs a sua espontaneidade em jogo, fazendo o público enlouquecer com os seus dedos de fogo e soltar grandes risadas pelas suas loucuras em cima do palco. As primeiras músicas remontaram os primeiros sucessos da banda que a tornaram um clássico do rock, como Otherside e Snow (Hey Oh) , canções que ecoaram pelo Autódromo de Interlagos com toda a força. Entretanto, o setlist não continuou nostálgico e recentes hits, como Dark necessities lançado em 2016, fizeram o público sair do chão.
Como se estivessem visitando a casa dos seus velhos amigos, Josh Klinghoffer , o guitarrista da banda, soltou o verbo no português, fazendo um cover de Menina Mulher da Pele Preta de Jorge Ben Jor, fazendo com que as câmeras logo aparecessem entre o público para registrar aquele momento de intimidade que estava se criando com os brasileiros. Os aparelhos se mantiveram mais tarde, para Californication , uma das canções mais icônicas da banda.
Foram poucas as vezes que a banda parou para falar com o público, deixando esses raros momentos para agradecer a audiência ou soltar uma história dos tempos antigos. Quase sem nenhuma interação, a tentativa de se aproximar da plateia se dava por meio da música, o único idioma que liga todo o público do Lollapalooza em seus diferentes estilos. Assim, o brasileiro Mauro Refosco, que trabalhou com a banda no disco "I´m With You" em 2010, foi convidado a subir no palco para a canção Hump De Bump e fazer participação especial na percursão, levando o público ao delírio.
O bis era certo, mas o momento de tensão pela ausência de Give It Away , canção comumente cantada no final do show da banda, se fazia no ar. O retorno energético fez Flea entrar no palco de ponta cabeça e o público, que ocupava todo o gramado – inclusive os morros ao lado – saiu do chão sabendo que ali estava a despedida daquela grande reencontro.
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Sempre com a proposta de fazer um show despojado, o Red Hot Chili Peppers mostrou que ainda possui a vitalidade e a capacidade de cativar um público que, aparentemente, não está saturado das andanças do grupo pelo Brasil. A ameaça de chuva para o primeiro dia de Lollapalooza não se concretizou, mas os fogos de artifício que encerraram o concerto trouxeram os holofotes para o céu para mais um espetáculo anunciado que o festival só está começando e terminou sua primeira noite com chave de ouro.