Foi um tanto surpreendente quando o nome de Paul Thomas Anderson foi anunciado entre os indicados a melhor diretor. Nem ele nem seu “Trama Fantasma” , que recebeu seis indicações, estavam cotados ao Oscar. Anderson, senhor de um cinema reflexivo, hermético e profundamente reverberante, não faz exatamente o tipo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Ainda assim, ele ostenta pessoalmente oito indicações ao prêmio.
Leia também: Esquisitice de “Trama Fantasma” adorna história de amor e conflito de gêneros
Ele foi ao Oscar pela maioria de seus filmes. Como roteirista por “Vício Inerente” (2015), “Boogie Nights – Prazer Sem Limites” (1997), “Magnólia” (1999) e “Sangue Negro” (2007). Por este último conseguiu a façanha de uma tripla indicação. Além de roteiro, foi nomeado em direção e produção. Por “Trama Fantasma”, Paul Thomas Anderson concorre ao Oscar como produtor e diretor, configurando assim a sétima e oitava nomeação. Por mais cabalístico que possa parecer, sua filmografia ostenta oito longas-metragens. Todos de altíssimo nível.
Leia também: Com humor incômodo, "Eu, Tonya" conta incomum história de 2ª chance desperdiçada
Como pode um cineasta com oito indicações ao Oscar não fazer o tipo da Academia? Justamente porque Anderson é sombrio, rebuscado e pensativo demais para os padrões da premiação. O americano é um gosto adquirido e que a presença tão intensa e inesperada de “Trama Fantasma” no Oscar 2018 sugere que a Academia passa a interiorizar.
Colaborações criativas
A última indicação ao Oscar do astro Tom Cruise foi por um filme do cineasta. Foi por “Magnólia” em 2000. Paul Thomas Anderson é um diretor enamorado de seus atores. Deu a Adam Salnder aquele que ainda persiste como seu melhor momento como ator em “Embriagado de Amor” (2002) e costuma repetir parcerias com seus atores. Foi assim com Philip Seymour Hoffman (“Boogie Nights”, “Embriagado de Amor”, “Magnólia” e “O Mestre”), Joaquin Phoenix (“O Mestre” e “Vício Inerente”) e Daniel Day Lewis (“Sangue Negro” e “Trama Fantasma”).
Alguns de seus filmes pensam a América por uma ótica totalmente inusitada e subversiva. Em “Boogie Nights” ele se vira para a indústria pornográfica, enquanto que em “O Mestre” para a ascensão da Cientologia e o peso da religião na vida em sociedade. “Sangue Negro”, por seu turno, é uma parábola inquietante sobre poder e fala do jogo nocivo pela exploração de petróleo. No lisérgico “Vício Inerente”, ele vai fundo na cultura hippie de uma América cínica e chapada.
Leia também: Com filmografia pop, Chistopher Nolan tem primeira chance no Oscar de direção
O método de direção é fluente e fluído. No entanto, os personagens e o humor, totalmente côncavo e inesperado, são sempre peças-chaves de seus filmes. Paul Thomas Anderson é um autor formal. Escreve, dirige e produz seus filmes, todos elaborações criativas e cheias de reminiscências sobre a vida e o cinema. Ele não é o favorito e já se acostumou com a carapuça, mas seu cinema será muito mais longevo em tempos memoriais do que o de muitos de seus contemporâneos, que gozam de favoritismo ocasional.