Deve ser anunciada nesta quinta-feira (14) uma das aquisições mais transformadoras da história de Hollywood e que deve gerar profundas ramificações no cinema, enquanto arte, mas também negócio. A compra da Fox pela Disney deve movimentar cerca de US$ 60 bilhões. A compra não seria total. Segundo fontes da Bloomberg, a aquisição se limitaria ao estúdio de cinema, suas propriedades intelectuais, à divisão de entretenimento do grupo (FX, National Geographic, FOX, etc) e 22 canais à cabo regionais de esportes. A família Murdoch manteria o controle sobre a divisão de jornalismo (Além da FOX News, a família controla o Wall Street Journal), e a divisão de esportes – vale lembrar que a empresa do Mickey Mouse já controla a ESPN.
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Enquanto muitos comemoram a possibilidade de ver os X-Men juntos aos vingadores, o mercado se questiona o que essa fusão pode significar. Na prática um dos seis grandes estúdios de Hollywood vai desaparecer? A Disney notabilizou-se nos últimos anos por se movimentar agressivamente no mercado. A empresa comprou a Pixar e a Marvel na década passada e a LucasFilm em 2012. Ao incorporar a FOX ela se movimenta para neutralizar outro player no ascendente mercado do streaming: a Netflix.
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Recentemente, a empresa atualmente comandada por Bob Iger anunciou que irá lançar uma plataforma de streaming. Primeiro nos EUA, depois no restante do mundo. As propriedades da Disney, portanto, deixariam de ser licenciadas para a Netflix. Ao incorporar todo o conteúdo da FOX, a Disney afeta severamente o portfólio da Netflix em um momento de natural desequilíbrio com a ascensão de um novo rival.
Há, claro, a expectativa de como o Departamento de Justiça dos EUA, sob a guarida de Donald Trump, irá encarar o negócio. O órgão tem sido resistente à já consolidada fusão da Time Warner com a AT&T. Precavida, a Disney deve elaborar um acordo para impedir a ânsia castradora do órgão antitruste norte-americano.
A natureza do acordo entre Disney e FOX, que ainda não é oficial, ainda será destrinchada (e muito) nos próximos dias. Mas de imediato já é possível apontar duas consequências danosas para o cinema. A primeira é o fato da família Murdoch, que construiu um império de comunicação, ao se desfazer de sua divisão de entretenimento indicar que com a ascensão do streaming apostar no cinema é mau negócio. Disney e Netflix devem ditar no médio prazo como esse mercado irá se organizar.
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A segunda consequência é mais sutil. O monopólio da Disney sobre as principais franquias cinematográficas é deverás perturbador para quem deseja bons filmes desapegados de fórmulas. A Fox, que conquistou 27 indicações ao Globo de Ouro na última segunda-feira (11), é quem melhor tem trabalhado os super-heróis – esse gênero onipresente – no cinema. Ainda que a Disney ganhe mais dinheiro com eles. O braço independente do estúdio, a Fox Searchlight, aposta em filmes que a Disney não faz há muito tempo. E essa é só a ponta do iceberg.
A questão mais premente neste cenário é se FOX e Fox Searchlight manterão autonomia operacional em relação à Disney. A experiência com a LucasFilm não permite otimismo. No entanto, a movimentação da gigante do entretenimento pode, pelo menos no curto prazo, atender a interesses meramente circunstanciais. Esses seriam robustecer o universo cinematográfico Marvel e oferecer musculatura a sua plataforma de streaming que deve chegar em 2019. De todo modo, as possibilidades ensejadas pelo negócio são muitas. Todas muito boas para Disney, não necessariamente entusiasmantes para todos os outros.