Um vilão com o plano de destruir o mundo ou submeter todos à sua vontade tem um objeto em sua posse para ajudá-lo. Um grupo de pessoas com habilidades especiais, unidas propositalmente ou sem querer, percebe que precisa impedir que esse objeto continue nas mãos do vilão. Ocorre uma luta onde eles quase conseguem o que querem, mas não chegam lá. Aí, essas pessoas entram em conflito consigo mesmas ou entre o grupo e parece que as coisas vão dar errado. O vilão , por sua vez, segue seu plano maligno e, qualquer que seja o conflito dessas pessoas, elas terão que se unir de vez para derrota-lo no final, em uma épica batalha que, até o último segundo, parece que será perdida. A história parece familiar? É porque essa é a premissa de basicamente todos os filmes da Marvel desde “Homem de Ferro” e a criação do Universo Cinematográfico da Marvel .
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Esse esquema gerou o conceito de “Fórmula Marvel ”, que significa que o estúdio, independentemente da história, mantém o mesmo estilo em todos os seus filmes. E dá certo. A cada novo lançamento, a bilheteria dos filmes aumenta. Por outro lado, 17 filmes depois, talvez essa ideia esteja cansada e pare de impressionar. Inovar não é exatamente o forte do estúdio. Edgar Wright, por exemplo, não deu certo em “ Homem-Formiga ” justamente porque tinha planos muito específicos para o longa, que não necessariamente seguiam a “ fórmula ”. Taika Waititi chega mais perto de uma história mais autoral em “Thor: Ragnarok”, mas a conhecida estrutura continua lá.
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Cheio de graça
Uma das características desse universo compartilhado, muito forte em todos os filmes é o humor . Seja por conta do conteúdo existente nos quadrinhos ou simplesmente para fugir da estética obscura tanto de Christopher Nolan quanto de Zack Snyder na DC , os filmes da Marvel se prendem fortemente no humor, seja de um super-herói tirando sarro de outro, ou em momentos inconvenientes (Loki se fingindo de Capitão América em “Thor: O Mundo Sombrio” ou o Senhor das Estrelas chamando Ronan para uma batalha de dança em “Guardiões da Galáxia”).
Não há nenhum problema em ter um filme divertido, claro que não. Mas, ao diminuir o aspecto dramático da história, diminui também a história em si. “ Doutor Estranho ”, por exemplo, perde um pouco da força narrativa ao inserir esse humor no mundo místico. O longa, por sinal, é uma boa mostra de como a fórmula pode engessar um filme. Com uma história mística e razoavelmente desconhecida para quem não está familiarizado com os quadrinhos, o filme perde a oportunidade de explorar essa realidade ao explicar cada detalhe do que está acontecendo em cena, em meio as tais piadinhas, que diminuem o aspecto fantasioso.
Feige, o nome é Kevin Feige
A fórmula não passa de uma ideia muito bem planejada por Kevin Feige que, sem o direito de alguns dos principais heróis da Casa das Ideias, como o Homem-Aranha e os Mutantes, desenvolveu um projeto para apresentar personagens menos conhecidos dos não fãs de quadrinhos e os incluiu em um mesmo universo, para que pudessem se unir em outros filmes. Feige tem tido muito êxito nessa empreitada, mas seu principal teste ainda está por vir em 2018, quando “Vingadores: Guerra Infinita” unir todos esses mundos, de “Doutor Estranho” e “Guardiões da Galáxia” a “Pantera Negra” e “ Capitão América ”.
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Com tanta gente em um mesmo filme (os diretores Joel e Anthony Russo já declararam que o filme terá cerca de 60 personagens), é de se esperar que a tal fórmula, que deu tão certo até agora, continuará em marcha. Mas, como fica dali em diante? Ryan Coogler na direção de “Pantera Negra” e “Capitã Marvel” iniciam uma nova fase na Marvel , que poderiam também apostar em filmes mais autorais. Mas, para saber se essa fórmula está atingindo seu limite, é importante pensar em alguns aspectos: além de Kevin Feige, que tem tudo planejado, cronometrado e sincronizado, existe o público. Esse “esquema” de Feige segue dando certo por que continua agradando o público a cada filme, e esse é um grande motivador das coisas permaneceram como estão. . Para se ter uma ideia, sem contar com o estreante “Thor: Ragnarok”, os filmes da Marvel Studios já fizeram US$ 12 bilhões de bilheteria ao redor do mundo.
A fórmula do sucesso
Fala sério: você consegue lembrar cada cena de perseguição de cada filme, ou em determinado momento fica difícil lembrar em qual deles o Capitão América e o Homem de Ferro entraram em conflito, ou quando Natasha Romanov teve seu passado usado contra si? Ou quando o personagem principal começou a duvidar de si mesmo ou foi levado a isso pelo antagonista?
Alguns diretores conseguem oferecer personalidades mais distintas para seus filmes. James Gunn deu uma cara nova para os heróis em “ Guardiões da Galáxia ”, mas os elementos estão lá: uma pedra poderosa que pode destruir tudo se cair em mãos erradas, um grupo de desconhecidos que se une pelo mesmo motivo, as piadas no meio dos momentos tensos. Em alguns casos, o conflito entre personagens dura até mais de um filme. “Capitão América: Guerra Civil” mostra a derradeira “separação” entre Steve Rogers e Tony Stark, mas sabemos que eles voltarão a se unir em “Guerra Infinita”.
Desde que viu o potencial que tinha em mãos com “ Homem de Ferro ”, ajudado pela presença marcante de Robert Downey Jr ., o estúdio tem “surfado” nessa onda. Mas, como aconteceram com outros estilos (os faroestes, por exemplo), essa familiaridade ou repetição pode cansar. Cabe a Marvel se antecipar a isso e dar mais asas a imaginação.
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