“Da inocência para a experiência”. Essa é a ideia que o U2 quis passar entre seu álbum anterior, “Songs of Innocence”, de 2014, para “ Songs of Experience ”, laçado na última sexta-feira (01). De fato, foi muito inocente (ou megalomaníaco) da banda acreditar que todo mundo que tem um iPhone automaticamente gostaria de ter um álbum do grupo em seu celular. Mas, os tempos de inocência acabaram e o novo trabalho da banda mostra que, mesmo com mais de 40 anos de estrada, eles seguem dispostos a aprender.
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O U2 descobriu, lá pelo começo dos anos 2000 que era mais pop do que qualquer outra coisa. E, desde então, vem mostrando faixas e discos que deixam isso bem claro. “ All That You Can’t Live Behind ”, de 2000 abriu as portas para músicas como “ Beaultiful Day ”, “ Elevation ” e “ Stuck In a Moment You Can’t Get Out Of” , que trouxeram um novo fôlego e uma nova cara para a banda. Agora, em “Experience”, eles mostram que aprenderam a lição: o disco não se propõe a resignificar, requalificar, ou até mesmo mudar o “status” do U2, mas sim resgatar todo o que de melhor aprenderam nos últimos 17 anos. E está lá. Está em “ You’re The Best Thing About Me ”, balada feita para os shows em estádio (e que funcionou muito bem quando incluída no setlist da recente turnê da banda). Está em “ The Little Things That Give You Away ”, com os riffs de guitarra e a segunda voz característicos de The Edge .
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Mas o disco também tem momentos de inovação. A parceria com o rapper Kendrick Lamar fez muito bem a banda. O “casamento” começou em abril no disco do rapper, que gerou muita curiosidade na época no lançamento ao anunciar a parceria com os irlandeses. “ XXX. ” é uma boa surpresa de “DAMN.”, e rendeu mais algumas participações. “Get Out Of Your Own Way”, outra faixa bem “U2”, ganhou um sermão do rapper que emenda o começo de “ American Soul ”, uma das faixas mais rock n’ roll da banda em anos.
Igual, mas diferente
“Songs of Experience” tem diversos produtores, de Steve Lillywhite, colaborador de longa data do U2, a Ryan Tedder, mais conhecido como vocalista do One Republic . Essa mistura de produtores (ao todo são cinco) é o ponto mais forte e fraco do disco. Forte por que permitiu que a banda investisse em músicas mais inventivas, como “ The Snowman ” e “ Red Flag Day ”, fraco por que criou invenções desnecessárias e completamente deslocadas como em “ Love Is All That We Have Left ” que abre o disco e começa ótima, até que Bono decide incluir Auto-Tune no vocal, estragando o que poderia ser a música mais bonita do álbum.
Espaço para todos
O disco abre mais espaço para Larry Mullen Jr. também. O baterista e fundador do U2 costuma ter presença mais discreta, frente a guitarra de Edge e a onipresença de Bono, mas seu som é mais consistente e mais inventivo no novo álbum.
Um pouco de tudo
Como uma coleção do melhor dos últimos 17 anos de U2, “Songs of Experience” não é para principiantes. Difícil alguém que não conheça e goste da banda se identificar com esse trabalho. Essa função fica justamente para quem viu (ou melhor, ouviu), a carreira do U2 até agora.
Parece besteira dizer que o U2 está confiante. A banda dona de alguns dos maiores discos da história deveria já ser confiante. Mas “Songs of Experience” mostra que Bono, Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton não têm medo de olhar para trás, consertar os erros e visualizar um futuro mais experiente. Eles encerram o disco declarando que essa é uma música para alguém. “Alguém como eu”, diz Bono. Pois ao fazer o disco que ele gostaria de ouvir, ele fez também o disco que os fãs esperavam.
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