Depois de cinco anos longe do mundo da música, Eminem está prestes a lançar o seu 9º álbum, intitulado “Revival”. O rapper que não lançava nada há alguns anos uniu forças com o seu colega de eras, Dr. Dre, para produzir esse novo trabalho que prometia marcar o seu retorno – e renascimento, como sugere o título da obra – com a força toda. O primeiro single, portanto, tinha o papel de fazer esse passagem e ninguém melhor que a cantora Beyoncé , que têm ascendido como uma das grandes divas da música, para impulsionar o projeto. Foi no dia 10 de novembro, portanto, que o primeiro single, Walk On Water foi lançado, e chegou a abrir o EMA (Europe Music Awards) da MTV dois dias depois. Entretanto, apesar do triunfo, parece que as coisas não saíram como o planejado e, ao que tudo indica, a música acabou não pegando.
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A música de Eminem chegou a estrear em 14º lugar na Billboard Hot 100 e ingressar o topo da lista das 50 mais tocadas no mundo do Spotify. Entretanto, de lá pra cá, a posição da canção no serviço de streaming só tem caído, podendo, em breve, inclusive sair da lista. Para quem acompanha o rapper de perto, também percebeu que o single que era descrito como o primeiro trabalho de “Revival” no site oficial na realidade perdeu esse patamar, sendo apenas classificada como uma música de retorno do cantor.
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Diferentemente dos antigos hits de Eminem, a nova música mostra um lado mais vulnerável do rapper, que sempre esteve envolvido em diversas polêmicas e controversas por conta das suas letras ácidas. Na canção, o rapper questiona o padrão alto que impôs para si mesmo enquanto artista e como é difícil alcança-lo, chegando a afirmar que o aclamado disco “The Marshall Mathers LP”, lançado em 2000, tenha o amaldiçoado. “Porque eu sou só um humano, assim como você”, declara. Entretanto, no fim do single, o rapper afirma: “mas enquanto eu tiver um microfone, eu sou divino. Então eu e você não somos iguais. Vadia, eu escrevi Stan ”, sendo talvez o único momento da canção que é possível reconhece-lo.
Uma parceria de sucesso?
Apesar da estreia da canção ter atingido uma boa colocação, o número desaponta quando nos voltamos aos trabalhos de Beyoncé. Trazendo um nome de peso para a música, o esperado era que a música atingisse um patamar que contemplasse a posição conquistada pela cantora no ano passado, que teve o seu último álbum “Lemonade” (2016) ocupando a primeira posição na Billboard 200, além de uma recepção da crítica muito bem avaliada. Segundo o cantor, em entrevista à radio Shade 45 dos Estados Unidos, é exatamente por esse grande sucesso que ele acabou escolhendo a cantora para a parceria, porque, para ele, a letra do single também seria muito próxima da realidade da cantora. “Eu disse a ela: ‘eu nunca vi você cometer um erro antes, nunca’”, contou.
Mas com tamanhas perfeições unidas, como pode ter o single flopado? Eminem, que já tem quase 30 anos de carreira traz uma temática que já não faz tanto sentido: a de ser humano e, além disso, que ser humano é um jogo duro. O discurso parece não encaixar no seu trabalho de um artista que nunca teve receio de exibir sua vida paradoxal, abordando não só a conturbada relação com a sua ex-mulher Kim Mathers ou sua filha Hailie mas também as próprias controversas do mundo da fama, como Lose Yourself, When I’m Gone e The Real Slim Shady já mostravam. Além disso, o tom melódico da canção afasta o cantor da própria imagem que ele criou de si nos últimos anos, fazendo com que a canção parecesse muito mais a conclusão de um disco do que, de fato, o início de um.
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Walk on Water não pegou muito para o público que tinha altas expectativas para um rapper que, recentemente, chegou a confrontar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump em um freestyle no BET Hip-Hop Awards falando da polêmica sobre o controle de armas nos Estados Unidos, de racismo e da falta de apoio às vítimas de desastres naturais no Caribe, confrontando até mesmo os próprios fãs que apoiam o atual presidente. A imprensa nacional e internacional, por sua vez, acabou deixando passar o single, colocando a canção no esquecimento depois do lançamento – e o próprio rapper deixou de promovê-la.
Talvez o “Revival” realmente tenha uma potencia que ficou resguardada durante cinco anos e a escolha da canção como single foi apenas um erro humano que Eminem tenha cometido. Ou talvez não. A resposta só virá com o lançamento do álbum que, se não houver mais mudanças no percurso, chega em dezembro.