É justo dizer que se Sylvester Stallone nasceu para interpretar Rocky Balboa e Arnold Schwarzenegger é o exterminador do futuro em pessoa, que Jon Bernthal nasceu para ser o Justiceiro. O personagem já havia sido defendido no cinema por três outros atores, o sueco Dolph Lundgren e os americanos Thomas Janes e Ray Stevenson, mas quando Bernthal surgiu na pele de Frank Castle na segunda temporada de “Demolidor” não ficou pedra sobre pedra. Estávamos diante do Justiceiro definitivo.
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Era questão de tempo até a Netflix confirmar uma série solo do personagem que roubou a cena e respondeu em grande parte pela qualidade do segundo ano da série do demônio de Hell´s Kitchen. Outro paradigma foi quebrado para a série protagonizada por Jon Bernthal ser lançada em 17 de novembro. A Netflix reviu seu posicionamento de só lançar duas séries da parceria com a Marvel por ano. Depois de “Punho de Ferro” e “Defensores”, “O Justiceiro” fecha a safra de 2017 com chave de ouro.
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Bernthal não é necessariamente um grande ator, de muitos recursos dramáticos, mas é dotado de um tremendo carisma, uma presença de cena robusta e uma energia incomum. É também, um dínamo dramático. É impossível não acreditar nele como ator. Uma característica que foge ao universo dos atores de ação, mas que chamou atenção de importantes realizadores. Não à toa, sempre que se experimenta pelo cinema, Bernthal consegue um lugar ao sol em bons projetos. Foi coadjuvante de luxo em filmes como “O Lobo de Wall Street” (2013), “Sicario: Terra de Ninguém” (2015), “O Contador” (2016), “Terra Selvagem” (2017) e “Em Ritmo de Fuga” (2017).
“O Justiceiro”, claro, representa a guinada na carreira de um ator que sempre trabalhou duro por ela. A primeira vez que Bernthal chamou a atenção foi como Shane de “The Walking Dead”, o amigo convertido em antagonista de Rick Grimes (Andrew Lincoln). Ali o ator preencheu muito bem os requisitos de um personagem complexo e de sutil abordagem, ainda que fosse um homem bruto e simplista. Não à toa, o criador Frank Darabont o escalou para ser o protagonista da série limitada “Mob City” (2013).
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São muitas as razões para Bernthal ser o casting ideal para Frank Castle. Seu talento para incorporar urgência e desilusão salta aos olhos. Não à toa grande parte de seus personagens detêm esses traços. Outra característica salutar na seara dos atores que habitam o universo da ação é seu jeito peculiar para compor tipos cascudos e com um código de honra próprio. Produções como “Corações de Ferro” (2014), “Ajuste de Contas” (2013) e “O Acordo” (2013) se beneficiam disso.
Com o Justiceiro, um personagem complexo e cheio de reminiscências para serem exploradas, o ator tem uma chance de ouro para trabalhar sua musculatura dramática e ele se sai muito bem na tarefa. Além do ar soturno e carrancudo, Jon Bernthal dá a Castle uma melancolia profunda e reverberante. É um trabalho com inesperada capilaridade para uma série que mira antes o mero entretenimento do que qualquer outra coisa.