Não foram poucas as tentativas de levar as heroínas dos quadrinhos para as telonas ou telinhas. A Mulher-Maravilha quase ganhou uma série em 2011 que acabou cancelada antes mesmo da estreia, “Elektra” foi um fracasso de bilheteria e a Mulher-Gato nunca fez sucesso por conta própria. Não dá para dizer, porém, que essas personagens não deram certo. A Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer é constantemente lembrada como uma das melhores antagonistas da DC nos cinemas, e a Arlequina (Margot Robbie) é um dos poucos pontos altos de “Esquadrão Suicida”, sem contar com a Viúva Negra , figurinha constante nos filmes do universo cinematográfico da Marvel.
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Quando se trata de Marvel , o motivo pelo qual as heroínas nunca tiveram mais chance é óbvio: a empresa é da Disney, e a Disney já tem o público feminino na mão com as suas princesas e, infelizmente, não se deu ao trabalho em pensar “fora da caixa”. Outro aspecto menos óbvio é o fato de nenhum estúdio (Disney ou Warner) investir em mulheres para contar essas histórias. Até que surgiu Patty Jenkins, que chefiaria a sequência de "Thor". A novidade, no entanto, não durou muito e Patty saiu do projeto por “diferenças criativas”. E foi ela mesma que começou o que será o futuro das heroínas nos filmes com “Mulher-Maravilha”, de 2017.
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O longa por si só já é um sucesso, e todas as características que fazem dele um exemplo de empoderamento só o abrilhantam ainda mais. Gal Gadot, que já havia mostrado seu talento em sua pequena participação em “Batman vs Superman”, soube liderar seu filme solo e criar uma personagem justa, divertida e, claro, heroína. O aspecto do “ herói ” importa não só por sua representatividade, mas por que, desde o “boom” de filmes de heróis, é um termo utilizado principalmente para designar homens. Jenkins acabou por fazer história ao ser a primeira diretora a receber um salário tão alto para dirigir um filme (ela está, aparentemente, recebendo cerca de US$ 8 milhões pela sequência da histórias da amazona).
Novos tempos
Muitos culpam a Marvel por não fazer um filme solo da Viúva Negra, interpretada por Scarlett Johansson, mas o problema vai muito além disso. A Marvel nunca pensou que teria uma pressão tão grande para fazer um filme solo dessa personagem por quê, de novo, eles nunca se preocuparam em fazer filmes para um público feminino . A pressão do público, e a concorrência saindo na frente, fez com que eles agilizassem esse processo. Ainda assim, Natasha Romanov não ganhará seu filme solo a essa altura do campeonato, já que o contrato de Scarlett está prestes a acabar e a atriz também não tem grandes interesses em fazer um filme solo. mas o estúdio já aprendeu sua lição e vai investir em novas heroínas no futuro.
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O futuro é feminino
As mulheres continuam sendo ótimas coadjuvantes e, só porque algumas delas tem bons papeis, não significa que precisem necessariamente de um filme solo. Gamora (Zoe Saldana) está ótima em “Guardiões da Galáxia”, mas isso não quer dizer que ela precise de um filme só seu. Mas, se pensarmso nos “ Vingadores ”, por exemplo, todos os personagens principais tiveram seu filme solo antes de se reunirem.
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Algo parecido acontecerá daqui para frente com as mulheres. Um bom exemplo é a " Capitã Marvel " Carol Denvers, que ganhará seu filme solo em 2019, depois de se unir aos Vingadores em “Guerra Infinita” no próximo ano.
Além dela, outro spin-off, dessa vez na Sony, está sendo planejado dentro do Universo do Homem-Aranha. Duas personagens dos quadrinhos que cruzam o caminho do aranha ganharão vida no longa “Silver & Black”. Com previsão de estreia para 2019, o filme trará as personagens Gata Negra e Sabre de Prata.
A Vespa também terá seu momento ao sol ao lado do Homem-Formiga. Hope van Dyne (Evangeline Lilly), que queria vestir a roupa do formiga desde o primeiro filme, agora vai ter seu próprio traje e o nome do título da sequência: “Homem-Formiga e a Vespa”.
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Na DC , a história da Mulher-Maravilha vai muito bem, obrigada! Depois do sucesso de bilheteria do filme em junho deste ano, a heroína virou o centro da divulgação de “ Liga da Justiça ”, que estreia em Novembro. Em meio a todo tipo de boatos, afastamento de Zack Snyder, demissão (ou não de Bem Affleck), foi Diana Price que segurou as pontas, e a antecipação, para o longa dos heróis.
Por fim, um dos poucos acertos de “Esquadrão Suicida”, a Arlequina deveria ganhar um filme solo. Muito especulou-se sobre se seria com ela e o Coringa, ou um compilado das vilãs da DC ou outra coisa, mas, por enquanto, nada foi confirmado. Ainda assim, a personagem é tão forte e interessante que foi a mais cotada a ter um futuro além da confusão do filme de David Ayer.
Além do cinema
Se há um problema em relação a personagens femininas do cinema , ele vai muito além do cinema, e para na indústria mesmo. Afinal, o próprio Capitão América chamou a personagem de Johansson de “vagabunda”, por ter uma relação um pouco mais íntima com mais de um personagem. Em uma entrevista durante a divulgação de “Os Vingadores: Era de Ultron”, Chris Evans e Jeremy Renner (que faz o arqueiro) fizeram graça com a personagem e chamaram de “vagabunda” e “prostituta” e ainda riram da piada. Ambos, depois, divulgaram pedidos de desculpa, mas isso mostra como a cultura dentro do grupo que desenvolve esses personagens para o cinema trata essas personagens. Se os atores a consideram uma “vagabunda”, quais as chances de uma equipe de roteiristas e produtores, quase 100% formada por homens, pensar diferente?
Por isso a mera existência de Patty Jenkins nesse cenário já mostra uma evolução. Daqui para frente teremos Anna Boden como uma das diretoras de “Capitã Marvel” ao lado de Ryan Fleck, e Gina Prince-Bythewood chefiando “Silver & Black”. Jenkins volta para a sequência de “Mulher-Maravilha” e, mesmo que lentamente, vemos uma mudança de panorama acontecendo nos estúdios. O futuro dos heróis nos filmes sempre esteve garantido. Agora, é a vez das mulheres.
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