A escalação do cineasta neozelandês Taika Waititi (“O Que Fazemos nas Sombras” e “A Incrível Aventura de Rick Baker”), a presença de Cate Blanchett como a vilã Hela, a deusa da morte, e os primeiros vídeos promocionais entregando um colorido berrante e um visual retrofuturista com o DNA dos anos 80 fizeram crescer a expectativa de que “Thor: Ragnarok”, terceiro filme solo do Deus do trovão, seria algo diferente do que a Marvel vinha apresentando. Não é o caso.
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Além do visual delirante, que funciona muitíssimo bem, e de um bem-vindo humor nonsense, deixando tudo um grau mais elevado do que estamos habituados em termos de uma produção da Marvel, “Thor: Ragnarok” tem pouco a apresentar fundamentalmente a seu favor. Se Taika decepciona na engrenagem das cenas de ação, acerta ao trabalhar melhor o talento cômico de Chris Hemsworth .
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O que este filme tem de diferente em relação aos filmes anteriores do estúdio é que este realmente parece uma HQ filmada . Um mérito do senso estético de Taika, claro, mas também um indício de que a Marvel já se sente suficientemente à vontade para borrar os limites entre as linguagens da HQ e do cinema. Das participações especiais de Hulk ( Mark Ruffalo ) e Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch), passando pelo caráter episódico da participação de Hela, à presença dos gladiadores de Sakaar, tudo remete a uma história de HQ filmada. Se essa proposta ganha força pelo visual berrante e arrojado, perde potência cinematográfica com conflitos demasiadamente simples e pouco pulsantes para cinema. O clímax periga ser o mais frustrante de todos os filmes do estúdio.
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De toda maneira, esse novo arranjo estético e narrativo é uma opção válida para a Marvel no patamar que o estúdio e seu universo cinematográfico se encontram.
O design de produção é indubitavelmente o que o terceiro “Thor” tem de mais notável a apresentar. É quase tão esfuziante quanto Cate Blanchett em cena. Como Hela, a filha renegada de Odin (Anthony Hopkins), ela surge como a conquistadora de Asgard e logo de cara destrói Mjölnir, o martelo de Thor, que novamente se vê na necessidade de juntar forças ao irmão e Deus da trapaça Loki (o sempre ótimo Tom Hiddleston) para salvar Asgard.
É bem verdade que Chris Hemsworth nunca esteve mais engraçado. Seu Thor está mais para Deadpool do que para Homem de Ferro, ou seja, quase com os dois pés na sátira, mas isso eventualmente mais prejudica o longa do que ajuda, já que “Ragnarok” não ostenta a mesma premissa satírica e cínica de “Deadpool" (2016).
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É certo dizer que “Thor: Ragnarok” é um entretenimento eficiente e, ainda que não seja o filme que poderia ser e que crítica e muitos fãs ansiavam, representa um avanço, mais tímido do que o desejável, para a Marvel no cinema. Para o bem e para o mal, e aí vai depender muito do que o leitor quer ver no cinema, o filme de Taika mostra ser possível a osmose entre HQs e cinema.