Lançada em 2005 com “Batman Begins”, a trilogia do Cavaleiro das Trevas, dirigida pelo cineasta Cristopher Nolan , foi um marco para os filmes de ação – e, sobretudo, os sobre super-heróis. O universo constituído pelos três filmes da franquia tornou-se referência entre fãs das histórias dos quadrinhos e para aqueles que, mesmo passando longe de HQs, são aficionados pela sétima arte, criando um novo paradigma de como são feitas essas adaptações. Suas influências continuam a ecoar na cultura pop mesmo após mais de uma década e até hoje a trilogia ainda é parâmetro quando se fala em filmes de heróis.
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Nascimento de uma era
Seguido de um projeto rejeitado de Joss Whedon sobre o personagem, Christopher Nolan assumiu a tarefa de resgatar, mais uma vez, o Batman nos cinemas – isso porque ao longo dos anos o herói da DC Comics já havia sido foco de diversas produções, inclusive com versões já consagradas, como o filme “ Batman ” de 1989, estrelado por Michael Keaton e Jack Nicholson e dirigido por Tim Burton. O que, então, faria com que a nova roupagem do gênero criada a partir da trilogia do Cavaleiro das Trevas se transformasse quase em um imperativo quando se pensava em adaptações de quadrinhos?
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Saindo do universo “ultra-ficcional” das HQs no cinema , com cenas caricatas que remetiam claramente aos originais em que os limites são infinitos, Nolan buscou imprimir um tom mais realista em seus filmes e criar uma nova linguagem. Não é novidade que determinadas expressões que são canônicas em quadrinhos não funcionam para o cinema – e foi essa percepção do diretor que culminou no sucesso da trilogia, trazendo uma preocupação maior para o tratamento da história em si, não apenas recriando mais uma releitura de versões já contadas. Apesar de se escorar em passagens das HQs, o cineasta criou o próprio filme ao invés de apresentar mais uma vez algo já conhecido.
Como o crítico da revista Preview , Otávio Almeida relembra, Christopher Nolan foi o responsável pelo tratamento mais sério dado aos filmes de heróis. Enquanto, por exemplo, a Marvel inaugurava seu universo expandido com “Homem de Ferro”, “Batman – O Cavaleiro das Trevas” era igualmente cheio de ação, mas com uma grande carga dramática estruturada em torno de dilemas morais vividos pelo personagem. Como Otávio também comentou, a partir desse ponto os próprios atores passaram a ter uma visão mais madura sobre esses filmes que, agora, exigiam maior nível de sofisticação.
Transformação no consumo
A franquia foi uma via de mão dupla nesse aspecto de remodelar o mercado – ela não só mudou a abordagem de Hollywood com os super-heróis, mas também mudou a leitura que o público faria do gênero dali em diante. É indiscutível que há espaço para manifestações de outras formas, como “Guardiões da Galáxia”, por exemplo, mas a trilogia de Batman alterou a percepção que temos acerca desses filmes. Qualquer um que veja hoje os filmes antigos do personagem terá um choque com relação ao que vê: as cenas de ação que, em tese, são o ponto alto desse tipo de produção não vão além de uma comédia pastelão – o que tem seu mérito, mas não está nem próximo do gosto do mainstream atualmente.
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Como superar uma lenda
Se o Batman de Nolan teve grande impacto em como os super-heróis seriam tratados e consumidos dali por diante, sua influência dentro do próprio universo da DC foi imensa: apesar de ser concebido como um sistema hermético com começo, meio e fim, toda a atmosfera dos filmes se estendeu para o universo compartilhado da franquia que seria iniciado em seguida. Lançado apenas um ano depois de “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, o filme “Homem de Aço”, dirigido por Zack Snyder por indicação do próprio idealizador do novo Batman, se alimentou da linguagem criada pelo seu antecessor.
Todas as produções seguintes feitas pela DC na composição do universo são fruto bastardo do trabalho de Christopher Nolan na trilogia do Cavaleiro das Trevas. Utilizando a mesma linguagem sóbria, atmosfera pesada e até mesmo a paleta de cores dos filmes é semelhante a dos longas do homem morcego. O que para alguns é o grande pecado da nova franquia, para outros é justamente o que a torna atrativa, justificando a opção a partir da entonação mais dramática (“adulta”) que os filmes podem ter, sendo um ponto positivo no seu desenvolvimento.
Não apenas a DC, mas toda a indústria de Hollywood tornou-se viúva quando o Cavaleiro das Trevas chegou ao fim e ainda procura um meio de deixá-la para trás. Seja andando ao lado dela, como a Warner está fazendo procurando fórmulas que lembrem a que já conquistou o sucesso – além do clima dos filmes, o estúdio dá sinais de que irá investir em diretores de visão artística, assim como Nolan, que possam enaltecer cada filme separadamente de seu universo – seja olhando para o lado oposto, apostando em linguagens mais leves e comerciais, o fato é que a trilogia do Cavaleiro das Trevas está longe de estar encerrada.