Steven Soderbergh volta de sua aposentadoria fajuta (ele na verdade nunca se afastou do ofício) com um filme divertido e despretensioso, mas que de alguma maneira se conecta com seu espaço-tempo, com uma América que tem Donald Trump na Casa Branca e que parece padecer no desencanto e desalento. “Logan Lucky – Roubo em Família” é tanto um filme de assalto como uma comédia de erros.  O cineasta já havia feito ambos, “Onze Homens e um Segredo” (2001) e “O Desinformante” (2009) são exemplos óbvios em ambas as esferas.

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Adam Driver e Channing Tatum em cena de Logan Lucky
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Adam Driver e Channing Tatum em cena de Logan Lucky

O roteiro de “Logan Lucky” busca referências tanto no cinema dos irmãos Coen, repare no desenho dos personagens, típicos caipiras da Carolina do Norte cheios de crendices e certezas vazias, e no cinema independente americano – há todo um subplot extraído de “Pequena Miss Sunshine” que dá mais força dramática ao protagonista.

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Jimmy Logan ( Channing Tatum ) tinha tudo para ser um astro do futebol americano, mas uma lesão no joelho fez de seu futuro imperfeito. Pobre e endividado, viu sua namoradinha do colégio (Katie Holmes) casar-se com um ricaço local e mesmo alvo do amor incondicional de sua filha (a fofinha Farrah Mackenzie), Jimmy leva uma vida triste e modorrenta. Seu irmão, Clyde (Adam Driver), perdeu a mão na guerra do Iraque e é bartender em um bar local. Clyde credita o infortúnio dos Logan a uma maldição que ronda a família. Há, ainda, Mellie (Riley Keough), a irmã que aparentemente evitou a maldição, mas trabalha em um salão de beleza local e parece insuspeitamente resignada.

Os irmãos Logan resolvem fazer um assalto, mas eles não são assaltantes. O plano, revelado em doses homeopáticas para o público – e com direito a alguns ludíbrios – é surpreendentemente profissional. Mas o filme se mantém dentro de uma espiral de verossimilhança.

Katie Holmes em cena de Logan Lucky, já em cartaz nos cinemas brasileiros
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Katie Holmes em cena de Logan Lucky, já em cartaz nos cinemas brasileiros

O humor é lacônico e Soderbergh sabe trabalhar os ressentimentos dos personagens, de uns com os outros e com eles mesmos, de maneira sutil e fazendo com que o filme ganhe inesperada força dramática. É um recurso de um cineasta que mesmo a serviço da despretensão, se preocupa com seus personagens – não à toa amealha para um filme barato um elenco que ainda dispõe de Daniel Craig (um pouco deslocado), como Joe Bang, um arrombador de cofres inesperadamente articulado, e Hillary Swank, como uma detetive do FBI. Há, ainda, pontas de gente como Seth McFarlane, Katherine Waterson, Sebastian Stan e uma espirituosa piada com “Game of Thrones”.

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Daniel Craig tem carisma, mas sua caracterização de Joe Bang soa deslocada

O filme poderia seguir um caminho mais alternativo, doloroso para os personagens e totalmente anti-hollywoodiano. Soderbergh evita esse caminho, mas sem deixar de optar por um otimismo doído. Em meio a personagens rebuscados em sua caricatura, “Logan Lucky” parece se divertir com sua esquisitice, mas ao abraçar certos clichês renuncia ao filme que poderia ser. Talvez fosse essa liberdade de ir e vir na própria narrativa que Soderbergh estivesse procurando. Seu filme, para o bem ou para o mal, se alinha ao estigma de seu protagonista. É tanto uma sutileza quanto um ato de abnegação da realização e a reiteração do carinho do diretor para com seus personagens.

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