Inflada, Mostra elege tolerância como tema e quer ser defesa da arte no País
A 41ª edição da Mostra Internacional de São Paulo acontece entre os dias 19 de outubro e 1º de novembro e terá 394 títulos disputando a atenção do cinéfilo paulistano. Entre eles, o vencedor da Palma de Ouro, "The Square"
Por Reinaldo Glioche | , iG São Paulo |
“É uma Mostra surpreendentemente forte e maior do que ano passado”, disse Renata de Almeida a uma sala repleta de jornalistas na abertura da apresentação da programação da 41ª edição da Mostra Internacional de São Paulo no sábado (7). Serão 394 filmes na maratona cinéfila que vigorará entre os dias 19 de outubro e 1º de novembro.
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“O orçamento era para 300 filmes”, observa a curadora e organizadora da Mostra , “mas havia certas coisas que nós não podíamos negar”. Renata de Almeida se refere às retrospectivas dos cineastas Georges Schwizgebel, Paul Vecchiali e Agnès Varda, que também receberá o prêmio Humanidade. Mas há outros indícios de uma edição hiperbolizada ou, como bem colocou Almeida, “que a gente ainda faz a Mostra com o coração”.
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O dia do patrimônio do audiovisual virou uma semana. Outra bem-vinda novidade é a chegada da realidade virtual ao evento. Serão 19 curtas na programação com destaque para “Bloodless”, premiado em Veneza, e “Extravaganza”, exibido em Tribeca. Será a primeira vez do Fórum Mostra-Folha que irá discutir nos dias 25,26 e 27 de outubro o cinema pelos vieses criativo, mercadológico e político.
Intersecção de linguagens
Menos pop do que o Festival do Rio, o evento se viu obrigado a se reinventar e a curadoria de Renata de Almeida, que herdou a função do marido Leon Cakoff, se mostra cada vez mais criativa e azeitada. Em 2017 a constatação torna-se evidente no tema preponderante da mostra que o cartaz assinado pelo artista chinês Ai Weiwei já antecipa. “O cinema é uma linguagem que provoca empatia e esse pôster traz isso”, advoga Almeida. O filme de abertura do evento também é assinado pelo chinês.
Trata-se de “Human Flow – Não Existe Lar se Não Há para Onde Ir”. O documentário aborda a crise dos refugiados com cenas e entrevistas que percorrem mais de 22 países. Outros filmes da seleção encampam esse debate proposto pela edição de 2017 tais como “Bem-vindo à Suíça”, de Sabine Gisiger; “Pescadores de corpos”, de Michele Pennetta; “O Outro Lado da Esperança”, de Aki Kaurismaki; “Lutando Através da Noite”, de Sylvain L´Espérance; “Happy End”, de Michael Haneke; e “Além das Palavras”, de Urszula Antoniak.
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Para Claudiney Ferreira, do Itaú Cultural, um dos patrocinadores do evento, a Mostra se firma como um movimento de resistência em um momento que se “criminaliza” a produção artística. “A criminalização da arte é um discurso fácil. Principalmente para quem não tem projeto político.” Na avaliação dele, a mostra tem projetos claros. De formação, de itinerância e de temas. “A Mostra tem essa tradição de trabalhar temas e este ano são os refugiados. Isso é o que seduz a gente enquanto patrocinador”. Victor Costa, do instituto CPFL, faz coro e exalta os “valores de tolerância” do evento e a promoção de “diálogos improváveis”.
Outro elemento vital da programação deste ano é a intersecção de linguagens. “A arte tem que ser livre”, defende Renata de Almeida que lista, além do filme do artista plástico chinês, “24 Frames”, último filme do iraniano Abbas Kiarostami, encerrado por seu filho Ahmad, que virá a São Paulo. Abbas começou a carreira como artista gráfico. Há, ainda a presença de “A Telenovela Errante”, de Raul Ruiz concluído por sua viúva Valeria Sarmiento. Tratam-se de dois filmes que se comunicam com o propósito assumido por Almeida após a partida de Leon.
Ainda na proposta da arte livre e reflexiva das fronteiras, um filme rodado por cineastas do BRICS (países emergentes) será exibido. Em “Where Has Time Gone?” Walter Salles dirige o episódio brasileiro sobre a tragédia de Mariana.
A cereja no bolo de toda essa discussão sobre arte é o vencedor da Palma de Ouro; o sueco “The Square”, afinal, se debruça sobre o universo das artes plásticas.
Outros destaques
Serão 64 produções nacionais na programação. Foram 186 inscritos. “O cinema vai bem, obrigado”, brincou Almeida. “A questão são esses filmes chegarem ao público”. A curadora também celebrou o fato de que 98 dos 394 títulos da edição são dirigidos por mulheres. São 59 países com filmes na programação. Nos últimos anos a Mostra tem destacado a cinematografia de um país para iluminar e neste ano o foco é a Suíça.
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Em um ano de grande comoção a respeito de manifestações artísticas, a Mostra quer participar do debate. “Nesse momento de radicalização, a gente tem que olhar para a história”, diz Almeida. “Vamos exibir ‘O Homem Nu’ no vão livre do MASP”.