Estreia nesta quinta-feira (7) o longa "Lino – Uma Aventura de Sete Vidas", o maior projeto da história do estúdio StartAnima . "Esse é o melhor trabalho que a gente já fez aqui", garantiu o diretor Rafael Ribas em entrevista ao iG .

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Dirigido por Rafael Ribas,
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Dirigido por Rafael Ribas, "Lino - O Filme" é produzido pela StartAnima e chega aos cinemas brasileiros em 7 de setembro

O filme conta a história de Lino , um rapaz que trabalha como animador de festas – e odeia seu emprego. Nas festas, ele usa uma fantasia de gato gigante e é muito maltratado pelas crianças. Para tentar fazer seu emprego um pouco melhor, ele vai atrás de um feiticeiro, mas acaba piorando tudo: agora, Lino virou o gato em carne e osso e tem que correr para reverter o feitiço. No elenco, estão Selton Mello, Dira Paes e Paolla Oliveira.

"Eu lembrei que tinha uma amigo que fez um bico de animador de festas numa feira de livros e se vestiu de Panter Cor-de-Rosa. Ele chegou pra mim e disse 'nossa, eu sofri muito, nunca mais faço isso, puxaram meu rabo, pisaram no meu pé, chutaram minha bunda'. E eu fiquei com isso na cabeça e falei 'pô, já que a gente está com essa ideia, vou fazer isso e colocar um animador de festa', aí desenvolvi o roteiro", contou Rafael Ribas sobre a ideia do filme.

Entretanto, foi difícil para que o longa saísse do papel. A crise afetou diretamente o financiamento do filme, que teve R$ 6,5 milhões de orçamento. "Nosso orçamento inicial era de R$ 8 milhões e a gente não conseguiu captar. Mesmo assim a gente fez o filme e entregou bonitinho. Foi muito difícil, foi uma loucura, a crise dificultou muito", confessou.

Por isso, ele acredita que é muito difícil competir contra filmes como "Carros 3" e "Meu Malvado Favorito 3", de estúdios gigantes do exterior, mas está feliz com o resultado. "Pra brigar com esse pessoal que faz filme custando US$ 100 milhões pra cima, não dá. É quase 100 vezes mais que a gente, e o nosso filme não é 100 vezes pior que o deles", disse.

Leia abaixo a entrevista com Rafael Ribas:

iG: Esse é o maior projeto do estúdio? Por quanto tempo vocês trabalharem nele?
Rafael Ribas:  Esse é o maior projeto que a gente já fez. É nosso terceiro longa e é o primeiro que a gente encara como algo que tem condições de brigar de igual pra igual com os filmes lá de fora. Esse é o melhor trabalho que a gente já fez aqui.

A gente está fazendo esse filme há três anos. É um processo longo. De produção mesmo foram 24 meses, mas a gente tem que contar todo o processo de desenvolvimento e tudo mais. A partir do momento que a gente teve o financiamento, foram três anos. Agora, se for contar a realidade, que é desde a época em que eu tive a ideia e criei o personagem, a fase de captação de recursos, que é um problema no Brasil, o tempo é muito maior. Às vezes a gente passa mais tempo tentando ir atrás de recursos do que propriamente fazendo filme. Isso acontece demais, não é só em animação, em qualquer filme nacional. Tem muito filme de live action que é rodado em quatro meses e fica três anos pra captar recurso e mais dois anos para conseguir distribuidora. Mas a animação tem esse fator de que a produção não é rápida, não tem como fugir de dois anos de produção, isso em qualquer estúdio do mundo.

iG: De onde veio a ideia do filme?
Rafael Ribas:  Quando a gente terminou "O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes", que é um projeto mais autoral do meu pai, eu me senti apto a dirigir um filme, algo que eu queria muito. Então decidi criar uma história que não fosse infantil demais. A gente precisa levar público pro cinema porque se não a distribuidora não ganha dinheiro, o cinema não ganha, aí no próximo não tem investimento. A primeira coisa que fiz foi pensar numa história que fosse divertida para todas as idades. Também pensei na escolha dos atores que agregassem valor para a produção.

Trabalhei com três pessoas aqui que me ajudavam na criação e a gente se reuniu para ter algumas ideias e ver alguma coisa que fosse original, que fosse diferente. Porque, realmente, um cara virar uma fantasia não é comum. Então nossa ideia era que uma pessoa que gostava muito de um desenho virava o próprio desenho. A gente ficou com dificuldade nessa questão da transformação, e eu lembrei que tinha uma amigo, nunca vou poder falar o nome dele, que fez um bico de animador de festas numa feira de livros. Ele se vestiu de Panter Cor-de-Rosa. Ele chegou pra mim e disse 'nossa, eu sofri muito, nunca mais faço isso, puxaram meu rabo, pisaram no meu pé, chutaram minha bunda'. E eu fiquei com isso na cabeça e falei 'pô, já que a gente está com essa ideia, vou fazer isso e colocar um animador de festa', aí desenvolvi o roteiro.

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Cena de
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Cena de "Lino", animação que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (7)

iG: O filme tem muitas referências aos anos 1980 e a outros produtos da cultura pop. Como foi encaixar isso tudo no roteiro?
Rafael Ribas:  Eu pensei muito nisso justamente pra gente ter um filme mais arejado e mais abrangente. Coloquei elementos e algumas referências que também servissem para adolescentes ou pessoas de mais de 30 anos, que são coisas dos anos 1980. É pra deixar o filme mais aberto. Às vezes tem uma criança de 4 anos que não vai entender, mas os pais vão, e eu acho isso importante. Quem faz a crítica nunca vai ser uma criancinha de 4 anos. A gente teve esse problema com "O Grilo", foi até estranho, algumas críticas diziam que o filme era infaltilzinho, e a gente pensava 'tá, mas o target era esse, então tá bom'. Mas isso repercutiu de uma forma negativa pra gente, as pessoas não queriam ver. A gente chegava na sessão e tinha só os pais com aquelas criancinhas ainda nas fraldas, e isso era um problema.

Eu assisti muito filme da Disney, Pixar e Dreamworks e percebi isso, que eles não fazem filme só para criança. O "Shrek", por exemplo, tem muita piada que é só pra adulto. Mas a criança vai ver porque é animação e os personagens são carismáticos. Isso que a gente procurou nesse filme. Mas a história em si também tem muito elemento para adulto. É importante, os pais vão junto e têm que se divertir também. Acho que serviu para toda a família a história.

iG: Uma das protagonistas do filme é uma criança negra. Isso foi proposital?
Rafael Ribas:  Não foi uma coisa pensada, mas quando a gente faz um filme, a gente faz design até dizer chega. Ela chegou a ser uma menina branca nos primeiros testes, mas a gente quis tirar um pouquinho dessa coisa que acontece no Brasil que é as pessoas julgando a gente se o nosso filme parece muito com o americano, com personagens de olhos azuis e branquinhas. Eu procurei ter um equilíbrio legal nesse filme, até porque estamos no Brasil, temos de tudo. Ela calhou de ser uma menininha negra. Foi proposital, para mostrar um pouco de Brasil. Tem os índios, tem muito personagem negro no filme. Procuramos ter esse equilíbrio porque o Brasil é assim e eu pensei muito nisso.

iG: Como você escolheu os dubladores?
Rafael Ribas:  O Selton Mello e o Luiz Carlos de Moraes, dublador do Leon, são as duas pessoas que eu já imaginava no filme desde que estava escrevendo o roteiro. Eu queria muito que fosse o Selton Mello porque o acho um ator incrível, tem a cara de cinema, e a gente precisava muito de uma imagem mais séria. Eu penso nele desde quando vi o filme "A Nova Onda do Imperador", que é dublado por ele. Eu acho que é a melhor dublagem que já vi na minha vida. Era ele e mais uma pessoa o filme inteiro, ele deu um ritmo incrível. Eu assisti em inglês e não achei tão bom. Fiquei com isso na cabeça e pensei 'um dia, se eu fizer um filme, vou chamar o Selton Mello'. E o Luiz Carlos de Moraes é porque sou muito fã de 'Uma Família da Pesada' [desenho no qual o dublador faz a voz de Peter Griffin], acho muito engraçado, e queria um personagem engraçado. Chamei e eles toparam na hora.

A Dira [Paes] e a Paolla [Oliveira] entraram um pouquinho mais adiante. Elas entraram mais próximo da produção. Tanto que a Dira deu tempo até para mudar o design dela. Ela é uma ótima atriz e na época assisti a um filme dela e achei que ela trabalhou muito bem. A minha produtora executiva é prima da Dira. Quando soube disso, pedi para elas conversarem e ela topou. A Paolla foi a mesma coisa, ela tinha acabado de fazer um filme com a minha produtora e fomos atrás. Quase tudo que a gente escolheu de nomes foram certeiros.

iG: O filme sai logo depois das férias, melhor época para animações no cinema. Isso foi uma estratégia?
Rafael Ribas: Se a gente fosse pensar em estratégia, a gente estava ferrado. Não tem data livre. Um mês depois vem o Dia das Crianças, que está abarrotado de animações. A gente teve que fugir das férias, não foi nem uma escolha, foi um problema mesmo. Como a gente tem essa dificuldade de produção, o filme ficou pronto a tempo das férias, mas não a tempo de ter uma divulgação boa. Não fazer uma boa campanha e botar o filme concorrendo com 300 filmes gigantes é a mesma coisa que jogar no lixo. A escolha foi passar um pouquinho. Foi mais para ter tempo para a campanha. Filme nacional tem uma dificuldade, tem que trabalhar bem, não pode ser lançado uma semana antes.

iG: Como é concorrer contra esses gigantes?
Rafael Ribas:  É completamente desleal. Nosso sonho é poder produzir um filme de baixo orçamento nos Estados Unidos, que tem um orçamento de uns US$ 20 ou 30 milhões. Pra gente, seria uma maravilha. Tivemos R$ 6,5 milhões. Então é uma concorrência desleal, não tem como negar que a gente entra como se fosse uma formiguinha perto deles. Mas a gente foi muito inteligente em fazer coisas que a gente fosse capaz de fazer, uma produção sem transparecer nossas dificuldades. A nossa produção tem efeitos e tudo mais, mas não vai ser um filme que a gente vai tentar se arriscar num lado que a gente domina. Não adianta fazer coisas que a gente não sabe fazer, não ia ficar bom e isso ia ficar explícito para quem visse. A gente não correu esse risco. O roteiro foi pensado para ser uma história bem contada nas locações, com os atores, sem tantos efeitos especiais. Quando você tem isso na tela, não tem esse contraste. A gente vai por esse caminho. Por causa da história, você não vai sentir falta desses elementos. Pra brigar com esse pessoal que faz filme custando US$ 100 milhões pra cima, não dá. É quase 100 vezes mais que a gente, e o nosso filme não é 100 vezes pior que o deles.

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Selton Mello faz a voz do protagonista Lino na nova animação brasileira
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Selton Mello faz a voz do protagonista Lino na nova animação brasileira

iG: Como a crise afetou o filme?
Rafael Ribas:  Está difícil demais arranjar dinheiro de empresas privadas. A gente foi em todo lugar e conseguiu muito pouco. A gente dependeu praticamente da distribuidora, das leis e dos editais. Pegar dinheiro de empresas foi praticamente impossível. Uma coisa que prejudicou muito a gente foi o problema da Petrobras. Nos dois filmes de "O Grilo" a gente ganhou edital, e eu acho que o "Lino" tinha grandes chances de ganhar, e quando a gente começou a captação pra ele, a Petrobras acabou com o edital. Foi justamente um dinheiro que faltou pra gente. Nosso orçamento inicial era de R$ 8 milhões e a gente não conseguiu captar. Mesmo assim a gente fez o filme e entregou bonitinho. Foi muito difícil, foi uma loucura, a crise dificultou muito. O "Lino" é um filme que tem muitas possibilidades de publicidade que não sejam agressivas. Até pelo fato dele virar gato, podia ter ração, podia ter outras coisas. Podia ter pneu, podia ter carro, várias coisas e a gente não conseguiu nada. As pessoas olhavam e falavam 'nossa, que legal, quando vai ficar pronto?', aí a gente dizia que demoraria dois anos e eles nos pediam para voltar depois, mas quando a gente voltava, o Brasil estava em crise.

iG: Qual é a sua expectativa em relação aos resultados?
Rafael Ribas : A gente que produz e dirige sempre sonha em ter sucesso, se não nem faria. Tem que ter uma ajuda mútua: a gente tem que fazer um bom filme, a distribuidora tem que divulgar bem e forçar pro exibidor exibir o filme e fazer uma boa divulgação. Da nossa parte, eu fico tranquilo em saber que a gente fez um filme bacana. O filme está legal, está bem feito. Pelo fato de a gente ter a Fox, eu tenho uma certa esperança e acredito que eles vão trabalhar bem o filme. Eu acho que a gente vai conseguir uma coisa expressiva. Não vou sonhar e falar que dá pra competir com filme da Disney, da Pixar, da Sony, não vai fazer a mesma bilheteria, mas dá para ter uma coisa mais expressiva. Como ele foi pensado para ser um filme universal, acredito que ele vai ter uma carreira internacional, o que seria muito importante para a gente. O filme não foi pensado para ganhar festival, vou ser sincero, ele é bem comercial. Acho bacana os filmes que vão para festival e ganham, mas se eles não têm uma carreira boa e geram bilheteria, a gente fica um pouco travado. Acaba não gerando dinheiro para a distribuidora. Eu quero muito que o cinema e a distribuidora ganhem dinheiro com o filme pra eles quererem fazer meu próximo filme, se não não tem uma continuidade. O filme foi pensado para ser comercial, mas se vier um prêmio, vai ser muito bem-vindo.

"Lino – Uma Aventura de Sete Vidas" estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (7).

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