O Heavy Metal
(mais comumente chamado apenas de Metal) é um gênero oriundo do rock, que se desenvolveu entre as décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos e no Reino Unido, caracterizando-se por um timbre saturado e distorcido, com som encorpado e massivo. No Brasil
, a primeira grande exposição do estilo veio somente em 1985, com a primeira edição do Rock in Rio
.
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Desde então, o Metal não parou de conquistar fãs no país. Isso também fez com que festivais como o Monsters of Rock , que acontece desde 1980, ficassem cada vez mais lotados; e o Rock in Rio passasse a ter uma noite voltada para esse estilo musical em sua programação do palco principal. Porém, nas últimas edições do evento, esse espaço vêm diminuindo. Em 2017, não há nenhuma banda do gênero no Palco Mundo .
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A única contribuição do Metal para o evento deste ano será o show da banda Sepultura, no Palco Sunset , no domingo, 24 de setembro. Para Fernando Kao, de 22 anos, isso se deve ao novo comportamento do público dessas bandas. Apesar de ser um público bastante fiel, "a cultura vem mudando um pouco, hoje em dia as pessoas se contentam em assistir um show pela tela do computador ao invés de presenciar a experiência completa, indo ao show e vendo os artistas de perto", destaca.
O jovem, que acompanha bandas de metal desde meados dos anos 2000, também ressalta que existem outros fatores envolvidos nessa diminuição, porém, acredita que esse fator cultural seja um dos principais motivos para que as atrações venham diminuindo ao longo dos anos. Já Lívia Amaral Duarte, de 23 anos, discorda. Para a jovem, o público de Metal sempre foi restrito, uma vez que não é todo brasileiro que está acostumado a ouvir timbres mais estridentes.
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"O brasileiro gosta mais de funk, de samba, eu acho... São poucas as pessoas que tem o costume de ouvir rock desde pequenas", explicou a jovem, que tem o show do Slipknot no Rock in Rio 2011 como uma das melhores experiências de sua vida - apesar de ter sofrido uma lesão no pulso durante o show, que só foi perceber no dia seguinte.
"É festival, é show, né? Todo mundo pulando, eu bati meu pulso em algum lugar, mas eu só fui perceber mesmo que tinha machucado no dia seguinte, quando acordei com o pulso inchado e sem conseguir mexer a mão. De volta à São Paulo, precisei ir ao médico e colocar uma imobilização, mas não foi nada sério, apenas uma luxação", explicou a jovem.
Para Jimmy London, vocalista da banda Matanza, essa diminuição das atrações de Metal no evento não é definitiva. "Por uma mudança do line-up e de uma banda que desmarcou, não teremos essa Noite do Metal, que já era tradicional. Acho ela emblemática, é pitoresca, todo mundo espera. Por mais que não curta o estilo, é legal de ver. Mercadologicamente falando, não é interessante não ter, ela atrai bastante público. Mas eu vejo que os grandes festivais estão se transformando em entretenimento de família. Para quem é fã mesmo, é uma decepção", lamentou.
Jimmy ainda afirmou que, desde que o Matanza começou, há exatos 20 anos, ele acompanha a cobertura da mídia sobre o gênero - e garante que é possível capitalizar em cima disso e que o Rock in Rio sempre soube aproveitar ao máximo esse elemento. "O metal é pitoresco, as pessoas gostam de explorar as pessoas de cabelo comprido, batendo cabeça. É uma coisa bem televisiva, que chama a atenção", explicou.
Além de um modelo mais econômico, com foco em investir em atrações e headlinners mais populares, a quantidade de shows internacionais é bem menor se comparada aos anos anteriores. Há ainda outro fator envolvido, além dos já apresentados: não há disponibilidade de headlinners repetidos de outras edições, como Iron Maiden, Metallica, Slipknot e System Of A Down; e nenhum deles foi capaz de esgotar os ingressos para os dias em que se apresentaram no festival - embora público para esse estilo musical não falte.
Prova disso é o espaço que outros festivais estão dando ao gênero dos "camisas pretas" - como são popularmente chamados os fãs de metal no Brasil -, como o Lollapalooza, que trouxe o Metallica neste ano, e o Maximus Festival, que contou com nomes como Linkin Park, Prophets Of Rage, Slayer, Rob Zombie, Ghost e outras grandes bandas de metal. Ao que tudo indica, interesse do público não falta.
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Para Lívia, o problema não é de fato a falta de público. Mas sim, o momento de recessão econômica que o País está passando. "O Rock in Rio é um evento muito caro. Por conta disso, muitos fãs não tem condições de irem lá prestigiar as bandas, o evento - que é tão querido aqui no Brasil. E as bandas ficarem restritas ao Monsters of Rock é ruim, porque diminui as possibilidades de acesso dos fãs, que estão no Brasil inteiro", explica. Em 2011, a jovem teve a oportunidade de conhecer metaleiros de estados como Acre e Amazonas.
Jimmy afirmou que acredita que, nas próximas edições, a Noite do Metal estará de volta, com bandas renomadas. E que, apesar da ausência deste ano, não faltará público para nenhuma das noites do festival. "É só menos plural, menos rico do que poderia ser."
Fernando acredita que o problema não se deve a uma falta de público e que a opção de não incluir a Noite do Metal na programação deste ano afeta os fãs de uma forma negativa, visto que o Rock in Rio foi concebido para ser um evento diversificado. "O Rock in Rio reúne pessoas de vários estilos diferentes. Existe muito preconceito em relação ao metal, assim como o fã de metal é preconceituoso com outros estilos. Esse tipo de evento dá oportunidade de trocar experiências e conhecer novos artistas", finalizou.