O professor de redação Michel Francisco é uma das pessoas que viu o primeiro capítulo da história do Rock in Rio, que continua sendo construída até os dias de hoje. “Acho que vai ser um festival moderno como sempre foi, porque ele nunca deixou de se modernizar”. De acordo com o docente, o futuro do  Rock in Rio  terá um festival que continuará sendo inovador, mas que permanecerá com a essência da primeira edição. “Talvez daqui a 30 anos ele funcione pra libertar os filhos das gerações futuras. Libertar de um conservadorismo que está sendo instalado aí em grande escala não só no Brasil, mas no mundo”, opina.

Em 2011, Dinho Ouro Preto e a banda do Capital Inicial protagonizaram uma das apresentações que entraram para a memória dos rockeiros que não perdem uma edição do Rock in Rio
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Em 2011, Dinho Ouro Preto e a banda do Capital Inicial protagonizaram uma das apresentações que entraram para a memória dos rockeiros que não perdem uma edição do Rock in Rio

Os 32 anos de festival, comemorados agora em 2017, resguardam recordes e alcances incomparáveis conquistados desde a primeira edição do Rock in Rio, que aconteceu lá em 1985 e foi assistida pelo professor de redação. Com mais de 1,5 mil artistas escalados, 182 mil empregos gerados e 8,5 milhões de pessoas já reunidas para prestigiar essa festa cheia de energia, é que o festival comemora sua 17ª edição neste ano e que pode nos fazer pensar: já passaram 30 anos até agora. Como será que estará, daqui mais 30 anos, um dos maiores festivais de rock do mundo?

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Para Elke Patricia Cabral, coordenadora de custos, a pluralidade de gêneros musicais que vem roubando a cena no festival vai continuar do mesmo jeito, e é o que deve caracterizar a grande festa. “Olha, com todos os ídolos bons do rock indo embora, acho que o caminho é mudar o nome. Tirar o rock e mudar o festival”, opina. “A menos que explodam coisas boas, não dará mais pra caracterizar como festival de rock”, termina.

A questão é: vai ou não vai ter Rock in Rio daqui 30 anos?

Para os fãs intransferíveis do festival, um dos caminhos possíveis para o  Rock in Rio seguir daqui em diante pode ser uma decepção. Em julho deste ano, o criador do festival, Roberto Medina, declarou que é bem possível que a 17ª edição seja a última. “Se nada mudar neste país, esse será o meu último Rock in Rio. Não faz sentido ficar aqui", declarou o empresário à Veja Rio .

De acordo com Medina, a importância do Rock in Rio não gira em torno apenas de entretenimento. Ao falar com a revista, o empresário também falou sobre como o festival gera uma renda e tanto e o quanto isso é relevante em quesitos socioeconômicos brasileiros. "Um estudo recente da Fundação Getulio Vargas revelou que o Rock in Rio injeta 1,2 bilhão de reais na economia. A mesma pesquisa mostra que, se você acrescentar um dia à permanência dos turistas no Carnaval e no Réveillon, e montar um calendário estruturado de eventos, nossa receita anual com turismo pode aumentar em 20%, coisa de 6,5 bilhões de reais", opinou o publicitário, cogitando possíveis soluções para “tirar o Rio de Janeiro do buraco”.

Roberto Medina é publicitário, empresário e o idealizador de um dos maiores festivais de rock do mundo, o Rock In Rio, que teve sua primeira edição no ano de 1985
Reprodução/Twitter
Roberto Medina é publicitário, empresário e o idealizador de um dos maiores festivais de rock do mundo, o Rock In Rio, que teve sua primeira edição no ano de 1985














Tradição X Inovação

Elke Patricia Cabral conheceu o Rock in Rio porque o gênero do rock entrou em sua vida desde muito cedo e permanece nela até os dias de hoje. “Desde bem nova eu sempre gostei de rock. Por um tempo até ouvi outras coisas, mas fico muito nessa vertente e só frequento lugares nesses estilos”, conta. “Conheci o festival antigo e tive o prazer de ir ainda no último dessa leva, e ele era realmente um festival de rock. Esses últimos misturam os estilos e isso faz perder um pouco a essência do festival”, opina.

Justamente por conta dessas mudanças levantadas por Elke, que ocorreram no Rock in Rio ao longo dos anos, a coordenadora de custos acha que o Brasil só vai sentir falta de um dos maiores festivais de rock do mundo se um dia o evento voltar a ser apenas de rock. “Eu acho que o Brasil tem muitos shows bons, mas poucos festivais. Faria falta se realmente fosse um festival voltado pra rock”, diz. Nos casos exclusivos de shows apenas de rock, Elke considera que os shows vão fazer falta tanto para o público, quanto para os artistas que vêm pro Brasil. “A gente é um povo que transmite muita energia boa quando a gente tá no show deles. Vai fazer falta pra gente e pros próprios artistas, mas não acho que eles vão abandonar o Brasil, pelo menos eu espero”, ri.

Na opinião do professor de redação Michel Francisco, por exemplo, caso o festival abandone o Brasil, a saudade virá por motivos de oportunidades únicas de experiência. “Acho que é um festival de grande porte que dá a oportunidade de vermos varias bandas num único evento . O Rock in Rio, na essência, traz orgulho pra quem gosta de rock poder bater no peito e falar ‘eu fui no Rock in Rio’”, diz. “O próprio lugar e a interação que você tem com outras pessoas de todo o lugar do país e a forma como elas encaram o rock é fantástico”, completa.

Achar que o Rock in Rio vai fazer falta caso não aconteça mais no Brasil é uma opinião de Michel que tem uma raiz muito mais profunda do que parece. Mais que um evento de rock, o festival, para o professor de redação, teve um papel crucial em sua vida. “O Rock in Rio mudou a minha vida. A partir do rock, fui buscar informação, fui estudar... Posso colocar o ano de 1985 como meu grande ano”, revela. “O Rock in Rio fez com que eu mudasse totalmente o que eu penso da vida. A partir dele, muita gente foi buscar o visual, deixou o cabelo crescer e passou a ter um comportamento mais anárquico”, complementa. “Não é só um festival de rock. É uma grande influência no comportamento de uma geração. É extremamente importante nesse aspecto”, complementa.

O começo de tudo

O Rock in Rio pode parecer um evento musical mega atual, mas não é de hoje que um dos maiores festivais de rock do mundo seleciona grandes nomes da música para levar shows históricos e épicos ao público amante de entretenimento fonográfico e do som que arrepia até o último fio de cabelo.

Tudo começou lá em 1985. Roberto Medina, na época em que criou a fórmula mágica de um dos maiores festivais de música do mundo, tinha tudo o que um profissional deseja: uma carreira muito bem-sucedida. No entanto, viver um mar de rosas nos negócios pareceu não ser suficiente para o empresário e publicitário, que buscava ainda mais realizações para se satisfazer profissionalmente.

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De acordo com Medina, já era hora de trazer inovações para o Brasil no que diz respeito a música e entretenimento. “O Brasil tava passando por uma saída da ditadura pra democracia, então me parecia o momento certo de botar a juventude mostrando a cara”, disse. “Eu não vim planejando nada”, revelou o empresário no vídeo “Roberto Medina conta como surgiu o Rock in Rio”, disponível no canal do evento  “Rock in Rio”  no YouTube.

Com mais de 1,5 mil artistas escalados e 182 mil empregos gerados, o Rock In Rio já conseguiu reunir 8,5 milhões de pessoas para prestigiar essa festa cheia de energia
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Com mais de 1,5 mil artistas escalados e 182 mil empregos gerados, o Rock In Rio já conseguiu reunir 8,5 milhões de pessoas para prestigiar essa festa cheia de energia

Ainda de acordo com Medina, é preciso reconhecer que o festival inovou no mais puro sentido da palavra, já que o Brasil não tinha cultura anterior de eventos musicais. “Não tinha nada. Foi uma intuição, uma visão de um projeto. Eu acho que o Rock in Rio me buscou, não fui eu quem buscou ele”, contou.

O insight do empresário e publicitário pode ter sido maravilhoso, mas as coisas demoraram para correr tranquilamente no início de tudo, quando a ideia foi colocada em prática. “O Brasil não tinha luz, não tinha som, o maior show tinha 40 mil pessoas”, conta. “Eu fui aos EUA contratar as bandas. Me parecia simples, eu tinha o dinheiro mas, nada. Fiquei 60 dias em Nova York, montei um espaço fantástico pra mostrar vídeos e nenhuma banda aceitou”, relembra.

De acordo com Roberto Medina, foram exatamente 70 ‘nãos’ recebidos na primeira tentativa de fazer o Rock in Rio acontecer. Mas, depois de recorrer a uma ajuda que lhe caiu como uma luva, o empresário viu o jogo virar rapidamente. “Depois desses 60 dias, fui pra Los Angeles e me lembrei de pedir ajuda ao Sinatra, que mandou o relações públicas dele, Lee Solters, me ajudar”, diz. “Ele ajudou, fiz uma conferência de imprensa no hotel que eu estava, lotou de jornalista e no dia seguinte todos os jornais americanos botaram ‘maior show de rock do mundo vai acontecer no Brasil’. Aí as bandas fizeram fila na porta do hotel”, relata.

As mudanças em 32 anos de Rock in Rio

Em 1985, o festival que hoje em dia ocupa o lugar de oitavo melhor do mundo no ranking da Festival Fling, introduziu nas terras tropicais atrações internacionais do rock e do pop e ressaltou a importância das bandas nacionais, que também eram contratadas para tocar no evento.

Durante dez dias de evento, a programação repleta de shows de grandes artistas da primeira edição conseguiu reunir na primeira Cidade do Rock, que ficava localizada em Jacarepaguá, zona oeste carioca, 1 milhão e 380 mil pessoas. Não demorou muito tempo para Roberto Medina considerar outros nomes compondo o line-up a fim de alcançar números ainda maiores de audiência.

Depois da primeira versão histórica do Rock in Rio, as edições seguintes iam chegando e, com elas, as mudanças. O festival que também aconteceu em Lisboa (PR) e Madrid (ES), com o passar do tempo, começou a apresentar na lista de shows nomes de artistas diferentes do usual da grade clássica de rock e pop.

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Reprodução / AgNews

Divas pop como Katy Perry parecem ter invadido o festival de rock. Mas isso é bom ou ruim?

Nesse sentido, é que uma quantidade maior de gêneros musicais começou a compor a programação do evento e deixou os dias de shows mais diversos. Entre os artistas, estão Ivete Sangalo, Ed Motta, Daniela Mercury, Gilberto Gil, Alicia Keys, Rihanna, Katy Perry e muitos outros que exploram gêneros além do pop e do rock, e apresentam um outro tipo de música para o público.

No entanto, por mais que a pluralidade de gêneros tenha agradado muitas pessoas e conquistado um público ainda maior para o festival, o jornalista e vocalista Victor Coelho Luis Romeu tem uma opinião um pouco mais elaborada sobre a questão. Para ele, o melhor seria se a organização do evento programasse bandas de estilos parecidos para o mesmo dia, evitando um contraste muito grande entre um show e outro. “Tem pessoas que vão pra curtir só aquilo, mas não é a grande massa. Eu não acho que isso agrada, isso incomoda muito. Acho que eles poderiam diversificar e colocar tudo de um estilo no mesmo dia”, diz. “Eu não vejo problema de colocar o ‘Pop In Rio’. De trazer a Rihanna, a Katy Perry e a Beyoncé. Mas, que as coloquem nos dias que casem melhor, pra não acontecer que nem foi no Lollapalooza, de colocar o Metallica junto com bandas indie”, opina.

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Com as mudanças e o aumento da pluralidade de gêneros, que cresce a cada ano, o Rock in Rio continua agradando e sendo um dos maiores eventos do Brasil, para alegria dos que não dispensam qualquer coisa que envolva boa música. Neste ano, o festival acontece entre os dias 15 e 24 de setembro, no Parque Olímpico do Rio de Janeiro.

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