Vivendo um dos maiores papéis de sua carreira, Vladimir Brichta estrela o longa "Bingo – O Rei das Manhãs" , que estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (24). Interpretando um personagem cheio de nuances, o ator confessou que teve um trabalho muito árduo se preparando para o papel.
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"Isso era uma das coisas fascinantes do personagem, que é um pouco do ator também. Já entrei no palco para fazer uma coisa e estava vivendo uma coisa completamente diferente daquilo", explicou Vladimir Brichta sobre a experiência de interpretar Augusto Mendes, personagem inspirado em Arlindo Barreto , que viveu o palhaço Bozo nos anos 1980.
Para ser o Bingo, Brichta fez um laboratório em um circo e teve a ajuda de Fernando Sampaio e Domingos Montagner, morto no ano passado. "Eu tinha colegas na faculdade que estudavam para ser clowns, e eu achei que seria petulante da minha parte não ter estudado e dizer que eu era um palhaço. Mas eu pago as minhas contas há muito tempo fazendo palhaçada, fazendo graça", disse o ator.
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Na entrevista abaixo, Vladimir Brichta fala sobre sua preparação para "Bingo", o desafio de fazer comédia e as nuances de seu personagem. Leia:
Preparação
"Ser o Bingo foi um troço quente. O Bingo, especificamente, foi um negócio que eu li e falei "sei fazer isso". Por outro lado, quando as pessoas como Fernando Sampaio e Domingos Montagner se aproximaram do projeto, bateu um certo pudor de dizer que eu era palhaço.
Sou de uma família acadêmica, então eu respeito muito quem estuda, quem se dedica. Eu tinha colegas na faculdade que estudavam para ser clowns, e eu achei que seria petulante da minha parte não ter estudado e dizer que eu era um palhaço. Mas eu pago as minhas contas há muito tempo fazendo palhaçada, fazendo graça.
Quando pintou o filme, eu senti que eu tinha que assumir aquilo ali. O Fernando me ajudou desmistificando um pouco isso. Ele disse que palhaço de circo era diferente do clown, não tinha muita pesquisa, em algum momento ele é jogado no picadeiro e se der certo, deu. É mais ou menos assim, a pessoa já é daquele ambiente. Perdeu um pouco o mistério. Se fizer, é.
Eu fui jogado. Combinei uma entrada e fui um dia no circo. Depois que comecei a fazer TV, as pessoas começaram a me conhecer mais. Como eu fazia muito humor, as pessoas tinham uma predisposição para achar graça das coisas que eu fazia. Tinha um momento que eu ia pedir uma água no restaurante e o garçom ria. Aí comecei a pensar se o cara acharia a mesma graça se eu fosse anônimo e isso me perturbou um pouco. A história do palhaço foi muito legal porque entrei como desconhecido e rolou.
Aí o gerente do circo disse "rapaz, não é que você é palhaço mesmo?" e eu pensei comigo "é claro que eu sou".
Modos diferentes de fazer humor
Eu tenho essa preocupação há muito tempo. Antes do "Tapas e Beijos", eu fiz uma outra série, "Separação", e antes fiz outra série de humor, "Faça Sua História". Antes de fazer o Armani, eu pensei "vou fazer humor de novo, será que é possível subverter a ordem de fazer humor de um jeito diferente?". Me propus a fazer algo diferente, mudar isso. Na verdade, sou atento a isso há um tempo, que é algo dificílimo, fazer humor de um jeito diferente.
Deu o "Tapas" e eu achei que consegui fazer isso. Quando fui fazer esse filme, que não é uma comediona, também estava atento para que fosse diferente. Mas, durante a preparação, eu me vi em algum momentinho, na hora de exercitar o palhaço, repetindo uma muleta que eu fazia no "Tapas". Teve um momento que veio aquilo e deu um estalo dentro de mim. É um exercício.
Preparação emocional
Eu vi muito filme que falava de trajetória do anonimato para a fama, sobre o desejo de fama. Filmes como "O Lobo de Wall Street" e "Boogie Nights". Uma coisa interessantíssima sobre esse roteiro é o fato de um palhaço, algo tão alegre, ser tão autodestrutivo. Por que o Robin Williams se mata, por que o Jim Carey se deprime, por que o Andy Kaufman se destrói? Isso é absolutamente humano. A gente carrega essa alegria e essa dor. A questão do palhaço é que tem uma lente de aumento. Nessa mesma proporção, nessa lupa de aumento, ele carrega essa capacidade de mergulhar no oposto. Isso é humano. A gente tem essa capacidade de chorar e gargalhar no enterro de um ente querido.
Nuances do personagem
Isso era uma das coisas fascinantes do personagem, que é um pouco do ator também. Já entrei no palco para fazer uma coisa e estava vivendo uma coisa completamente diferente daquilo. E a gente tem que virar essa página, tem que ter essa capacidade. E o personagem carregava isso. É um artista que vai ter que lidar com suas inquietações. É impossível você não carregar um pouco daquilo no seu ofício e você tem que saber administrar. Mas é muito bom fazer isso, carregar tanto desejo e frustração tão próximos assim.
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Dificuldades
É engraçada essa pergunta dos vícios de ator porque eu lembro que tinha uma preocupação na preparação. Eles diziam "vamos esvaziar o Vladimir" etc. E dentro de mim eu dizia "poxa, eu não gosto de me repetir". Esse desafio já era meu. Uma coisa difícil foi ganhar a confiança da galera. Mas achar a medida do humor numa cena do teste, por exemplo, também é difícil, essa medida é delicada. Mas administrar essa complexidade foi o mais difícil.
Além de Vladimir Brichta, "Bingo – O Rei das Manhãs" ainda tem Leandra Leal, Augusto Madeira, Emanuelle Araújo, Tainá Muller e Ana Lúcia Torre no elenco.