Existe uma espiral no subgênero de filmes sobre o nazismo que versa particularmente sobre a opressão do regime para com as crianças. “A Viagem de Fanny”, que estreia em São Paulo, Rio de Janeiro e algumas outras cidades do País nesta quinta-feira (10), se junta a produções como “O Menino do Pijama Listrado” (2008), “Vá e Veja” (1985), “A Menina que Roubava Livros” (2013) e “Os Meninos que Enganavam Nazistas” (2017) no filão de produções que confrontam a inocência infantil às atrocidades de um dos momentos mais sombrios da história da humanidade.
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Dirigido por Lolla Doillon (“Contre Toi”) e inspirado no livro de Fanny Bem-Ami, no filme vivida pela ótima Leonie Souchaud, “A viagem de Fanny” se passa na França ocupada pelas tropas nazistas e mostra a peregrinação, no sentido mais dramático possível, de um punhado de crianças judias para chegar à fronteira suíça e fugir dos implacáveis alemães.
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Ainda que seu filme seja ambientado no curso da segunda guerra mundial, o conflito importa pouco em termos narrativos a Doillon. Ela se ocupa majoritariamente daquelas crianças que protagonizam um drama muito mais febril e desesperador. Totalmente desamparadas e desorientadas, elas recebem parcas instruções da Sra. Forman, vivida pela sempre competente Cécile de France , de como atingirem o objetivo, mas as chances estão todas contra elas.
O filme, portanto, se ocupa de acompanhar essas crianças pela jornada mais importante e perigosa de suas vidas. A maneira como se agarram umas as outras e constroem um elo firme e indevassável é daquelas coisas que convidam o espectador às lágrimas.
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Não é um absurdo comparar este filme a “Conta Comigo” (1986), de Rob Reiner. Ainda que não haja referências claras ou perceptível influência, as escolhas narrativas de Doillon sugerem essa aproximação. O que distingue “A Viagem de Fanny” dos filmes citados lá no começo também. Mais do que radiografar os espólios da guerra, Doillon almeja reverenciar a força e desprendimento do espírito humano.