Se no próprio Brasil há uma presença massiva de traços culturais importados de outros países, sobretudo dos Estados Unidos, e escassez da produção nacional é uma realidade na maioria dos espaços, é um imenso desafio fazer o movimento contrário de exportar o que é feito aqui para o circuito estrangeiro. O trabalho de quem visa promover o Brasil lá fora é difícil, mas existem empresas que estão lutando para que a cultura brasileira extrapole as fronteiras do País e se espalhem por todos os continentes.
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Futebol e carnaval?
Lá fora quando se fala em cultura brasileira é bem provável que o assunto termine em futebol, carnaval e natureza – e, de fato, esses são os principais pilares que sustentam a imagem do País, mas na realidade a diversidade da produção nacional é muito mais ampla e por vezes até nós mesmos temos dificuldades de reconhecer esse trabalho, que dirá então sobre o mercado internacional. Reconhecendo essa carência e com o intuito de preencher essa lacuna empresas movimentam-se a fim de levar nossa música , cinema , moda e gastronomia mundo afora.
Desafios da exportação
Há pouco mais de um ano o produtor musical Rodrigo da Matta viu uma oportunidade de explorar esse segmento da distribuição de material nacional pela Europa e fundou a BOSSA FM. O objetivo da plataforma é bem simples: levar o melhor que temos quando o assunto é música para o exterior através de eventos, shows, workshops, podcasts, por exemplo. Até agora Rodrigo afirma que o projeto está sendo um sucesso e os resultados colhidos estão sendo muito positivos. “Nossa música é um território muito vasto e pouco conhecido, até mesmo pelos próprios brasileiros”, comenta o produtor.
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A empreitada, contudo, está longe de ser fácil de ser levada à diante, pois o mercado internacional é completamente distinto. Com certa experiência nesse nicho, Rodrigo ressalta que é necessário um grande estudo específico antes de realizar qualquer movimento. “Um nome consagrado no Brasil não necessariamente significa sucesso na Europa”, revela ao iG .
Rodrigo Brandão, fundador da Cinema Slate, empresa que distribui filmes brasileiros pelos Estados Unidos, falou sobre o tema com o iG já em 2015 e de lá para cá pouca coisa mudou nesse cenário. Sua agenda não é atualizada de acordo com lançamentos do País, pelo contrário, os títulos que Rodrigo leva para lá muitas vezes já foram divulgados no Brasil há um, dois anos. Além disso, o catálogo também é bem reduzido: levam meses até um filme realmente chegar às salas americanas.
Financiamento
Arrumar verba estatal para o desenvolvimento projetos nacionais é difícil, conseguir um financiamento para exportar a cultura brasileira é algo ainda mais conturbado. A Cinema Slate, por exemplo, apoia-se em uma parceria com a Fandor, plataforma de streaming que investe em conteúdos mais diversos e alternativos, para bancar parte de seu trabalho. No caso particular de trabalhos audiovisuais, o governo brasileiro tem um braço responsável por viabilizar esse mercado, a Cinema do Brasil, porém a instituição não deu respostas sobre o assunto quando procurada pela reportagem para esclarecer como e em quais termos esse trabalho é realizado.
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A BOSSA FM está seguindo pelo mesmo caminho de buscar alianças. “A incerteza no atual cenário econômico-político vem gerando certa complexidade neste campo”, explica Rodrigo da Matta que emenda “esse é um mercado muito promissor e estamos buscando boas parcerias para fazer projetos incríveis acontecerem e fomentar a exportação da cultura brasileira”.
Variedade
Vivendo na Europa já há quase dez anos, o produtor musical conta que não é raro se deparar com projetos de promoção da cultura brasileira no continente, mas que dificilmente eles têm esse foco específico. “Normalmente tratam a nossa cultura como mais um produto entre um leque de possibilidades”, conta. Iniciativas que tenham como objetivo de fato levar a produção brasileira para o exterior com essa visão ainda são raras, pois a lógica de mercado ainda é mais forte do que a visibilidade da diversidade cultural.