Existem filmes que se legitimam em seus intérpretes e “O Reencontro” (2017), de Martin Provost, que foi destaque no Festival Varilux e estreia nesta quinta-feira (27) nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Brasília, entre outras cidades, pertence a este grupo. Trata-se de um filme que desenvolve uma premissa aparentemente banal, mas o faz com esmero e delicadeza e tem em suas atrizes força, brilho e generosidade.
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Catherine Frot (“Marquerite”) protagoniza como Claire, uma parteira talentosa e dedicada, que tem um filho que estuda medicina e parece ter a vida toda ajeitada, ainda que prescinda de certa emoção, cor, arrebatamento. Sua rotina muda com um reencontro que despertará fantasmas do passado. Que surgem na figura ainda hipnótica de Catherine Deneuve , grande dama do cinema francês.
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Deneuve dá vida a Béatrice, que fora amante de seu pai no passado. Amante que o abandonou e contribuiu para um quadro de suicídio. Desnecessário dizer que Claire não faz a mínima questão de reencontrar Béatrice, mas esta insiste em inserir-se em sua rotina. Béatrice foi vitimada por um câncer e, sentindo-se só, parece disposta a fazer as pazes com o passado.
A hesitação de Claire é o primeiro conflito alinhado pelo filme. Outros virão. Com delicadeza e sutileza, “O Reencontro” confia a suas atrizes a capacidade de engajar a audiência em uma trama que, ainda que bem delineada, não apresenta nenhuma novidade, nem excede o desenvolvimento protocolar dos conflitos alinhados. Mas Frot e Deneuve, além de uma química potente, expõem as entranhas de personagens machucadas e tomadas por receios e angústias, ainda que de ordens diferentes.
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A maneira como uma personagem remedia a dor da outra é dessas belezas que o cinema mais pueril e gracioso tem a oferecer e o apreciador do bom cinema tem aí sua satisfação garantida. “O Reencontro” se ampara essencialmente em suas atrizes e é uma opção válida – e bem-vinda - em um momento em que os filmes se amparam cada vez mais nos efeitos especiais e na engenharia de franquias e ideias prontas. É um bálsamo ir ao cinema ver dois grandes talentos conjugarem sua mágica.