Stieg Larsson nunca soube do sucesso que a sua trilogia Millenium se tornou. O autor sueco morreu logo depois de entregar o livro para a editora e não teve oportunidade de desfrutar do sucesso estrondoso que a história de Mikael Blomkvist e Lisbeth Salande r fez. Mas os três livros, “ Os Homens que Não Amavam as Mulheres ”, “A Menina que Brincava com Fogo” e “A Rainha do Castelo de Ar” são sucessos da literatura e já venderam mais de 80 milhões de cópias cópias em todo o mundo, foram transformados em filme na Suécia , e o primeiro volume ainda ganhou uma adaptação hollywoodiana indicada ao Oscar .
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Já o norueguês Jo Nesbo tem acompanhado de perto o sucesso de Harry Hole pelo mundo da literautura . O autor, responsável por uma série de livros com o detetive mais peculiar da polícia norueguesa, continua vendo suas histórias serem traduzidas e adaptadas. Esse ano, ele verá Michael Fassbender no papel que começou a escrever em 1997, quando o primeiro livro protagonizado pelo detetive Hole foi lançado. Desde então, foram dez títulos sobre seu personagem mais famoso, fora outros títulos sem o personagem, mas igualmente sombrios, como “Sangue na Neve”.
Nas histórias de Nesbo, Hole passeia pelo submundo do crime, primeiro em países estrangeiros como Austrália e Tailândia, para depois voltar para sua gelada Oslo. Lá, ele lida com serial killers , traficantes de drogas e armas, além de pessoas atrás de vingança. Parece muito diferente da Noruega que vemos nos jornais, e talvez esse seja exatamente o ponto.
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Mas a verdade é que Stieg e Nesbo despontaram nos últimos anos como os líderes de uma literatura escandinava que tomou conta do mundo: o romance policial. Baseados em investigadores incomuns (no caso de Harry ele é da polícia, mas nos romances de Larsson um jornalista e uma hacker se unem em investigações), esses livros navegam por paisagens sombrias e assassinatos macabros, colocando em cheque a sanidade dos próprios investigadores.
O romance policial é um dos tipos de literatura mais lidos no mundo. De Edgar Allan Poe a Agatha Christie , passando por Sidney Sheldon, a temática do “quem matou?” intriga o público, que dificilmente consegue largar esses livros. Por que então, a região escandinava se tornou berço dessa produção?
Talvez seja pelo frio congelante ou pelo fato da maioria desses países serem constantemente usados como exemplo de boa política, educação e economia. Talvez seja o alto consumo de literatura no geral, ou a percepção de que os romances policiais são altamente vendáveis, mas o fato é que a região escandinava, que inclui ainda Dinamarca e Finlândia, é fértil para essa literatura.
Outros autores
Nesbo e Larsson podem até ter os números mais altos e a popularidade mais evidente, mas eles definitivamente não são os únicos que prosperam no estilo. Outro nome de destaque é do também sueco Henning Mankell , criador do inspetor Kurt Wallander. A Suécia e sua paisagem bucólica também fazem parte de suas histórias como uma personagem coadjuvante. Em um de seus principais livros, e um dos poucos traduzidos para o português, “ O Homem de Beijing ”, uma série de assassinatos a velhinhos altera a rotina de um pequeno vilarejo na Lapônia, cidade do Papai-Noel.
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Camilla Lackberg também se destaca na Suécia. Seus livros – e os crimes contidos neles, se passam em uma pequena cidade na costa ocidental do país. A autora tem altos índices também. Suas obras, como “ A Princesa de Gelo ”, já foram traduzidas para 35 idiomas e já venderam mais de 18 milhões de cópias no mundo.
Já Lars Kepler é interessante não só pela qualidade de seus thrillers, mas também por que o nome nada mais é do que um pseudônimo para o casal Ahndoril, composto por Alexander e Alexandra Coelho. O casal iniciou tardiamente no mundo dos romances, mas fez sucesso em sua estreia com “O Hipnotista”. Se o estilo remete a temática policial, o nome do pseudônimo não é coincidência: “Lars” é uma homenagem justamente à Stieg Larsson.
Por fim, Arnaldur Indridason também tem um personagem detetive para chamar de seu. Erlendur também ganhou uma série de livros, iniciada em 1997 com o lançamento de “Sons of Dust”, não traduzido no Brasil. A série tem 11 títulos, mas somente alguns como “O Silêncio do Túmulo” e “Vozes” foram lançados em português.
Além dos crimes
Se a literatura policial é o destaque dos países escandinavos, isso não significa que esses países não prosperem em outros estilos. Knut Hamsun foi um polêmico escritor nascido na Noruega em 1859. Sem uma educação formal, eles escreveu mais de 30 títulos e foi premiado com o Novel de Literatura por “Os Frutos da Terra”. Não chegou a se filiar ao partido nazista mas simpatizava com a ideologia, chegando a presentear a medalha que recebeu pelo Nobel ao chanceler nazista Joseph Goebbels. Com “Fome”, um dos seus livros de maior sucesso, ele também tem a gélida Oslo como personagem. Mas, ao invés de destacar o crime como os autores acima, ele descreve uma vida dura e pobre, numa Noruega que ainda não era o “olimpo” que é hoje.
Por fim, Sofi Oksanen é a voz finlandesa a ser escutada. Com livros, peças de teatro e artigos escritos em diversas publicações, ela alcançou maior sucesso com “The Purge”, inicialmente escrito como peça, e depois transformado em romance. O livro ainda ganhou um filme na Finlândia e é a sua obra de maior destaque. Sofi também é ativista e parte disso se traduz em seus romances, como a causa LGBT , retratada em seu segundo livro, “Baby Jane”. Suas obras também lidam com elementos históricos e políticos sobre a antiga União Soviética.
A literatura policial está cheia de adeptos, leitores e escritores, na região escandinava , mas a região guarda outros ótimos representantes de boas histórias, tenham ela assassinatos ou não.
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