Quando o Forfun surgiu lá pelos idos de 2001 cantando sobre histórias de verão, Danilo Cutrim, Vitor Isensee , Nicolas Christ e Rodrigo Costa, na época com seus 18 anos, mais ou menos, não estavam realmente pensando em antropofagia, construção de marca, ou em construir uma banda, tijolo por tijolo. Ou talvez estivessem. Mas a verdade é que os meninos que cantavam sobre o melhor bodyboarder da rua ficaram para trás faz tempo. Foram muito anos tentando encontrar sua raiz e essa busca ficava mais evidente disco a disco. Até que, em 2014, eles lançaram “Nu” e deram início ao fim do Forfun , e ao começo do Braza.
Leia também: Festival Tenho Mais Discos Que Amigos celebra a música brasileira em Brasília
“Braza”, o disco, foi lançado em 2016 quando Braza , a banda, foi anunciada. Formado por três integrantes do Forfun, Danilo, Nicolas e Vitor, o novo trabalho começou a ser pensado ainda quando o antigo grupo fazia sua turnê de despedida. “O processo de composição foi simultâneo a turnê”, explicou Vitor Isensee, tecladista e vocalista do Braza em entrevista ao iG . O disco foi lançado quatro meses após o fim oficial do Forfun. O ano, então, se seguiu com uma série de shows pelo Brasil e participações em festivais, para apresentar o novo projeto.
Leia também: Francisco, El Hombre: "A galera não precisa dançar e sorrir, precisa explodir"
Agora, de surpresa, o Braza lançou seu segundo disco, “Tijolo por Tijolo”, cerca de um ano após o álbum de estreia. Vitor explica essa rapidez com uma “efervescência criativa”. Ele diz que o grupo já planejava fazer um sucessor em pouco tempo, também para “estabelecer a marca”. “Para estabelecer uma marca, entidade, conceito, nada é mais forte que produção, nada funciona sem o conteúdo”, explica. Vitor contou que o processo criativo deles é constante, mas foi em outubro do ano passado que eles começaram a reunir o material que já tinham até então. Depois do carnaval eles começaram a gravar o registro oficialmente lançado dia 1 de junho.
Evolução
Quando lançou “Nu”, o Forfun já mostrava um estilo que ia muito além do hardcore que marcou o início da carreira. Era inevitável que o Braza seguisse um caminho parecido, mas Vitor diz que a ideia era fazer algo novo, “outra história”. “O Braza é um passo numa nova direção. Por mais que traga bagagem do caminho que percorremos com o Forfun, O Braza é único”, comenta.
Isso de fato transparece na música da banda. De maneira menos sutil do primeiro disco, e mais coesa no segundo. “O ‘ Tijolo por Tijolo ’ dá um passo a frente nesse sentido – as músicas dialogam melhor entre si do que no anterior”, concorda Vitor. Se em “Braza” eles buscavam uma identidade, no segundo eles encontraram. As referências estão presentes no primeiro trabalho, mas ficam bem mais harmoniosas no segundo. Da faixa que dá nome ao disco, passando por “Qual é o Rosto de Deus”, “Moldado pelo Barro” e a excelente abertura com “Ande”, eles acertaram o tom. Tarefa essa que não é fácil, considerando que o grupo coleciona referências.
“A gente é bem eclético. Isso é bom mas pode ser traiçoeiro”, confessa Vitor. Ele comenta que classificar a música em uma “caixa” pode ser limitador quando se trata do som do grupo. “Não tem nada de errado em focar em um nicho ou em misturar”. No caso do Braza, Vitor comenta que três pilares criam a base para seu som: o reggae , o rap e a música brasileira .
Leia também: BaianaSystem critica nova política cultural: "Temos a pior perspectiva possível"
“Tem uma safra de artistas que eu percebo hoje no Brasil buscando um pouco a mistura, a antropofagia, que propõe misturar a raiz brasileira, o regional e criar uma coisa nova” comenta. Ele cita Francisco El Hombre, Baiana System e até Criolo (que lançou recentemente um disco de samba), como exemplos que fazem essa mistura. “Humildemente, acho que o Braza se encaixa nessa safra”.
Recomeço
Com a chance de começar algo novo, do zero, os meninos começaram a pensar no que sua música significava, o que eles queriam dizer. “O Braza, até por ter uma bagagem artística, começou a ser propor a fazer um caminho inverso do que fazia antes. Partimos de um conceito de criar e não criar e depois pensar no conceito”, comenta Vitor. “Quando nos vimos na oportunidade de começar de novo foi pensando no que a gente queria dizer, onde queríamos chegar. A espontaneidade também faz parte do fazer artístico, mas em alguns momentos também é importante ser espontâneo, mas saber onde quer chegar”, completa.
Para frente
“Tijolo por Tijolo” pede que você “Ande”, logo no começo. Assim como Vitor, Danilo e Nicolas fizeram com o fim do Forfun. Mas e o que ficou para trás? Além dos mais de 10 anos de banda, o fim significou a separação também de Rodrigo Costa, baixista do Forfun. Mas, Vitor conta que ele seguem amigos. “Rodrigo é meu irmão, já fui em shows dele, continua sendo amigo. Claro que o cotidiano de estar sempre se vendo diminuiu – são caminhos da vida”, explica.
E o caminho do Braza é parta frente. "Acho que essa mensagem está embutida na nossa obra. Essa ideia do caminhar, do evoluir – está na obra por que está na personalidade. Na verdade estamos fazendo referência ao nosso desejo de crescer de caminhar, evoluir”, conclui Vitor.
Leia também: Com Ney Matogrosso, série do canal MAX dá voz à arte de envelhecer