Há cinco anos surgiu a ideia de organizar algumas fotos de seu portfólio e, quando se deu conta, Jorge Bispo já estava entrando na 4ª temporada de seu programa no Canal Brasil “302”, que nasceu, literalmente, no canto de seu apartamento. Desde o início do projeto, mais de 100 mulheres já tiveram suas histórias registradas pelas lentes do fotógrafo que, acostumado a lidar com grandes famosas, encarou o desafio de trabalhar com pessoas comuns. Com estreia da nova temporada marcada para a próxima sexta-feira (30), Jorge conversou com o iG sobre os caminhos que o “ Apartamento 302 ” tomou ao longo do tempo.
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A beleza das histórias
“Esse projeto vem sendo uma surpresa atrás da outra”, comenta Jorge Bispo sobre o sucesso inesperado que “ 302 ” fez. Segundo ele as coisas começaram casualmente por sugestão de uma assistente e assim as coisas foram se desenvolvendo. Tudo começou com um blog onde publicava fotografias de mulheres que topavam se despir para o projeto e após a repercussão positiva abriu um crowdfunding para transformar os registros digitais em um livro. Do livro veio um convite de uma produtora para investir e seguir para a televisão e o Canal Brasil topou a ideia de dar espaço para contar a história dessas mulheres das fotos. Bispo conta que viu na produção uma oportunidade de explorar mais quem eram aquelas pessoas de fato: “vamos deixar que elas mesmas contem porque estão aqui”.
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Para o fotógrafo as fotos foram acontecendo naturalmente e ele revela que, de princípio, estava mais interessado em explorar a estética daqueles nus, mas que com o tempo se deu conta que tinha algo bem maior em mãos. “Acho que elas têm muito a dizer”, explica. Com o programa no Canal Brasil, Bispo conta que pôde ir mais longe na sua proposta: onde antes havia ele como fotógrafo registrando a nudez de corpos femininos, abriu-se a possibilidade de dar voz para as participantes do projeto. Cada episódio monta um breve perfil das voluntárias em contraste com seus cliques reveladores.
Acostumado a trabalhar com celebridades, Bispo salienta que isso é somente um detalhe: “é sempre uma surpresa esse encontro com outra pessoa”. Ele comenta que apesar de estar frente a frente com famosos ter suas particularidades, fotografar “anônimos” não é tão diferente assim do que se imagina. “Isso é sempre uma briga entre o fotógrafo e o fotografado [...] é uma briga entre o que eu vejo, o que ele é de verdade e o que ele quer mostrar”, revela.
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Os ensaios casuais baseados no silêncio, como ele mesmo descreve, transformaram-se em um verdadeiro documentário da vida real de mulheres que tem muito a dizer. Jorge Bispo assume que o mérito do programa – que ele admite acompanhar como espectador e se surpreender com as personagens – vem, basicamente, da equipe composta somente por mulheres, exigência dele mesmo para captar essas histórias. Entrando mais uma edição, “302” está longe de acabar. Bispo comenta que não consegue ver um final para o projeto tão cedo. “Tenho dúvidas se tem limites para isso, não sei como fazer parar”, revela. A quarta temporada de “302” trará mais 26 perfis e estreia na próxima sexta-feira (30) à meia noite no Canal Brasil.