Distribuído pela Vitrine Filmes, “Mulher do Pai” é o longa de estreia da cineasta Cristiane Oliveira e combina ambição e sutileza com rara beleza. “É um filme que fala de fronteiras”, observa em entrevista ao iG. “Sobre encontrar o teu espaço, o espaço do outro. O toque está muito relacionado à construção de intimidade”.

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Cena do filme Mulher do Pai, que estreia nos cinemas na próxima quinta-feira (22)
Divulgação
Cena do filme Mulher do Pai, que estreia nos cinemas na próxima quinta-feira (22)

Intimidade é uma palavra-chave em “Mulher do Pai” , que acompanha a relação entremeada por tensões entre Ruben (Marat Descartes), um homem cego que vive da parca aposentadoria e do trabalho de tecelagem, e a filha dele, Nalu (Maria Galant), uma adolescente de 16 anos que sonha em sair daquela vila afastada e dependente da atividade pecuária. A relação dos dois passa por profundas transformações após a morte súbita da mãe de Ruben.

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Nalu precisa assumir certas responsabilidades na casa e no cuidado do pai, o que gera estranhamentos jamais verbalizados. Cristiane conta que o filme surgiu da vontade dela de “trabalhar a relação pai e filha” e admite que há muito de pessoal na história de Ruben e Nalu. “Eu também vivenciei uma reaproximação do meu pai quando tinha 16 anos”. Mas ela adicionou elementos a este conflito.  Da experiência como curta-metragista, em que se deparou com a história de uma jovem cega, veio a deficiência visual de Ruben. “Eu me perguntei e se fosse uma filha: tendo que descrever o mundo para o pai?”

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A diretora de Mulher do Pai, Cristiane Oliveira

Marat Descartes , que já conhecia Cristiane de outros projetos em que ela atuara como produtora ou roteirista, disse que foi justamente essa vulnerabilidade do personagem que o atraiu. “Primeiro a coisa dele ser cego. De cara, um desafio enorme pela frente já que, eu, em geral, não tendo a enveredar muito pela composição física”, confessa. “Segundo por esse processo pelo qual atravessa o personagem que começa o filme muito amargurado e vai ficando mais leve”, observa o ator. “A curva que o personagem passa”.

As gravações foram realizadas na vila de São Sebastião, no distrito de Torquato Severo, município de Dom Pedrito no Rio Grande do Sul. “Sempre imaginei, no roteiro, que tornaria a relação deles mais forte”, advoga a cineasta a respeito da escolha de um lugar afastado para ambientar a história e fazer as gravações. “Aquela região foi escolhida pela cultura da pecuária, da criação de gado. É folclórica da cultura gaúcha”, observa Cristiane. “É uma cultura que tem o homem como figura central”.

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O processo de imersão foi diferente para Maria e Marat. Se ela, que já tinha experiência no teatro, desenvolveu um laboratório de mais de um ano com Cristiane, Marat chegou com as filmagens por começar – mas antes fez um laboratório no Instituto Laramara, que presta assistência às pessoas com deficiência visual. Urdido com paixão, zelo e muito planejamento, “Mulher do Pai” é pauta para Cristiane Oliveira desde 2009, quando ganhou um prêmio de fomento para desenvolver o longa.

Vem do Rio Grande do Sul, com “Mulher do Pai”, um dos filmes mais sensíveis, táteis e inteligentes que o cinema nacional tem a ofertar na temporada.

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