O racismo na televisão e no cinema é recorrente. Desde a reprodução de estereótipos de personagens negros até mesmo a ausência de narrativas que tenham como protagonistas pessoas negras – tanto nas telonas quanto nos bastidores – revelam um sistema que precisa ser urgentemente modificado.
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Apesar de o cenário ser desfavorável, muitas obras audiovisuais conseguem romper as barreiras na sociedade e trazer diversas reflexões que nos fazem repensar o nosso racismo diante da sociedade. Confira algumas delas:
“Cara Gente Branca”
A série original da Netflix nem havia sido lançada e já tinha usuários querendo boicotá-la, propondo o cancelamento do serviço de streaming. Derivada de um filme de 2014, “Cara Gente Branca” conta a história de jovens negros em uma universidade de elite e todas as relações complexas que são criadas dentro desse ambiente. A série aborda questões como colorismo, relações inter-raciais, apropriação cultural e o racismo institucionalizado, que resulta em uma constante violência policial. Apesar de retratar o cenário dos Estados Unidos, a série ainda dialoga bastante com a realidade brasileira.
“Moonlight: Sob a Luz do Luar”
Vencedor do Oscar 2017, o longa conta a história de um jovem que enfrenta as dificuldades de crescer em uma periferia dos Estados Unidos onde as drogas e a violência são realidades cotidianas. Além disso, ele também tem que enfrentar os preconceitos da sociedade enquanto busca descobrir a sua própria sexualidade. O filme possui um elenco completamente negro e foge dos estereótipos de Hollywood, mostrando personagens muito mais complexos.
“Hotel Ruanda”
O longa reconta os fatos de 1994 durante um conflito civil em Ruanda, tendo como protagonista um gerente de Hotel que toma a decisão de abrigar diversos refugiados no local, ainda que os riscos para esse feito possam custar a sua própria vida. Além de relembrar fatos históricos, o filme também revela a maneira como os países da África são tratados diante do cenário global, criticando a falta de interesse de grandes organizações em proteger os seus civis.
“13ª Emenda”
Indicado ao Oscar 2017 de Melhor Documentário e também uma das produções originais da Netflix, o longa tem como intuito questionar o racismo institucionalizado pela 13ª emenda do país, que estabelece trabalho forçados para presidiários, majoritariamente jovens negros. Além disso, o filme também traça um paralelo com a questão carcerária do país e a desigualdade racial. O longa foi dirigido por Ava DuVernay, que também retratou os conflitos da icônica passeata de Martin Luther King Jr. em “Selma: Uma Luta Pela Igualdade”.
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“Cidade De Deus”
O filme brasileiro foi bastante aclamado pela crítica e chegou até mesmo a ser indicado ao Oscar, representando o país na disputa cinematográfica. O longa é baseado no livro homônimo e retrata a criação do crime organizado na comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro retratando também, de maneira crua, as relações entre a violência e o racismo
“Histórias Cruzadas”
A história se passa nos anos 1960, durante a segregação racial dos Estados Unidos, mas traz reflexões sobre o racismo que pode ser facilmente relacionadas aos dias de hoje. No Mississipi, uma jovem da elite branca resolve reunir as vivências em um livro de diversas mulheres negras que são empregadas domésticas e cuidam de filhos dessa classe alta da cidade. A atitude desperta um desconforto na comunidade, mas a cada história que Skeeter (Emma Stonne) ouve acompanhada de Aibileen Clark (Viola Davis) só prova que o trabalho de ambas é mais que necessário para escancarar o racismo da sociedade.
“Casa Grande”
Inserido diretamente na realidade brasileira, “Casa Grande” remonta a história de uma família burguesa de um bairro nobre no Rio de Janeiro. De pouco em pouco, a vida começa a mudar por conta de problemas financeiros e a vida confortável da família vai ganhando um novo formato em que as relações com os funcionários da casa acabam sendo inclusive afetadas. Os conflitos começam a aumentar quando um dos filhos do casal, Jean (Thales Cavalcanti) conhece uma garota por quem se apaixona durante um trajeto de ônibus que possui uma realidade completamente diferente da dele.
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“Que Horas Ela Volta?”
A temática das casas burguesas também volta para o filme “Que Horas Ela Volta?”, que conta a história de uma empregada doméstica interpretada por Regina Casé e as complexas relações que ela constrói com os seus patrões. As coisas ficam mais complicadas quando sua filha vem do Nordeste para prestar vestibular e não se conforma com as condições nas quais a mãe é obrigada a viver.
“The Get Down”
Também série original da Netflix, “The Get Down” conta a história do nascimento do hip hop, expressão cultural que teve grande notoriedade no bairro do Bronx entre os anos 1970 e 1980 pela população negra. A série permeia a marginalização do movimento e até mesmo a sua ascensão, sob os olhos desses jovens negros.
“Batalhas”
“Batalhas” é um documentário original do Afroflix, plataforma online que disponibiliza conteúdos que possuem ao menos um negro em posição de destaque na produção. O filme relembra quando o Teatro Municipal do Rio de Janeiro recebeu pela primeira vez um espetáculo que tinha como personagem principal o funk e toda a cultura que circunda o estilo musical, propondo que a cultura que nasce nas favelas, que muitas vezes é criticada por conta do racismo, também é digna de reconhecimento no universo artístico.