Com mais de vinte anos na atividade, O Rappa anunciou na última semana que iriam entrar em pausa por tempo indeterminado ao final da sua turnê, em fevereiro de 2018. A banda que foi formada em 1993 ganhou destaque entre os anos 1990 e o início de 2000 com diversas músicas que traziam a tona questões sociais. Apesar de terem passados por tempos conturbados com a saída de um dos fundadores da formação original, Marcelo Yuka, em 2002, o grupo é considerado responsável pela criação de hits que entraram pra história da música brasileira .
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Entre canções animadas como Pescador de Ilusões para as que retratam sérios conflitos sociais como T odo camburão tem um pouco de navio negreiro , O Rappa se consolidou como um grande nome no universo musical do País. Agora, com a pausa anunciada, restou aos fãs preencher o vazio relembrando os aprendizados que já foram cantados pelo grupo. Confira:
Paz sem voz é medo
Um dos hits mais famosos d’O Rappa, Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero) , revela um questionamento sobre uma incansável busca pela paz. A canção em si questiona que tipo de paz deve se procurar, já que “Paz sem voz/ Não é paz é medo”, recusando a ideia do silêncio como forma de atingir esse ambiente pacífico. Para complementar a reflexão da música, a banda lançou um videoclipe que foi bastante ovacionado pela crítica na época e traz como enredo a vida de pessoas em uma favela no Rio de Janeiro e a guerra civil que a presença policial pode causar, fazendo uma grande referência à obra de Fernando Meirelles, “Cidade de Deus” (2002).
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
O título da música já diz um pouco sobre o conteúdo incisivo que letra traz. Do primeiro álbum de estúdio, ”O Rappa”, a banda tenta descrever como a escravidão está ligada à maneira como a população negra é tratada no Brasil. “O tempo passa mais lento pro negão/ Quem segurava com força a chibata/Agora usa farda”, canta Marcelo Falcão em referência à violência policial e o racismo da instituição. Além disso, a canção também critica a falta de atenção da imprensa mundial com a África e seus problemas sociais.
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A força do nordeste
O último DVD do Rappa foi gravado em Pernambuco e contou com a participação de artistas nordestinos enaltecendo o ritmo da região. Entretanto, a relação da banda com esse pedaço do país sempre foi de afinidade, como demonstra a canção Súplica Cearense , composição de Luiz Gonzaga que foi regravada em 2008 pela banda. A nova versão fez sucesso, reaproximou o público jovem do clássico artista e ainda entrou para as músicas mais ouvidas da época. Logo, surgiu um videoclipe que remontava de maneira didática a força da comunidade de Canudos no interior do sertão baiano no final do século XIX.
Conflitos reais na pele
Mais uma vez, a temática da violência na periferia reaparece na obra d’O Rappa com a canção Fogo Cruzado . Nessa letra, a banda busca transparecer o sentimento de quem vive diante dos conflitos que ocorrem no “gueto”, como apresenta a canção. A canção ainda é um protesto contra a desigualdade social carioca, estampando também o conformismo das classes mais favorecidas: “Que se orgulham do Cristo/De braços abertos, mas não abrem/As mãos/Prá novos ventos”, revela a canção.
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Ter fé
Uma das canções mais recentes d’O Rappa, que integra o décimo álbum de estúdio, “Não tem fim...” (2013) também traz uma boa lição para os seus fãs. Anjos (Pra Quem Tem Fé) surge depois de um hiato de cinco anos da banda sem gravar um álbum de estúdio e com a letra revela a importância da esperança porque “Pra quem tem Fé/A vida nunca tem Fim”.