De vez em quando surge um filme pequeno não americano, ainda que falado em inglês, distribuído pelos irmãos Weinstein que vai ganhando buzz ao longo do ano e chega forte ao Oscar . Na temporada 2017, esse filme é “Lion – Uma Jornada para casa”. São muitas as semelhanças entre o filme e o grande vencedor do Oscar 2009, a começar pelo protagonista Dev Patel . Cá como lá, um menino indiano sobrevive a incríveis adversidades e confecciona uma extraordinária história de superação.

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Cena do filme Lion - uma jornada para casa
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Cena do filme Lion - uma jornada para casa

As diferenças, no entanto, jogam a favor de “Lion – Uma Jornada para Casa” . Baseado em uma história real, o filme recria a trajetória de Saroo Brierley, apoiando-se no livro “A Long Way Home” de autoria do próprio Saroo. Quando criança, o menino se perdeu de sua família por uma série de infelizes eventos. Passou meses de agonia nas ruas e em um orfanato antes de ser adotado por uma família australiana. Já adulto, se lança em uma insidiosa investigação para descobrir o paradeiro de sua mãe e irmão biológicos.

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O filme australiano, falado em inglês, bengali e hiindi, dois dialetos indianos, se aparta fundamentalmente da comparação com o famoso filme de Danny Boyle por buscar matizes do cinema indiano e evitar a aura hollywoodiana tão disseminada no acelerado “Quem Quer ser um Milionário?”. Os personagens respiram e não são apenas arquétipos.  Nicole Kidman e David Wenham, que fazem o casal rico australiano decidido a dar amor a quem precisa, mesmo com pouco tempo em cena, adensam seus personagens com uma eficácia tremenda. Um mérito que precisa ser compartilhado com o diretor Garth Davis , aqui em seu primeiro – seguramente de muitos – longa-metragem para cinema. Ele demonstra irrepreensível domínio da história. Se o primeiro ato pode parecer excessivamente piegas e um tanto manipulador a princípio, o desfecho do filme o legitima com força dramática ímpar. Davis tem seu filme na mão, mas o adorna com interpretações generosas, trilha sonora precisa e pontual e uma montagem que sabe mexer com o expectador no momento certo.

Dev Patel em
Divulgação/Adoro Cinema
Dev Patel em "Lion - Uma Jornada para Casa", de Garth Davis


“Lion” é um filme muito bem vitaminado. Há grandes cenas, como quando essa família com um passado cheio de dor e silêncios se reúne em um jantar e ressentimentos ganham voz.

Davis é hábil em pegar uma história de grande valor humano, como essa em que um casal que tem tudo na vida decide doar amor, o artigo mais valioso e escasso no mundo de certas pessoas, e de como a culpa se manifesta da maneira mais súbita e atroz – e uma iguaria da cozinha indiana é sutilmente usada como artífice desse vendaval emocional.

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Dev Patel, que também brilhou em 2016 em “O Homem que Viu o Infinito”, alterna leveza e intensidade em um papel tão carente de um ator no melhor de sua forma e acaba entregando a performance de sua carreira até o momento.  Mas sua atuação não teria metade do impacto emocional se não fosse pelo carismático Sunny Pawar , que abraça o personagem de Saroo quando criança, com muito coração. É de seu olhar tenro, gentil, mas também amedrontado, que “Lion – Uma Jornada para Casa” larga para se tornar o filme cativante que é. 

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