Eles dominaram a internet, já estão na TV, invadiram o mercado editorial e agora estão se preparando para ter as maiores bilheterias do cinema nacional. A essa altura, já é incontestável: os youtubers
são a grande força desta década.
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Não à toa, os youtubers viraram os queridinhos de todo mundo. Eles estrelam campanhas publicitárias, apresentam programas de TV e até entrevistam astros internacionais. Isso é ainda mais perceptível na área do entretenimento: os influenciadores, youtubers e blogueiros chegaram ao mesmo patamar dos veículos da mídia tradicional e são constantemente convidados para entrevistas com atores de Hollywood, visitas exclusivas e outros eventos que só a velha mídia tinha acesso.
"As agências estão percebendo o valor do YouTube e da internet", explicou Carol Moreira , que tem um canal com mais de 300 mil inscritos na plataforma de vídeos do Google, ao iG . Ela não acredita que os influenciadores digitais sejam uma tendência. "Tendência não é a palavra, mas percebeu-se que a internet dá resultados e as pessoas se sentem próximas", disse.
Mudança tecnológica
Antes de ter seu próprio canal, Carol Moreira coordenou a área de vídeos do site Omelete . Formada em cinema, ela aproveitou sua desenvoltura natural para também aparecer na frente das câmeras falando sobre filmes e séries. "A gente via que muitos sites não tinham vídeos nem canal no YouTube. Hoje isso está mudando. É tudo uma evolução tecnológica", afirmou.
Essa proximidade com o público que o YouTube proporciona também chama a atenção de Franthiesco Ballerini . Autor do livro " Jornalismo Cultural no Século 21 ", ele se surpreendeu com as mudanças que a internet provocou no jornalismo. "Desde os anos 2000 existe um acesso maior à informação gratuita. O jornalismo cultural foi o que mais sofreu com isso, com o fechamento de revistas segmentadas", disse o professor ao iG .
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Apesar da difusão da internet e da informação gratuita terem sido decisivos para o fim de revistas especializadas em cultura, Ballerini acredita que o jornalismo cultural pode se beneficiar das novas tecnologias. "As plataformas digitais oferecem um mundo novo ao jornalismo cultural", garantiu.
Avaliando as coisas por outro lado, a jornalista Carol Pascoal vê a área um pouco atrasada quando o assunto é novas ferramentas digitais. "O jornalismo cultural ainda está tentando entender como usar o YouTube", disse. Depois de cobrir música em veículos como O Estado de S. Paulo , ela agora é a cordenadora de comunicação da Inker Agência Cultural , que atende artistas como Elza Soares e Liniker .
Cultura combina com YouTube?
Pelo lado dos clientes, Pascoal acredita que o YouTube ainda não substitui as mídias tradicionais. "O artista ainda pode aparecer na Globo e ir no 'Programa do Jô'. Ainda está meio nebuloso como trabalhar cultura com youtuber", afirmou. Suas maiores experiências com os influenciadores aconteceram espontaneamente: a primeira foi quando Liniker foi citada em um vídeo de Jout Jout (que tem mais de 1 milhão de seguidores na rede), e a segunda foi com a inclusão de uma música de Elza Soares na série "3%", na Netflix.
"Minhas amigas de outras agências, que trabalham com marcas maiores, têm uma demanda maior por youtubers. A publicidade conseguiu sacar a internet antes do jornalismo", comparou a jornalista.
Ameaça ao jornalismo
Parte disso pode ser explicado pelo capital cultural da mídia tradicional. Apesar de diversos canais na rede terem mais acessos do que matérias de grandes portais ou leitores de jornais e revistas, a velha mídia ainda tem uma grande influência. "Se você é capa de jornal hoje e libera um disco na internet, provavelmente não vai bater nem 30 mil downloads. Mas isso tem mais valoração", explicou.
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Para Franthiesco Ballerini, essa valoração vem da credibilidade da mídia tradicional. Ele acredita que o trabalho de youtubers e afins se aproxima mais do marketing do que do jornalismo. "Eles promovem a própria marca ou a marca que eles admiram. Na verdade não são nem críticos, são fãs", explicou. Isso também joga a favor dos canais do YouTube na disputa pela atenção de marcas e clientes. "Esse caminho é menos trabalhoso porque os jornalistas sérios questionam e nem sempre falam bem", continuou o professor.
Entretanto, ele confia que o público consegue perceber o que é jornalismo e o que é propaganda. "Sempre vai haver um público que tem discernimento e não quer perder tempo com desinformação. Mesmo o público leigo se cansa de propaganda", explicou. "Quem está consumindo propaganda disfarçada de jornalismo cultural vai procurar um jornalista sério", disse, citando a Europa e os Estados Unidos como exemplo.
Apesar da atuação dos youtubers ficar na corda bamba entre jornalismo e propaganda, o consenso é que eles não ameaçam tomar o lugar já consagrado do jornalismo cultural. Mas isso não significa que a área não precisa se reinventar. "A internet é o futuro. Os jornais e as coisas que estão na TV sempre vão querer estar conectadas", garantiu Carol Moreira. Caso isso não aconteça, o futuro não é animador. "Não sou otimista com o futuro dos jornais e revistas físicas. É uma boa notícia se essas empresas segurarem os leitores oferecendo interatividade", explicou Francisco Ballerini.