Nos últimos anos, a produção audiovisual brasileira tem ganhado notoriedade, tanto em território nacional quanto internacionalmente, sendo aclamada pela crítica e recebendo indicações de conceituados prêmios do cinema , como aconteceu “Boi Neon” (2016). Diante desse alcance, nos bastidores, uma grande emissora de conteúdo brasileiro, o Canal Brasil, se destaca pelo seu incentivo à produção cultural no País.
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Nascido em 1998, o Canal Brasil surgiu da necessidade das prestadoras de serviço de TV a cabo de incluir um canal cujo foco seria as obras cinematográficas e audiovisuais brasileiras. Entretanto, de lá para cá o canal sofreu intensas mudanças e deixou de ser apenas um acervo para se firmar como um tenaz produtor de conteúdo. “Essa mudança começou a ocorrer em meados de 2004 e 2005. Começou como um canal só de cinema, especialmente naquela época, que tinha uma produção limitada de filmes. A gente começou a desenvolver e perceber uma oportunidade de conteúdo diferenciado que não via na televisão”, revela André Saddy, diretor de Conteúdo e Comunicação do Canal Brasil em entrevista ao iG .
Ele explica a gênese da mudança. "Eram programas de cultura que traziam um pouco de perfil que entrava no canal, mais transgressor menos superficial. Naquele primeiro momento teve ‘Tarja Preta’ e, mais para frente, nós fomos ampliando o leque até que chegamos aqui com muitas produções, mas ainda assim mantendo 70% da grade dedicada ao cinema brasileiro”, completa Saddy.
De maneira intencional, o Canal Brasil acabou tornando-se uma grande referência no que diz respeito à produção do audiovisual brasileiro. No início, a programação ainda tímida seguia o formato da televisão tradicional, com entrevistas e séries de ficção. Mas, de 2009 para cá, cerca de 230 filmes de longa metragem já foram produzidos pelo canal. “Quando você puxa canais estrangeiros como referencia é muita coisa mesmo”, reflete André. Assim, o canal foi deixando registrado uma integração entre o cinema e a televisão brasileira.
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O formato do Canal Brasil fez tanto sucesso que rendeu grandes produções na história do audiovisual no País – e o aclamado “Boi Neon” é uma dessas. “Acho que de uma forma mais ampla é o volume de produção que acaba trazendo esse tipo de retorno. Quando você tem um país produzindo oito filmes por ano não vai acontecer; quando há uma produção mais ampla, acaba tendo todo tipo de cinema sendo feito, desde filme mais autoral até produções super comerciais. E aí entre uma coisa e outra se tem cada vez mais gente produzido e com uma qualidade incrível”, reflete André.
O canal chegou a realizar coproduções internacionais, como “Adolfo Celi, um homem para duas culturas”. ”Foi uma das primeiras coproduções nossas e não é todo projeto que a gente produz que tem espaço internacional. Mas vários dos filmes que a gente coproduz tem esse potencial”, comenta.
Além dessas parcerias, o Canal Brasil também é um grande aliado das produtoras independentes brasileiras. “O investimento é maior então todo mundo viu que era melhor, além de ter uma contrapartida maior de exclusividade. Nós temos um olhar diferente do que faz os outros canais. Existe uma referência que costumamos usar aqui que é o AMC, nos Estados Unidos. Um canal que começou de maneira idêntica ao Canal Brasil, de filmes clássicos e que em algum momento começaram a abrir e ampliar o foco para séries e começaram a produzir. Eles tinham umas séries que tinham sido recusadas pelos canais tradicionais e essa aposta em conteúdo diferenciado acabou distinguindo-os. Tentar fazer diferente, tentar experimentar, coisas que a gente não vê muito na televisão tradicional”, revela André. “Aqueles filmes que tem uma repercussão maior que ganham festivais são todos do canal”, completa.
Concursos e parcerias
Além das produções inéditas, o Canal Brasil também é responsável pela realização de concursos que auxiliam na ampliação do audiovisual brasileiro. O Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas é um exemplo. “Esse prêmio foi uma das primeiras ações em marketing tendo o primeiro prêmio em 1999”. O intuito do concurso é, além de premiar em dinheiro os melhores curtas, o que para André auxilia as dívidas dos produtores, também tem como foco a aquisição dessas obras para que elas possam fazer parte da programação do Canal Brasil. “É uma maneira da gente incentivar a produção de curtas e de uma certa maneira nos aproxima também do canal dessa nova produção”, afirma.
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Apesar de este ser o único concurso periódico do Canal Brasil, parcerias com festivais de cinema são realizadas há muito tempo, como o de documentários “É Tudo Verdade”, o de música “Leds”, o “AnimaMundi” e o “CineFoot”, ligado a um dos esportes mais aclamados do Brasil, o futebol. “Convidamos o realizador para fazer curadoria e é interessante para a gente porque tem um selo de qualidade desses”, revela.
Para o futuro do Canal Brasil, o incentivo à cultura brasileira e ampliação de novos formatos é certeiro. ”Temos sido bastante agressivos em lançamento de novos conteúdos nas redes sociais. A série “Larica Total” foi exibida no facebook e no canal e fizemos isso com “Fim do Mundo”. A “Amor de 4” está aberta no nosso site e não sei se vai ser exibida em filme. Então queremos esse tipo de agressividade de levar o canal para o maior número de pessoas possível buscando sempre o equilíbrio do alcance desse conteúdo de qualidade”, comenta André Saddy. “É sempre isso: manter-se como a casa do cinema brasileiro, mas que sempre estará abrindo espaço para o que tem de melhor de produção”, completa.
Confira produções do Canal Brasil