A nossa pequena coluna teve acesso ao processo nº 1022293-75.2022.8.26.0001 , em que o autor Marcos Ki Suk Lee move contra a youtuber e influenciadora digital Camila Loures . O motorista de aplicativo acionou o judiciário após a influencer expor em suas redes sociais o ocorrido de forma danosa à imagem do prestador de serviços.
O fato ocorreu no dia 18 de maio de 2022, quando o motorista Marcos recebeu a solicitação de uma viagem de Camila Loures . Assim como faz com todos os passageiros, ele buscou a influenciadora em seu ponto de embarque. Ela estava ao lado de um rapaz. Marcos pegou as bagagens dos passageiros, guardou no porta malas e seguiu com a viagem.
O motorista foi surpreendido com um pedido de tom alterado vindo da influencer, solicitando que ele fechasse os vidros do carro. O motorista fechou a janela do lado direito (passageiro) e deixou um vidro do motorista semi fechado com uma distância de três dedos para não ficar 100% fechado. O motorista alegou que, não satisfeita, Camila esbravejou com ele em tom de superioridade alegando que mandou fechar todos os vidros e o mesmo respondeu a youtuber que não poderia fechar totalmente, pois, ainda estávamos em meio a pandemia e os protocolos deveriam ser respeitados. Mesmo com a explicação de Marcos , Camila disse que solicitou Uber Black e não Uber X e alegou que apenas a opção mais barata era obrigada a seguir os protocolos, respeitando à risca as recomendações dadas pela OMS, o motorista disse não mais uma vez para a youtuber e disse que se ela não estivesse de acordo ela poderia solicitar uma nova corrida com outro motorista.
Após o motorista Marcos se impor, Camila gritou e disse que não pediria outra corrida, que ele iria levá-la sim até seu destino final. No mesmo instante, o autor do processo contra a influencer estacionou o carro em um lugar seguro e protegido, retirou as bagagens do porta-malas e encerrou a viagem. Antes de partir, Camila disparou "ridículo" filmando e expondo toda situação de forma desconexa com a versão do motorista nos autos.
Logo após o ocorrido, Camila postou em seu Instagram um vídeo contato sua versão e expondo nitidamente o motorista Marcos, sem nem pensar que o mesmo estava apenas prestando um serviço e que estava seguindo as normas sanitárias para evitar a propagação do vírus.
O processo contra Camila Loures trata-se de uma ação indenizatória por Danos Morais, cumulada com Dano à imagem , já que Camila expôs em sua rede social onde acumula mais de 18 milhões de seguidores.
Contestação de Camila Loures
Em setembro de 2022, a youtuber apresentou sua peça de defesa, a Contestação. Desde o início, Camila sustentou a existência de uma falha na prestação dos serviços pela Uber. Isso porque, quando o fato aconteceu em 18 de maio de 2022, inexistia determinação legal para manutenção do protocolo da COVID-19 nos transportes como táxis e aplicativos de transporte. Cinco dias antes dos fatos havia saído o Decreto nº 61.307 da Prefeitura de São Paulo, publicado em 13 de maio de 2022, dispensando o uso de máscaras e protocolos COVID em veículos particulares de transporte de pessoas. Não haveria obrigatoriedade sequer do uso de máscaras dentro do veículo, que dirá a necessidade de que os vidros permanecessem abertos durante a corrida.
Além disso, seria importante ter em mente que o dia dos fatos foi o mais frio da série histórica da Cidade de São Paulo, atingindo a sensação térmica de 7ºC. Camila, por sua vez, é de Belo Horizonte, não estando acostumada a enfrentar temperaturas tão baixas. A escolha do Uber Black estaria relacionada a este fato, visto que, nessa categoria, é possível selecionar algumas preferências da viagem, como, por exemplo, o funcionamento do aparelho de ar-condicionado/aquecedor.
O motorista, embora faça todo o possível em sua Petição para pichar Camila como uma pessoa mesquinha e esnobe, estaria ocultando fatos importantes da história. Isso porque, segundo a youtuber, ele, sim, teria sido grosseiro e áspero com a Ré desde o momento em que ela e seu acompanhante adentraram o veículo.
Camila diz que, quando solicitou que as janelas fossem fechadas, o fez de forma gentil e educada, enveredando até mesmo para um tom de brincadeira. Ela teria dito: “Nossa, moço! São Paulo está nevando hoje, hein?! Teria como fechar o vidro porque está muito frio?!”. Sem retribuir a brincadeira, Marcos teria se limitado a fechar o vidro direito, deixando o esquerdo quase completamente aberto, de modo que o vento frio continuava a atingir a face da Ré.
Ao dizer que deixara “três dedos” de vidro abertos, o próprio Autor estaria deixando claro que em momento algum se importou com o atendimento ao protocolo de segurança da COVID. Após a solicitação de Camila, o motorista fora cortante ao responder que não poderia fechar as janelas. Ela disse ter ficado muito assustada e desconfortável com a forma que ele a respondera, principalmente dado o fato de que seu comportamento era ríspido desde o início da corrida.
Ela chegara a explicar, de forma calma, que havia solicitado o carro na categoria Uber Black exatamente porque poderia contar com o conforto de um aquecedor no dia mais frio do ano. Foi então que a situação escapou do controle, ao passo em que Marcos, de forma extremamente deselegante, respondeu: “Então você desce e pega outro carro”.
Em essência, a Contestação de Camila Loures se apresenta como uma extensão do que a celebridade teen já havia compartilhado com os seus seguidores através das redes sociais. Ela sustenta sua defesa na ideia de que não agira em momento algum com falta de respeito ou com petulância, conforme narrado junto ao juízo. Na verdade, a postura reprovável e a precariedade na educação seriam problemas do próprio Autor, que prestará seus serviços no aplicativo de transporte de modo problemático e indevido.
Reposta de Ofício da Uber:
No dia 13 de janeiro de 2023, sexta-feira, a Uber decidiu se posicionar sobre o ocorrido. Ela foi categórica ao afirmar que o motorista cadastrado na plataforma não presta os seus serviços à Uber, mas sim aos usuários do aplicativo. Além disso, inexiste vínculo empregatício com os motoristas, o que, por óbvio, é um ponto relevante para entender como a empresa se encaixa em toda a narrativa dos fatos e no ocorrido entre Marcos e Camila.
Ela afirmou que o Uber Black é uma opção de viagem criada para oferecer uma experiência de alto padrão aos usuários, sendo que os veículos dessa categoria precisam atender a alguns requisitos. Entre eles estão: quatro portas, cinco lugares e banco de couro. Tudo isso para garantir maior conforto ao passageiro, que está pagando um valor mais alto para aquele tipo de viagem.
Em relação às preferências do passageiro, a Uber disse que os motoristas são, sim, comunicados sobre as mesmas assim que a viagem é solicitada. Contudo, mesmo que Camila tenha solicitado o uso do ar-condicionado, o Brasil ainda estava sufocado pela pandemia da Covid-19 e isso não pode ser negligenciado. Não obstante, os motoristas são prestadores independentes, tendo toda a autonomia para aceitar e recusar viagens, de acordo com o que for mais conveniente, sem qualquer interferência da Uber.
Na prática, a empresa se limitou a prestar uma resposta técnica, sem, em qualquer momento, realmente fazer um juízo de valor ou de razão sobre o imbróglio judicial. O caso continua correndo na justiça, caminhando para a fase de produção de provas e, posteriormente, sentença.
Será quem está certo nessa, hein? O motorista que agiu de forma coerente ao momento e pensou na proteção de si e dos passageiros como num todo ou de Camila Loures que agiu por impulso em expor o motorista de aplicativo?