Tadeu Schmidt provou que o Big Brother Brasil requer coração forte. Não somente para os jogadores, como também para os telespectadores. Com sua genialidade, fez o coração de milhares de fãs do reality show parar por alguns segundos ao se comunicar em Libras no final do discurso de eliminação na madrugada desta quarta-feira (2). Tudo indicava que ele anunciaria a saída de Jessilane Alves. Como somos ignorantes...
O apresentador do BBB22 usou a Língua Brasileira de Sinais para avisar a professora de Biologia, que domina o gestual, que ela poderia ficar calma e que não precisava ficar triste. Em seguida, deu sua cartada de mestre ao anunciar a saída de Rodrigo Mussi, o jogador que não entendeu nenhum dos sinais que foram dados desde o primeiro dia do programa.
Um texto primoroso, que começou citando a dificuldade de enxergar o jogo mesmo com os olhos funcionando plenamente, e encerrou "falando" sem usar a voz. Costurou um raciocínio com uma argumentação rica e expôs a fragilidade da comunicação da maior parcela da audiência, que paralisou ao pressupor que ele estava anunciando a eliminação de Jessi em Libras.
A linguagem de sinais foi um recurso de extrema delicadeza e inteligência aplicado por Tadeu. Mas o texto todo é repleto de mensagens inferidas. Há críticas aos que não sabem fazer uso do lugar de privilégio em que se encontram, aos que se recusam a fazer uma autocrítica sobre suas arrogâncias e até uma alfinetada sobre o uso impensado da música Deixa Tudo Como Tá, de Thiaguinho, como hino da temporada.
Sem citar o pagode, Tadeu expôs a incoerência de participantes que cantam diariamente "E se a gente errar / A gente foi feliz tentando acertar / Deixa tudo como tá", e que quando chegam no paredão se questionam sobre os erros cometidos e prometem mil e uma mudanças de comportamentos caso sejam salvos pelo público.
Em sua segunda semana à frente do Big Brother Brasil, Tadeu serviu entretenimento da mais alta qualidade com um discurso de eliminação rico, sensível e inteligente, como há anos não víamos no reality show.
Leia o discurso na íntegra:
"É muito difícil enxergar as coisas aí dentro. É até covardia comparar. A gente aqui tem dezenas de câmeras. Vocês só têm os olhos de vocês e alguns espelhos. Mesmo assim, é impressionante como em alguns aspectos vocês enxergam exatamente o contrário do que de fato está acontecendo. Impressionante. Mas talvez vocês só acreditem depois que saírem.
E quem sai hoje? Eis que temos três amigos no paredão. Rodrigo, Natália e Jessi. Três amigos, três Pipocas, três vidas que se conectam. Três histórias sobre vencer na adversidade. Só vocês sabem tudo o que passaram. Dificuldades, barreiras, traumas, dores, dúvidas. O mundo inteiro empurrando contra e vocês conseguiram superar. E aí vem o BBB.
E de novo não foi fácil, não foi na primeira tentativa para nenhum dos três. Mas veio. A chance de ouro. R$ 1,5 milhão, a possibilidade de mudar de vida. Mas duas semanas depois aí está você, a um passo do fim. Não é possível, não tem como não pensar: "O que que eu fiz de errado nessas duas semanas? O que eu deixei de fazer?". Esse jogo é tão difícil, que além de acertar na escolha dos seus atos, tem que acertar precisamente a dose.
Se exagerar, as pessoas aqui fora podem não gostar. Se for pouco demais, as pessoas aqui também não gostam. Provavelmente você só vai entender onde errou quando estiver aqui fora. Pra quem fica, pra todos que ficam, eu adianto uma coisa: há sinais disponíveis. As pessoas próximas aí dentro sem querer dão sinais. Eu mesmo acabo passando sinais pra vocês. Quem souber captar vai entender tudo o que está acontecendo.
E já que eu estou falando de sinais, minha penúltima será em sinais. Com licença [neste momento, Tadeu conversa em Libras com Jessilane]. Já a minha última frase eu preciso falar em voz alta: quem sai da casa hoje é você que não pegou os sinais. Quem sai é você, Rodrigo."