Didático e cirúrgico, Tadeu Schmidt dá aula sobre transfobia no BBB22

Apresentador provou o motivo de merecer estar à frente do maior reality show da TV brasileira

Foto: Reprodução/Instagram
Tadeu Schmidt cedeu espaço para Linn Da Quebrada falar sobre transfobia


Nos tempos da escola, lembro que dividia meus professores em duas categorias: os que nunca estavam de bem com a vida e constrangiam a sala com o excesso de acidez e grosseria, e aqueles que se esforçavam no didatismo para ver toda a turma caminhar no mesmo nível. Tadeu Schmidt está nessa segunda categoria. A aula que ele deu no último domingo (23) no BBB22 sobre transfobia foi cirúrgica e extremamente eficaz.


Estávamos acostumados a ver nos anos anteriores um apresentador que mostrava prazer na hora de dar broncas ou repreender participantes por suas posturas. O tom de suas palavras sempre foram carregados de ironia e soberba, e isso acoava os alvos de suas análises, sempre causando um impacto no jogo.

Tadeu mostrou no programa de ontem que é possível corrigir comportamentos inadequados sem apontar o dedo na cara e sem causar um constrangimento coletivo. Reuniu todos os participantes na sala antes da formação do paredão e com poucas perguntas fez todos os autores de comentários transfóbicos direcionados a Linn Da Quebrada se corroerem por dentro.

E fez o mais importante: em vez de discorrer sobre o que é ou não um ato transfóbico, cedeu o espaço para que Lina explicasse para todos o quão desrespeitoso é se referir a ela com pronomes masculinos. Foi um show de empatia. E é assim que precisa ser.


Tadeu é um homem branco, heterossexual e cisgênero. Por mais que tenha conhecimento da gravidade dos casos de transfobia que vinham ocorrendo na casa, a única pessoa com propriedade para abordar o assunto era Lina. E ao ceder seu espaço em rede nacional para uma travesti compartilhar suas dores e pedir respeito, ele mostra que faz jus ao posto que foi escolhido para ocupar.

Já vimos em anos anteriores no BBB um apresentador de pele branca tentar dar aula sobre racismo sem dar o espaço para os negros falarem. Vimos também o mesmo profissional discorrer sobre feminismo sem dar voz às mulheres. Complicado.

Critiquei a Globo e J.B. de Oliveira, o Boninho, por não se pronunciarem de imediato a respeito dos episódios de transfobia que vinham ocorrendo no BBB22. Agora estou aqui para agradecer pela aula de ontem. Os efeitos dela foram imediatos.