Eles guardam segredos da série, mas contam como foi trabalhar em "GoT" e revelam que ganhavam "cenas mais legais" quando se machucavam
O carioca Rodrigo Fittipaldi tem 1,92 metro de altura. Foi o suficiente para ele ganhar uma atenção especial de Rory McCann, o Cão-de-Caça de " Game of thrones ", durante a gravação de uma cena na qual o brasileiro foi um dos figurantes.
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O ator escocês, de 1,98m, brincou com a "visão privilegiada" de ambos. Depois de um batalhão de testes, um grupo de brasileiros participa da rotina de filmagens de " Game of Thrones ", a ponto de outro astro da série, Nikolaj Coster-Waldau, o dinamarquês que interpreta Jaime Lannister, ficar curioso com o sotaque de Fittipaldi e de outros colegas. Queria porque queria saber de onde era aquela turma.
Fittipaldi viveu um dothraki e um civil, e diz que se surpreendeu com o "exército" de figurinistas, maquiadores, cabeleireiros e técnicos que surgia a cada corte de cena. Sua tarefa era consertar os detalhes dos personagens principais e dos figurantes, que chegavam a somar 700 pessoas. Entre os dublês, também tem brasileiro.
O trabalho, afirma ele, era exaustivo, já que algumas cenas precisavam ser regravadas dezenas de vezes. A dedicação era exigida de todos. Rodrigo chegou a trabalhar durante 18 horas num mesmo dia. Muitas vezes, nem dormir era possível, como quando participou da Batalha de Winterfell, gravada durante a madrugada.
"Nem a gente conseguia enxergar", ele brinca, referindo-se às críticas dos fãs de que as cenas ficaram escuras demais e mal era possível distinguir os personagens.
Adesivo nos celulares
Mesmo com todos os cuidados e o preparo dos profissionais, acidentes acabavam acontecendo. A piracicabana Fernanda Lacerda diz que houve quem se machucasse seriamente nas cenas que envolviam ação.
"Teve gente que quebrou o nariz. Uma vez, eu tropecei num morto na frente do Jon Snow e ralei feio o joelho. Quando você se machuca, a produção te dá uma cena mais legal para gravar. Como não tem seguro de saúde, eles ficam com medo de você processá-los", diz Fernanda.
Segundo Fernanda, depois de se machucar ela foi colocada para gravar uma cena importante com o Sir Davos e "adorou". Procurada para comentar a colocação, a HBO não se manifestou até o momento.
Fernanda mede as palavras para comentar as batalhas em Westeros, o continente de "Game of thrones". O cuidado é para não fazer nenhuma revelação do que acontecerá no penúltimo episódio da série , que vai ao ar no próximo domingo.
Por ter atuado como figurante na última temporada, ela sabe muita coisa que é tratada com sigilo pela produtora. E a HBO não costuma ser tolerante com vazamentos. Fernanda está animada com a oportunidade, só não gostou muito de Maisie Williams, a Arya Stark, por "fumar o tempo todo" e "nem olhar na cara dos figurantes".
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"A HBO é muito rígida com isso. Quando a gente chega no estúdio, eles colam um adesivo nas câmeras do nosso celular, que deixa uma marquinha se é retirado", diz ela, que assinou um contrato de confidencialidade.
“Se eles vissem alguém com celular dentro do estúdio, apagavam as imagens, mandavam a pessoa embora e a processavam. Muita gente quer saber o que acontece. Teve até drone sobrevoando o set para capturar imagens, mas a equipe parou de gravar na hora”, explica Fernanda.
Fernanda não cogita descumprir as regras. Afinal, foi o sonho de participar das gravações de "Game of thrones" que a levou a viajar em intercâmbio para a Irlanda, ainda em 2017. Meses antes da jornada, ela havia lido no blog de uma estudante brasileira o relato da experiência de ser figurante na série. E se encantou. Inscreveu-se no site e foi recusada inúmeras vezes, até que um dia a HBO a chamou.
"O fogo é fogo, a água é água"
Durante mais de três meses, a brasileira viveu em função de "Game of thrones", mesmo morando em Dublin, a 170 km de Belfast, na Irlanda do Norte, onde boa parte da série foi filmada. Sempre que havia gravações, Fernanda pegava um ônibus no começo da madrugada para chegar por volta de 3h ao Titanic Studios, um complexo de quase 10 mil metros quadrados. Após duas horas de maquiagem e montagem do figurino, as gravações começavam.
A "falta" de computação gráfica também impressionou Fernanda. Segundo ela, quase tudo é de verdade, Porto Real é "exatamente igual à série", o fogo é fogo, e a água é água. As espadas, lanças, armaduras e escudos foram confeccionados por especialistas. O dragão, por sua vez, é uma pequena bola verde, de cromaqui.
A interação com os atores era restrita. De acordo com o paulista Lucas Brambila, que viveu um imaculado, a produção não deixava nem tirar fotos com os atores. Ele diz que um amigo participou das filmagens da série "Vikings" e contou que era possível interagir livremente com os atores, diferentemente de "Game of thrones".
Chocolate e boa remuneração
Além da experiência, figurar em "Game of thrones" rendeu uma boa remuneração. Os brasileiros contam que não hesitaram em largar o emprego ao serem chamados para as filmagens. A HBO pagava cerca de 100 libras (cerca de R$ 500) aos figurantes por dia de trabalho, fora as horas extras e toda a alimentação do dia, incluindo café da manhã, almoço, jantar, lanches e muito chocolate.
Cenas que exigiam muito esforço físico também rendiam mais dinheiro. Não raramente, os valores diários chegavam a 150 libras (R$ 750) com os adicionais. Somente o quinto episódio da última temporada exigiu pelo menos 30 dias de gravação, realizada entre abril e julho de 2018.
Os brasileiros estão ansiosos pelo próximo episódio, mesmo porque não sabem se vão aparecer depois dos cortes da edição final. Não podem contar detalhes do episódio, mas Fernanda afirma que será “surreal”.
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Mas, para alguns, a vontade de viver o mundo de Westeros não acabou. Rodrigo agora espera ser chamado para ser figruante em " The Long Night", spin-off da série " Game of Thrones ", que deve começar a ser gravado ainda este ano. Se continuar desse jeito, o carioca vai se tornar mais longevo que muitos personagens de George R.R. Martin.
