Léo Santana comenta carreira musical
Reprodução/Larissa Albuquerque - 21.07.2022
Léo Santana comenta carreira musical


Não se falava em outra coisa em Salvador na semana passada. Numa barraca da Praia do Buracão, num bar de uma comunidade da Gamboa de Baixo ou na fila do banheiro do Mercado Modelo o assunto era um só: o aniversário de um ano da filha de Léo Santana. Você pode até não conhecer, mas saiba: ele é o cantor mais querido e popular da Bahia atualmente.

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Tem gente que usa a palavra “herói” para dimensionar o que o artista de 34 anos, cria da favela de Boa Vista do Lobato, periferia soteropolitana, representa para a população que o viu superar a pobreza e virar ídolo. Outros, dizem que ele personifica o orgulho de pertencer aquela terra terra. Exagero ou não, o fato que o rei do pagodão baiano, atração de abertura do show do colombiano J Balvin nesta quarta-feira (5), no Vivo Rio, é um fenômeno.


Tudo no artista é superlativo. A começar pelos seus dois metros de altura e pés tamanho 46. Mas são os números profissionais que impressionam: mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify; 17 milhões de seguidores no Instagram; 2 milhões no Tik Tok; e outros 3 milhões inscritos em seu canal no Youtube. Ali, o recorde é o clipe de “Contatinho”, parceria com Anitta, que soma 270 milhões de views. Há ainda dobradinhas com Os Barões da Pisadinha (“Já te esqueci”, com 93 milhões), Luísa Sonza (“Século 21”, 57 milhões); Ludmilla (“Toma”, 15 milhões), Ivete Sangalo e L7nnon (“Tarada”, com 1,5 milhão).

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Dois metros de altura e pés tamanho 46

Foram as medidas pessoais, no entanto, que lhe renderam o apelido de Gigante (ou GG), dado pelos fãs que o viam curvar-se todo para se encaixar na selfie. No avião, Léo só viaja perto da saída de emergência. Mal cabe também no espaço entre as poltronas da van que o leva de um show para o outro — são cerca de 20 por mês. Precisa sentar-se de lado, com as pernas enormes viradas em direção ao corredor.

Foi dentro do veículo que ele concedeu esta entrevista, realizada entre Salvador e a Costa do Sauípe, onde faria show fechado para uma empresa em cima de um trio elétrico. De brincos de brilhante no formato das iniciais da Chanel, tênis Gucci, unhas impecavelmente feitas e pintadas com base, Léo desembarcou da van, trocou o moletom por um conjunto de seda e anunciou ao microfone: “Chegou o dono da porra toda!”. Foi a deixa para enfileirar hits como "Já te esqueci", “Destampei” e “Revoada”, algumas das canções mais tocadas nas rádios do país (veja um trechinho do show no vídeo abaixo).

Em período eleitoral, o artista preferiu deixar de fora do repertório um de seus maiores sucessos: “Vai dar PT”. É aquele sobre uma menina que “foi pro baile muito louca/ misturou tequila e uísque” e deu, como se diz, “perda total”. Mas ele não deixou de fazer o L com os dedos, gesto que virou sua marca registrada: “É L de Léo Santana, gente, aqui é zero política”, tratou logo de explicar. O cantor, que domingo postou foto votando junto da legenda “exercendo meu papel de cidadão”, prefere não se posicionar politicamente.

Mais do que qualquer mensagem, as músicas dele são para “rebolar”, define o próprio. É assim desde os tempos de “Rebolation”, quando ainda era vocalista da banda Parangolé e viu o país inteiro reproduzir sua coreografia. E segue o baile. Mais precisamente, o Baile da Santinha, famoso evento comandado pelo cantor no verão da Bahia (e com edições esgotadas em várias capitais do país), em que mais de 30 mil pessoas dançam como se não houvesse amanhã a cada sexta-feira.

Djavan como referência

Não deve ser diferente no Festival de Verão de Salvador, em 28 e 29 de janeiro, quando o artista apresentará show inédito que ainda está sendo elaborado. De certo, Léo cantará Djavan, suas referência na MPB. “Oceano”, “Te devoro” e “Sina” estão entre suas canções preferidas. A presença do artista no festival, que abre a venda de ingressos nesta quarta-feira (5), “é garantia de representatividade”, diz o curador, Zé Ricardo:

— Foi impressionante nas minhas pesquisas perceber o quanto Léo Santana é amado na Bahia. A coisa da superação, de ser um cara popular que se comunica com uma multidão... O ritmo dele tem embalado muita gente. Se tocar quatro vezes num curto espaço de tempo, as mesmas pessoas estarão lá. Léo provoca uma comoção - afirma o produtor e diretor musical.

Entre suas influências musicais, o cantor também cita grupos como Harmonia do Samba, Companhia do Pagode, É o Tchan, Exaltasamba, além de Claudinho e Buchecha. Há espaço ainda para James Brown, Michael Jackson e Phil Collins. São artistas, ele lembra, que o pai ouvia no rádio durante sua infância. Era uma época em que Léo participava de concursos de dança. Seu trunfo era imitar o ídolo Xanddy. Enquanto sonhava ser artista, se virava vendendo frango assado na praia e carregando as compras de clientes de um supermercado.

— Minha família não passou fome, mas vivíamos com um salário mínimo. Era tudo contadinho. É muito forte quando um moleque de favela põe um pão na mesa de casa. Eu via o brilho nos olhos dos meus pais — emociona-se o artista.

‘Não tenho deslumbre com carro, mas tênis e joias mexem comigo’

O primeiro instrumento de Léo Santana foi um cavaquinho usado, comprado por sua mãe, secretária, em duas parcelas. Dona Marinalva foi a grande incentivadora da carreira do filho. Até hoje, só dorme quando ele finaliza os stories dos shows. Também foi ela, que trabalhava como secretária na empresa do rapaz que havia criado como babá, a responsável por conseguir um emprego de segurança para o marido, até então, cobrador de ônibus.

A situação financeira da família foi melhorando à medida em que Léo evoluía na carreira. Depois de tocar pandeiro em vários grupos de pagode, virou vocalista de outras bandas até assumir o Parangolé, em 2008.

Depois de passar por várias bandas de pagode, Léo assumiu o grupo Parangolé, como vocalista, em 2008.

— Tocavam música de protesto, de favela, negro. E sempre fui mais do pagode, da sensualidade. Demoraram a me aceitar. Mas, aos poucos, fui botando meu ritmo e me encontrando— conta.

Em 2014, estreou carreira solo, estabeleceu parcerias com Wesley Safadão, Marília Mendonça, Maiara e Maraisa, Thiaguinho, Anitta, Ivete Sangalo, Ludmilla.

'Tentei ressuscitar meu pai'

Seu Lourival, que torcia o nariz, teve que “engolir” o filho artista, que não concluiu o ensino fundamental. Não sem seguir "alfinetando" a escolha profissional de Léo. O pai, que trabalhava como segurança em uma empresa, também jamais perguntou sobre os shows. Foi apenas em dois ou três. Mas pai e filho conseguiram viver uma relação harmoniosa até a morte de Seu Lourival, no ano passado. Ele teve um infarto fulminante. Léo fez de tudo para reanimá-lo.

— Cheguei e ele estava desacordado no chão da sala. Tentei ressuscitar meu pai. Não sei de onde tirei forças, porque não dou conta dessas coisas. Só tinha ido a um enterro na vida. Mas arrumei painho inteiro, botei paletó, carreguei no elevador e ajudei a colocar o caixão. Minha família achava que eu não ia aguentar — diz o Gigante, que tem coração de manteiga.

A amiga Ludmilla admira esse jeitão:

— O apelido GG reflete o que ele é em amizade, emoção e generosidade. Também é profissional e carismático. Formou uma família linda, inspiradora para mim.

A cantora se refere à bailarina Lore, com quem Léo se casou na pandemia, e a Liz, a filha do casal que virou uma espécie de xodó do público. O vídeo em que Lore (a quem Léo chama de “mãe” mesmo antes de ela dar à luz) dá a notícia da gravidez ao marido foi compartilhado nas redes, onde eles dividem a intimidade com o público. Foi assim no aniversário de Liz, quando a menina ganhou um carro de R$ 3 mil.

Léo diz que usa seu dinheiro “não para ostentar”, mas para ter o que sempre sonhou. Isso inclui cerca de 300 pares de tênis, relógios e muitas joias.

— É um vício. Não tenho deslumbre com carro nem casa, mas tênis e joias mexem comigo. Desde moleque, eu via pessoas que me influenciaram esteticamente, como Usher e Ne-Yo, usando roupas e assessórios que eu adorava. Sou aquele moleque de favela que pensava: 'Quando tiver condições, também vou usar".

Se a grana pinga direitinho na conta, ainda há lugares que Léo quer ocupar. Sonha com parcerias com latinos do reggaetown. No próximo dia 20, grava clipe com Pedro Sampaio no Rio. Anteontem, rodou o da música “Botada valendo” no Vidigal. Trabalhar com Iza é outro desejo.

— Seria uma potência musical e de representatividade nós dois juntos — acredita. — Me perguntam sobre em que o fato de ser negro me influencia. A resposta: “No que sou, no cidadão, no caráter, na personalidade”. A parte ativista deixo para quem estuda o assunto, que não entendo a fundo. Assisto a muitas histórias sobre racismo, preconceitos, mas não é algo que levo a ferro e fogo. O meu som é de preto, de favela. Já sou, naturalmente, referência para nós negros.

+ O "AUÊ" é o programa de entretenimento do iG Gente. Com apresentação de Kadu Brandão e comentários da equipe de redação, o programa vai ao ar toda sexta-feira, às 12h, no YouTube, com retransmissão nas redes sociais do portal.


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