Antes mesmo de se tornar atriz, aos 19 anos, Alinne Moraes já tinha conquistado sua independência financeira. Totalmente diferente da mimada Bárbara, sua personagem em “Um lugar ao sol”, que vive às custas do pai rico e deposita todas as suas frustrações e alegrias no casamento com Renato (Cauã Reymond), ela é uma mulher emancipada desde muito nova. Paulista de Sorocaba, Alinne, que completa 39 anos no próximo dia 22, iniciou uma bem-sucedida carreira de modelo aos 13.
Enquanto na ficção Bárbara é vítima de uma relação tóxica, Alinne diz que sempre pulou fora dos namoros quando percebia que poderia vivenciar qualquer tipo de abuso. “Eu tinha medo de dar um tiro no pé e perder tudo o que tinha conquistado”, recorda a atriz, que já estava pronta para a entrevista com a Canal Extra minutos antes do horário marcado. “Vou pegar uma água e um café e já te chamo”, disse, no WhatsApp, antes da conversa por telefone. Já ao fim da entrevista, ela admitiu ficar nervosa até hoje quando precisa falar de si mesma.
Casada com o diretor de cinema Mauro Lima, a mãe de Pedro, de 7 anos, recorda que foi o marido o responsável pelo primeiro reencontro profissional dela com Cauã, seu ex-namorado, no filme “Tim Maia” (2014). Agora, em “Um lugar ao sol”, a sintonia entre os dois fica evidente: “Sei que rola um frisson”. Em pouco mais de uma hora de conversa, Alinne fala sobre o atual trabalho na novela, a parceria profissional com Cauã, o seu casamento sem ciúme, e assume ser um pouco controladora em casa com o marido e o filho. “Os meninos me entendem”.
Você considera a Bárbara uma vilã?
Ela não é a vilã clássica. É muito equivocada, ainda vai fazer muitas coisas erradas, que não se justificam. Mas não faz por maldade, são equívocos. Bárbara cria armadilhas para ela mesma cair. É uma pessoa que pode ser vista como privilegiada, mas é perdida. Faltou muita coisa para ela: a presença do pai, um contato maior com a mãe... Ainda veremos cenas de flashback para mostrar o que acontecia com ela e a Nicole (Ana Baird) na infância. Ela é bipolar, perdida. E depositou todas as frustrações e as faltas nessa relação com o Renato. Bárbara anda com uma nuvem bem carregada em cima dela.
Apesar de cometer vários erros, Bárbara é enganada por Christian, que se passa por Renato, e conta com a torcida de parte do público...
É um amor doentio. Ela percebe que o Renato está diferente quando o Christian toma o lugar dele, mas prefere não se questionar. Ela cuidava dele, resolvia os problemas, mas é vítima de abuso. E vive uma mentira. Com isso, ele vai a enlouquecendo. E só piora. Eu não sei até quando as pessoas vão segurar na mão da Bárbara. Para mim, é muito difícil ver essa pessoa tão perdida e ter que lidar com a fragilidade dela. Eu sinto um certo pânico, queria tirar a Bárbara desses buracos.
Você empresta alguma coisa sua para ela?
Sou uma pessoa feliz, nasci feliz, o meu espírito é feliz. Tenho os meus momentos de tristeza. Bárbara é depressiva e surfo no texto da Lícia (Manzo, autora). Uso a minha história quase como um pano de fundo para trabalhar as minhas personagens. Mas não posso levar uma dor minha, sabe? No começo da carreira, trazia a memória afetiva para as personagens. Isso me travava. A minha história é diferente. Lembro que quando interpretei a lésbica (Clara, de “Mulheres apaixonadas”, em 2003), eu me inspirava no meu primeiro namoro. A minha mãe era contra, mas era uma relação hétero, diferentemente da dela.
Assim como a Bárbara, você vivenciou a ausência paterna (a atriz só conheceu o pai com 22 anos). Como isso a marcou?
Eu me resolvi desde pequena, mesmo sem perceber. Aos 8 anos, questionava a minha mãe: “Ele era tão novo como você?” (a mãe da atriz a teve com 19 anos). Pensava que ele sentia vergonha de tentar se aproximar. Mas tentei entender a situação antes de julgar. Isso me salvou. Ele faleceu seis meses após a gente se conhecer. Tive a oportunidade de reencontrar a minha irmã por parte de pai aos 20 e poucos anos. Através dela, consigo sentir o meu pai. A minha geração tem muitas filhas sem pai.
Em compensação, você cresceu com duas presenças femininas muito fortes, não foi?
A minha avô, que já morreu, virou nome de rua em Sorocaba. Cresci ao lado de mulheres fortes, independentes, emancipadas. Sempre fui feminista sem saber.
A sua mãe a acompanhou nas temporadas no exterior quando você trabalhava como modelo. Acredita que perdeu alguma coisa por ter começado a trabalhar muito nova?
Eu já era uma menina madura. Encontrei uma carreira e ganhei bagagem. Fiz o meu pé de meia. Comprei a casa da minha mãe, a minha casa. O meu ganho foi maior do que qualquer perda. A minha mãe recebia um salário-mínimo. Lembro de ganhar 20 vezes mais quando fiz uma campanha para a Ellus. Se não fosse a carreira como modelo, talvez eu estivesse em Sorocaba até hoje.
Como é ser agora a única mulher na sua casa?
Cresci como filha única, emancipada, sempre tive a minha casa. Sou muito produtora. Já vou chegando, arrumando, limpando... Produzo tudo (risos). Não tem como não controlar as coisas. Mas os meninos não ligam. Eles já entenderam e me deixam controlar.
Mauro é 15 anos mais velho que você. isso interfere na relação de vocês?
Em nada. O Mauro me ajudou a entender a minha história. Ele me autoriza como mulher. Mauro é uma pessoa muito bem estruturada. No meu casamento não existe ciúme. Porque não é legal, né? A gente quer que o outro cresça.
Mauro foi o responsável pelo seu primeiro reencontro profissional com o Cauã no filme “Tim Maia” (2014), dirigido por ele. Mas a parceria de vocês na novela aguçou ainda mais a curiosidade das pessoas....
Rola um frisson agora. O filme não foi visto por tanta gente como a novela. Logo no começo, fomos para a minha casa iniciar as leituras com uma preparadora. Eu falei para o Cauã: “Você já imaginou o quanto isso vai vender de fofoca?. As pessoas vão amar ver ex-namorados juntos” .
Você já declarou que se entende como o Cauã pelo olhar. Como isso funciona?
É porque eu o vi se tornar homem. A gente se conhecia antes de ser um casal. Conheci o Cauã com 13 anos. Ele namorava a (modelo) Ana Beatriz Barros, uma grande amiga, e eu namorava o Vergniaud. Fomos cada um para um lado depois que nos separamos, mas não houve um grande problema.
A sintonia entre vocês é visível...
Essa intimidade cênica só ocorre porque de fato ficou tudo bem resolvido, há uma fluidez.
Bárbara vive uma relação muito tóxica com o Renato. Você já teve esse tipo de experiência ou viu pessoas próximas passando por isso?
Sim. Algumas amigas. A minha mãe teve uma relação dessas quando eu era jovem e isso me marcou muito. Mas ela não deixou a coisa se agravar. Em todas as minhas relações que sentia que isso poderia acontecer, eu pulava fora. Sempre terminava. Terminei alguns namoros amando muito. Precisava desligar o telefone, sair de cena. Mas sempre me salvei. Eu saí de casa aos 13 anos para trabalhar como modelo e não poderia arriscar. Seja por causa de drogas ou de uma relação abusiva. Eu tinha medo de dar um tiro no pé e perder tudo o que conquistei.
Como você lida com a vaidade?
Sei admirar além da beleza, amo a minha olheira. Nunca pensei em mexer muito no rosto. Teve uma cena no início da trama que olhei: as expressões estão marcando, faz parte. Mas estava louca para cortar o cabelo. Fiquei com ele comprido três anos por causa da novela.