A 90 quilômetros de Goiânia, no único hospital de Cristianópolis, nasceu Marília Mendonça, ícone da música brasileira, morta em acidente aéreo na última sexta-feira . Vinte seis anos após o parto que trouxe a artista à vida, a prefeitura da cidade quer homenagear sua cidadã mais ilustre. O hoje Hospital Municipal de Cristianópolis deve se chamar em breve Hospital Municipal Marília Mendonça. "Ele não tem nome, sempre (é chamado só) assim, 'hospital municipal'. Então eu quero, é da minha vontade, fazer essa homenagem a ela", explica a prefeita Juliana Costa (DEM), que esteve no velório da cantora, em Goiânia, no sábado (06).
A prefeita espera que a homenagem seja concretizada ainda neste ano. Na segunda-feira ela vai tratar sobre a medida com os vereadores da base (seis dos nove parlamentares da cidade) e espera que a proposta seja aprovada sem dificuldades. "Vou mandar um projeto de lei para a Câmara. Amanhã a gente marca uma reunião com os vereadores da base. Tenho certeza que vai ser aprovado".
A mãe de Marília, Ruth Moreira, será convidada para a cerimônia. Junto com a mudança de nome, será reinaugurado o centro cirúrgico do hospital, que passou com reformas. Nas salas do hoje desativado centro cirúrgico, Marília veio à luz na noite do dia 22 de julho de 1995. Uma das primeiras mãos a recebê-la foi Cláudia Borges, técnica de enfermagem de plantão na ocasião.
"Todo mundo aqui tem o maior respeito por ela. Para nós é um fenômeno. Ontem foi um dia complicado", afirma Cláudia contando sobre como descobriu ter sido umas das pessoas que presenciou o nascimento da cantora. "No início da carreira ela disse em um programa de TV que tinha nascido aqui. Fomos procurar nos livros de registro do Hospital e encontramos. Foi uma festa. Espalhamos para a cidade inteira", completou Cláudia.
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Marília só nasceu em Cristianópolis porque o médico de plantão era amigo de seus pais, mas o sucesso estrondoso na carreira fez com os moradores quisessem conhecê-la. Ao passear pelas ruas da cidade, quase deserta na manhã de domingo, a voz de Marília cantando nas caixas de som de algumas casas rompia o silêncio. Apesar de ser uma das filhas mais ilustres da cidade, Marília não chegou a se apresentar no local. A prefeitura tinha a intenção de convidar a cantora para uma tradicional festa de rodeio de Cristianópolis, que deve ser retomada no ano que vem após ser interrompida pela pandemia.
Perto do futuro Hospital Marília Mendonça, em uma casa repleta de plantas, a jardineira Aparecida Alves, conhecida como Cida, que deu de mamar a Marília na maternidade, lamentou a morte da "filha postiça" não apenas pela enorme perda, mas por nunca ter tido a oportunidade de conhecê-la na vida adulta. Naquele dia, a mãe de Marília estava debilitada após o parto e não conseguira amamentar a filha. Assim, Cláudia Borges e outras enfermeiras recorreram a Cida, que no mesmo dia tinha dado à luz sua filha Haquila.
A jardineira tentou diversas vezes estabelecer contato com Marília, mas nunca conseguiu chegar à artista. À distância, no entanto, sempre acompanhou a carreira da menina que amamentou no primeiro dia de vida. "Sempre fiquei perguntando onde estava aquele bebê. Depois, quando ela já era famosa, descobri. Ela era um bebê tão lindo, de olhos tão espertos. Acho que ela nunca deixou de ser a criança que nasceu naquele dia", contou Cida.