Conheci Marília Mendonça ainda muito nova, ela tinha menos de 20 anos. Nosso primeiro contato se deu quando ela veio nos mostrar, a mim e ao Fabiano, algumas músicas que poderíamos gravar. Ela ainda era só compositora na época. Lembro de ter ouvido algumas músicas e falado com ela: "Marília, você tem que pedir para outra pessoa ouvir essas músicas, porque pelo visto tudo o que você mostrar aqui a gente vai achar bom".
Já dava para ver ali que ela tinha muito brilho, era inevitável que algo bom acontecesse. Estava bem assessorada, com um repertório vasto para gravar, e a gente teve o privilégio de acompanhar esse processo toda, essa transformação dela.
O que sempre me chamou a atenção foi a autenticidade dela, além do talento. A impressão que dava é que Marília Mendonça era um show por si só. Se não tivesse cenário, banda, nada em volta, só ela e o violão, já seria um espetáculo enorme.
Temos uma canção que gravamos juntos, "Brindando o fracasso", e óbvio que foi muito importante para a nossa dupla. Marília tem um alcance enorme. Hoje, diante da situação, a gente sente uma honra muito grande por isso ter acontecido, por termos essa parceria registrada em música. Fica a gratidão, a recordação de ter gravado juntos, a memória.
Eu não dormi, passei a madrugada conversando e dando assistência emocional a uma amiga minha que está assessorando a família. A gente ainda está meio anestesiado, chorei muito, daqui a pouco a ficha vai cair mesmo. A morte prematura é sempre muito mais difícil de ser aceita, especialmente essa. Marília estava radiante. Nós treinamos com o mesmo personal trainer em Goiânia e ela tinha conquistado seus objetivos, estava super orgulhosa.
Lamento, por conta da rotina com a música, não ter podido estar ainda mais com ela. Mas éramos muito unidos, tínhamos essa amizade. Sempre que estávamos juntos, me impressionava a simplicidade, a autenticidade dela. Sabe aquela pessoa que você quer estar perto dela para sempre?
Marília também chamava atenção por não se importar muito com o sucesso. Sempre foi a mesma menina que conhecemos lá no começo, com o violão mostrando suas músicas. Não tinha esse desespero por disputa de mercado, nada disso.
Ela deixou um legado enorme. Eu costumo dizer que muita gente não sabe a diferença entre legado e herança. Herança é o que a gente deixa para as pessoas; legado é o que deixamos nas pessoas. E isso ela deixou muito forte em todos que conheceram sua obra.
Por coincidência, uma semana antes ela me mandou essa mensagem no Twitter, dizendo "Te amo, Cesinha. Saudade". Não deu tempo de matar essa saudade. Não sei nem falar como vou lidar com esta saudade, ainda estou meio que flutuando, anestesiado. Mas vou sentir quando não tiver mais a convivência, as mensagens no WhatsApp, as brincadeiras no Twitter, as festas... Saber que vou sair para trabalhar na semana que vem em um evento que ela poderia estar, mas não vai estar mais. Perceber que ela está, mesmo, fora do nosso cenário é o que vai doer muito.