Nesta sexta-feira (4), a morte de Paulo Gustavo completa um mês
Giovana Mori
Nesta sexta-feira (4), a morte de Paulo Gustavo completa um mês

Hoje (4) completa um mês que Paulo Gustavo morreu, vítima da Covid-19, e deixou o Brasil aos prantos . Se quem parte permanece vivo na memória dos que ficam, compartilhar histórias ajuda no luto. É o que três amigos do humorista fazem nesta página. No clima da frase de Paulo, ‘rir é um ato de resistência’, Fábio Porchat e Ingrid Guimarães contam ‘causos’ hilários. Já Mônica Martelli faz um desabafo movido pela indignação.

De fracasso a uma boa lição

Fábio Porchat: “Em 2005, eu e Paulo fizemos uma peça chamada ‘Infraturas’. Foi nosso primeiro espetáculo após nos formamos na CAL. Terças e quartas, no Candido Mendes, dois atores desconhecidos... Foi um fracasso retumbante! Maravilhoso para a gente, mas, de público, um desespero. Um dia choveu muito. Deu nove horas, a gente pronto, e quantas pessoas? Zero, não veio ninguém. Ficamos chateados, nos vestimos e, quando estávamos saindo do teatro, chegaram cinco pessoas completamente ensopadas. Tinham vindo de Campo Grande. Fazer comédia para pouca gente já é uma dor na alma, e eles ensopados, no meio do caos... Eu e Paulo nos olhamos e falamos: ‘Vamos fazer para vocês, sentem aqui na frente’. Demos toalhas para se secarem e fizemos. Foi ótimo, eles riram bastante. E a gente ria muito enquanto fazia a peça. Quando a luz apagava, o Paulo me falava ‘Não acredito que a gente está fazendo para cinco pessoas!’. Eu: ‘Nem eu, mas eles vieram de Campo Grande e estão ensopados’. E Paulo: ‘Só penso nisso’. Foi uma boa lição. Teatro é isso: não importa se tem 10 mil pessoas ou cinco, é o nosso público e a gente tem que fazer”.


O primeiro show da Beyoncé

Ingrid Guimarães: “Fizemos uma das nossas primeiras viagens internacionais juntos há uns 14 anos, para Nova York. Paulo estava começando a ganhar dinheiro, e a gente saiu comprando coisas sem nenhuma utilidade. Me convenceu a comprar desde colher de pau a lugar para colocar bombril, um negócio de vodka de mentira todo de brilho... Era o início dos personagens dele, compramos muitas perucas também. Na hora em que a gente foi embarcar, nossa mala deu acima do peso. Aí passamos por aquela situação péssima de ficar tirando coisa da mala no meio do aeroporto. Uma hora, ele pegou o folder de ‘Minha mãe é uma peça’, no Candido Mendes, que ainda não era aquele estouro absoluto, e disse: ‘Mostra pro cara que a gente é famoso no Brasil, diz que essas coisas são para o figurino’. Claro que o cara falou 'Dane-se quem são vocês'. Nessa mesma viagem, fomos a um show da Beyoncé, o primeiro da vida dele. Pagou caríssimo para ficar perto dela. Uma hora, ela disse: ‘Levanta a mão quem faz aniversário hoje’. Ele não entendia bem inglês, e eu disse: ‘Levanta a mão, finge que é seu aniversário’. Ele levantou, e ela disse ‘Happy birthday the pink one’, porque ele estava de camisa rosa. Foi a maior emoção. Ali, começou o amor pela Beyoncé”.

A jaqueta que espetava e a indignação

A imagem de Mônica Martelli com os olhos marejados e um cartaz em homenagem a Paulo Gustavo no ato contra o governo Bolsonaro no último sábado (29) se espalhou pelas redes sociais. Em pleno luto pela perda do amigo, a atriz fez questão de ir à Avenida Paulista manifestar sua revolta pela forma como que o governo vem tratando a pandemia ("Paulo Gustavo foi traído junto com quase 500 mil brasileiros com a omissão das políticas sanitárias do governo federal").

Em entrevista exclusiva ao GLOBO, Mônica diz que a CPI da Pandemia "comprova o que já sabíamos ("não consigo parar de pensar em quantas vidas podiam ter sido salvas"), conta como vem encarando o luto e diz que estar perto dos filhos do humorista é como tê-lo perto de si. A atriz também conta a história da jaqueta de espetos que herdou do amigo ("um dia, ele me abraçou com ela e me espetou toda. Reclamei. Aí, ele deixou comigo para eu trocar os espetos por tachinhas. Mas não deu tempo...")

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