“Tenho andado tão serena. O vermelho me atravessa. Qualquer brisa me desperta. Já não ando tão depressa”. Os versos são de Na areia , música composta pelo pernambucano Juliano Holanda especialmente para Elba Ramalho. Mais que depressa, a cantora se apropriou dela.
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Aos 68 anos, 40 de estrada, dezenas de sucessos cantados, filhos criados, árvores plantadas.... O que falta? “Estou no momento mais sereno da minha vida. Já não tenho tanta pressa. Porque a maturidade traz sabedoria para você saber se expressar e se jogar na vida. Porque até para se jogar há de se ter sabedoria”, avalia Elba Ramalho .
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A nova idade chegou há poucos dias. Não teve grandes comemorações. A cantora quase sempre está na estrada. “Os fãs fazem várias festinhas pelas cidades em que passo. Eu não me ligo muito em aniversário, não sou de planejar festas. Todo ano a gente faz um sarau aqui em casa, com amigos”, conta ela, que prefere não contabilizar anos.
“Não existe envelhecer para o artista. Eu me sinto muito em paz, com muita saúde e muito jovem ainda. É como se eu não quisesse enxergar o envelhecer. A gente vai atropelando o tempo. Eu nem estou atropelando, eu estou saboreando o tempo muito bem”.
“Deixando as coisas acontecerem”
Por enquanto, Elba vem fazendo esta “refeição” sozinha. Antes disso, foram muitos amores e pelo menos três casamentos. Com Mauricio Mattar, com quem teve o filho Luã, com o empresário Gaetano Lopes, com quem adotou Maria Clara, Maria Paula e Maria Esperança, e com o sanfoneiro Cezzinha.
Você viu?
Desde então, a artista não assumiu mais nenhum relacionamento, mas diz que não está totalmente fechada e que não existe um voto de castidade. “Eu quis me dar um tempo. Eu olhei para mim e vi que vivi um relacionamento atrás do outro, já emendava um no outro. Vários casamentos. Chegou um momento que eu tinha vivido uma relação muito intensa, fiquei cansada da coisa”, justifica ela, que no início deste ano viveu um romance com o professor de ioga Rodrigo Palazzo: “Estou deixando as coisas acontecerem”.
Coincidência ou não, o novo disco, “O Ouro do Pó da Estrada” fala de amor do início ao fim. “Às vezes a gente banaliza, mas é o amor que salva, que dá a tônica da verdade, da justiça e da esperança. Se eu encontrar alguém muito legal (já encontrei aqui e ali), tem que valer muito a pena para mim, viu? Porque eu tenho uma vida muito boa, sou muito feliz, estou muito tranquila, tenho muita paz de espírito. Pra alguém entrar na minha vida e destruir a minha paz, não quero”.
O feminismo na berlinda
A mesma clareza com que encara o amor, ela tem ao tocar num assunto muitas vezes espinhoso para ela: feminismo. “Tudo o que eu fiz na vida poucas feministas fizeram a favor do outro e a favor do meu próprio bem estar. Veja o meu modelo: saí de casa com 19 anos, era virgem, vim para o Rio de Janeiro sem conhecer ninguém, construí tudo o que eu tenho com minha luta e meu esforço. Nunca me privei de nada. Saio para jantar sozinha, tomo meu vinho. sem problema algum. Quando que há 40 anos atrás isso seria bem visto? Nunca! E eu já fazia".
"Então, no meu entender, eu sou feminista . Sou feminista utilizando o que a mulher tem de potencial, de força e de grandeza para construir coisas boas para si e para quem está ao redor”, observa.
“Já salvei 300 bebês”
Há anos Elba mantém um trabalho voluntário pró-vida, que auxilia mulheres a terem seus filhos e não os abortarem. E há anos é atacada constantemente por isso: “A agressividade, o cerceamento à religião dos outros, uma perseguição barata. Eu sou uma pessoa que passou pela experiência do aborto e isso me deixou muitos traumas. E eu passei a lutar para que as mulheres não abortassem ".
"Faço um trabalho totalmente voluntário, amoroso. Já salvei mais de 300 bebês nessa brincadeira. Só com meu chegar e com minha palavra. E recebi muitas pedradas das supostas feministas por conta da minha ação pró-vida. E isso eu acho ruim no feminismo. Não respeitar o ponto de vista de cada um e saber conviver com alguém que pensa diferente de você”.
Sem fé, ela nada seria
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E uma mulher pacífica não quer guerra com ninguém, certo? Um norte para Elba Ramalho que se pauta na fé para lidar e aprender com a vida. “Sem fé eu não viveria. Poderia até achar que estava vivendo, mas não estaria. A devoção à Nossa Senhora vem da infância".