Passados meses da sua saída do confinamento, a jornalista Nayara de Deus joga o olhar para o passado e o presente e revela percepções do reality show
Jornalista, paulistana e 33 anos. Foi com essa descrição que Nayara de Deus se apresentou para o Brasil ao ser confinada durante um mês na casa mais vigiada do País, a do Big Brother Brasil . Com sorriso no rosto e energia estampada na cara, a ex-BBB conversou com o iG Gente para contar um pouco mais sobre a sua experiência depois do reality show.
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“Eu confesso que agora está mais gostoso porque acaba aquela excitação e você começa a colher os frutos. Hoje eu tenho a oportunidade de mostrar o meu recorte depois de sair de lá”, conta Nayara , que revela estar degustando os diversos convites para eventos que vem recebendo.
No dia anterior à entrevista, a jornalista ficou sob as câmeras do próprio celular ao lado do também ex-BBB Diego durante a pré-estreia do filme “Talvez Uma História de Amor’, dirigido por Rodrigo Bernardo, e fez questão de compartilhar o momento nas suas redes sociais. “Estou tendo um pouco de férias, eu diria. Sou uma mulher que sempre trabalhou de segunda a segunda”, comenta aos risos.
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Com um canal recém-lançado no YouTube, a ex-BBB parece não esquecer sua veia jornalista e pretende se jogar no mundo dos youtubers para trazer mais uma plataforma informativa. “As pessoas me pedem muito para mostrar os looks, eu acho legal e acho que é possível fazer isso mas não é muito minha cara ficar só nessa. Então quanto mais eu puder levar um conteúdo para que as pessoas reflitam, pra mim é mais interessante”, comenta.
Nos bastidores
Passado alguns meses após o confinamento na casa, Nayara começa a ter outras percepções sobre o que passou diante de todo o Brasil. Para ela, a ideia de que sairia da casa em pouco tempo era algo muito presente durante sua participação no programa.
“Quando você chega lá no terceiro dia e tá todo mundo aos berros eu pensei que iria tentar me manter ao máximo, mas deixei o jogo rolar”, brinca a jornalista que diz estar muito bem acostumada com a solidão de forma que, para ela, a primeira semana se configurou como um dos seus piores momentos na casa. Apesar disso, a euforia dos jogadores não fez com que Nayara desistisse do jogo.
“Eu tinha uma motivação. Vi que uma moça linda ano passado [Gabriela Flor] saiu na primeira semana e o que eu queria era não sair na primeira semana. Sabia que ia sair, mas na primeira semana não saia não. E eu fiquei lá um mês, eu resisti”, relembra.
Após ter saído da casa, a relação com Viegas e Diego se manteve. Com os brothers vivendo em São Paulo, Nayara diz que é comum eles se encontrarem - especialmente Viegas, que é músico e "da noite", assim como Nayara.
Ainda que os memes e intrigas do grupo do whatsapp da casa tenham cessado de aparecer nas telinhas, Nayara revela que, nos bastidores, ele está a todo vapor. “É um grupo que conversa, principalmente nos momentos que alguém precisa de algo ou tá envolvido com um projeto. Foi um grupo que se mobilizou quando queríamos articular um movimento contra os ataques à Ana Paula”, comenta.
Redes sociais
Apesar de estar com o celular sempre por perto – ainda que nas mãos do seu assessor - a vida de Nayara nas redes sociais ainda é nova. Com cinco anos de Facebook, se tiver publicado cinco fotos já é muito – e essa é uma estatística criada por ela mesma. Sem nenhuma conta em outras redes sociais, após sair do BBB a jornalista se viu forçada a encarar o universo digital.
“Eu era uma das mulheres mais discretas do mundo online”, comenta a ex-BBB. Atualmente presente em diversas redes sociais, a jornalista já até criou um gosto especial por uma delas: o twitter. “É um que tem que gostar ao menos de escrever. Os haters vêm com algo mais elaborado, não é a violência pela violência como no Instagram”, opina.
Quem vê as publicações ou stories constantes no Instagram da paulista pode até estranhar essa distância que ela tinha com a plataforma, mas a verdade é que a iniciativa de ter uma conta no aplicativo nem partiu dela.
Segundo Nayara, um fã da Paraíba acabou criando a conta para ela e, ao sair do confinamento, o jovem entrou em contato com a jornalista que acabou tomando conta da plataforma. “Estamos trabalhando para que ela tenha alguma serventia, tanto para quem me acompanha quanto para que midiaticamente eu possa me expressar”, explica.
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Representatividade e política
Se expressando nas redes sociais, Nayara não hesita em falar de maneira assertiva sobre os mais diversos assuntos sociais. “Eu acho que a gente não tem nunca que deixar de falar sobre questões que tenham algum peso na estrutura social, talvez as pessoas não gostem disso - e isso as incomoda muito“, comenta a jornalista.
Fora da casa, Nayara não deixou de acompanhar o programa e torcer para sua jogadora favorita. E parece que suas boas vibrações realmente se fizeram ouvidas, já que Gleici foi quem levou o prêmio. “Eu achei fenomenal porque assim foi a vitória da representatividade”, comenta aos risos.
A ex-BBB, que foi a quarta eliminada da casa com o maior índice de rejeição com 92,6% dos votos e acabou ouvindo um discurso de Tiago Leifert afirmando que sua defesa sobre a representatividade dentro da casa não a levaria a nada.
“Essa questão da representatividade tomou um tamanho muito maior até por conta do recorte. Fica parecendo que a gente ficou o mês inteiro falando só sobre isso”, comenta a jornalista.
Apesar de criticar a maneira como seus discursos foram mostrados na televisão e a visão que os brasileiros construíram de sua imagem, Nayara não nega que o tema foi de importância para ela dentro da casa.
“Eu nunca fui de levantar bandeira. Eu sou minha própria representatividade enquanto mulher e negra. Eu nunca fui de ficar martelando qualquer tipo de discurso”, comenta.
“Mas o Leifert é um rapaz de família judia que nunca teve que pensar nesse tipo de questão. Ele já teve a vida dele traçada para o sucesso. Então é natural que ele tenha cometido esse equívoco de negar a representatividade”, completa a jornalista.
Para ela, um reality show precisa contemplar personagens de toda uma sociedade e, portanto, a representatividade importa.
“Acho que a minha saída tem a ver com a torcida dos telespectadores para outros jogadores, mas também com uma questão estrutural da sociedade porque acho que não fiz nada que me julgassem como alguém má. Então acredito que a rejeição tem um viés de raça que está embutido”, opina.
Sempre muito preocupada com o trabalho, Nayara avalia que esse foi o principal tema de conversa entre os colegas da casa, ainda que a impressão que ficou para os telespectadores tenha sido outra.
“Não fui lá para ficar como se espera que um preto fique: fale baixinho, abaixe a cabeça. Eu não vou pra falar sobre os problemas da minha vida. Fui pra mostrar uma mulher negra e uma mulher negra de raça”, explica.
Quem acompanha a ex-BBB nas redes sociais sabe que, apesar de setores da sociedade ainda afirmarem que o racismo não existe no Brasil, a jornalista está antenada e com o todos os olhares para a questão no País. “Se você tem alcance e não fala sobre assuntos que importam, por que você está lá?”, indaga.
Para ela, figuras públicas têm uma grande importância em levantar temas e ela celebra que isso tenha acontecido com frequência nos últimos tempos, com artistas com Taís Araújo no Brasil ou Beyoncé nos Estados Unidos: “Axé, meu pai! Essas pessoas públicas falarem sobre isso já é uma deixa para que outras pessoas peguem essa carona e debatamos o assunto”, opina.
Como jornalista, suas publicações não vêm apenas com opiniões, mas também dados, como o da ONU que em estudo realizado em 2017 apontou que a cada 23 minutos um jovem negro é morto no país. Para ela, a informação é extremamente necessária para se provocar mudanças neste cenário.
“Temos que estar falando todo o tempo sobre isso. E pressionar a categoria política, inclusive por uma reforma política que leve sim o maior interessado a um palanque para a gente conseguir alguma coisa, para termos uma política verdadeiramente inclusiva”, afirma.
Em ano de eleições e sob um período político conturbado, Nayara opina por uma postura radical para enfrentar o cenário. “Estamos apresentando velhos personagens que não deram certo e eu gostaria que tudo se movessem num movimento de não votar. De mostrar uma outra indignação, que não dá para manter o mesmo modelo”, explica, defendendo a proposta da reforma política.
Para ela, o polêmico processo da Lava Jato que tomou conta dos noticiários no País nos últimos meses só evidencia que o Brasil está em um “processo feudal de política”. “Mas se realmente vai conseguir fechar com isso eu já não sei. Não acredito que a operação cumpre isso não”, completa.
A Nayara jornalista
Acostumada a estar com os olhos atentos para os acontecimentos no país e também a estar sempre preparada para um novo acontecimento, Nayara – que mora no centro da cidade de São Paulo – acompanhou de perto a tragédia do Largo do Paissandu. Nas redes sociais, a ex-BBB fez uma cobertura em tempo real do assunto e afirmou estar praticando um “jornalismo solidário”.
“Jornalismo solidário é ser uma pessoa com uma veia um pouco anárquica, e não anarquista enquanto algo utópico, mas um coração anárquico. Fazer algo com uma pré-disposição social”, comenta.
Durante a sua experiência no Largo do Paissandu, Nayara revela que se sentiu incomodada com a cobertura do acontecimento voltado para os escombros. “Não tinha ninguém falando com a galera acampada, os grandes interessados em tudo o que aconteceu. Jornalismo solidário é entender que é preciso ter alguém para mostrar esse lado”, explica.
Se por um lado a internet tornou-se uma ferramenta para as chamadas fake News, por outro também criou a possibilidade de se contar uma história sob diversos ângulos, como defende Nayara. “Deu mais acesso às pessoas a consumirem o que elas quiserem”, comenta.
Sujando os sapatos - mas sem perder a classe
No ritmo de ser uma jornalista que de fato suja os sapatos, Nayara, entretanto, parece caminhar sem medo pelos pedregulhos da cidade, mas sem perder o glamour. Fã de moda, a ex-BBB apresentou looks atraentes dentro do confinamento e vem mostrando que o bom gosto não era apenas porque estava em frente às câmeras.
“Eu nunca acompanhei o universo da moda, mas sempre tive que me vestir muito bem. Primeiro porque sempre trabalhei e tive que estar bem vestida, que é uma questão de empoderamento, de ter respeito, principalmente uma mulher negra que tem que se colocar mais”, comenta.
Assídua frequentadora de brechós e aspirante da moda retrô, Nayara afirma não ter uma grande referência na hora de se inspirar, mas se tem um figurino que ela gosta de olhar é o dos personagens da série “Mad Men”. “É cada look... tudo colorido! Eu poderia me vestir daquele jeito todos os dias”, brinca aos risos.
Com um armário repleto de boas vestimentas, a jornalista se prepara para o sucesso. Ainda que esteja aproveitando a exposição que o reality show provocou em sua vida, a artista já tem uma projeção para o futuro: “Trabalho. Trabalho e mais trabalho”.
Flertando com a televisão, Nayara diz que o seu melhor ainda está na escrita mas não nega que tem ambições de retornar às câmeras – mas desta vez para reproduzir notícias. “Tudo isso para a TV seria um ensaio. Eu tendo trabalho eu estou feliz porque o resto eu consigo pensar com mais calma”, comenta.