Por que cobramos mais moralidade e ética de BBBs do que de homens públicos?

Episódio envolvendo Jaqueline, todo ele muito mal conduzido, recupera uma questão antiga que circundou o reality quando de sua chegada ao Brasil. Tanto em 2002 como agora, o País se prepara para um pleito presidencial

Um programa de TV longevo, seja um reality show, um jornalístico ou uma série, apresenta problemas de adaptação e ajuste com o tempo. Perda de fôlego e mudança de foco são constantes pelas quais o “BBB” já passou. O que acontece atualmente é que o programa atravessa dificuldades para se situar em uma contemporaneidade constantemente desafiadora e problematizante.

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Jaqueline vive o maior drama desta edição do BBB

Depois da saia-justa com a família Lima, acusada pelas redes sociais de praticar assédio, pedofilia e outros tantos mal-feitos , o “BBB” se viu no epicentro de outra polêmica originalmente vazia, mas com potenciais efeitos danosos. O último paredão opôs dois jogadores que se lançaram, ainda que com estratégias distintas, com muita paixão no jogo. Mahmoud e Jaqueline protagonizaram também a discussão mais acalorada e turbulenta desta edição do reality até o momento. Tudo por conta de uma suposta promessa de Jaqueline de que, no caso de conquista do anjo, daria a imunidade a Mahmoud.

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Mahmoud sustentava que ela havia feito a promessa. Jaqueline rebatia que não tinha feito. Estava estabelecida a polêmica - e a discórdia. A discussão se deu na madrugada de segunda para terça-feira e fez a alegria das redes sociais que não demoraram em resgatar um vídeo de Jaqueline fazendo a tal promessa. É verdade que Jaqueline já polarizava o paredão com Mahmoud, deixando Gleici de camarote na disputa, mas é também verdade que todo esse imbróglio e o surgimento do vídeo editado na terça (6) pela manhã contribuíram para a eliminação da sister com mais de 65% dos votos.

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Jaque e Mahmoud discutem no BBB 18

Há algumas ponderações a se fazer sobre o episódio. A primeira delas diz respeito ao fato do programa ter exibido o vídeo tal como ele surgiu nas redes sociais naquela manhã. O fato acusa não só a desimportância dada pelo programa ao episódio em si, como caracteriza que ele foi pautado pela balburdia online. Havia uma versão estendida daquele diálogo entre Jaqueline e Mahmoud. Ela só foi recuperada na manhã seguinte, no programa “Mais Você” e essa versão corroborava a sustentação de Jaqueline. A sister não fez questão de esconder a mágoa da Globo. “Por que não exibiram o vídeo todo?” É bem verdade que quando o vídeo foi exibido no programa, o páreo já estava definido. A influência não se deu ali, mas a questão é que o programa comprou uma versão - a de Mahmoud por vias indiretas, mas a das redes sociais.


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Reconhecido por sua criativa, incisiva e sempre aguda edição, o “BBB” comeu bola e passou recibo. O pior não foi nem mesmo isso. Além de claramente o diálogo travado entre Mahmoud, que ganha pontos como estrategista depois desse episódio, e Jaqueline não caracterizar nenhuma promessa ou algo do tipo, e desconsideremos o fato dela dizer em retrospecto ainda na mesma linha de raciocínio - e entre risos - “estou zoando”, houve a truculenta disposição de convencê-la de que ela prometera algo que não prometera. Foi na saída do programa, foi no “Mais Você” e foi na grande maioria das notícias que pipocaram na internet.

O episódio não representou apenas um atentando à língua portuguesa e sua compreensão, além de um momento de especial fragilidade do “BBB” enquanto programa de entretenimento, mas revelou algo incômodo sobre o Brasil atual e os brasileiros. Por que cobramos mais moralidade e ética de participantes de um jogo em que a dissimulação é uma das melhores e mais eficazes ferramentas e somos tão tolerantes com nossos homens públicos frequente e repetidamente pilhados em malfeitos, quando não em atividades criminosas?

O irmão de Jaqueline protestou. “O Tiago Leifert humilhou minha irmã”. Ele se referia ao fato do apresentador diante de nova afirmação da sister quando de sua eliminação de que não prometera coisíssima nenhuma ter proferido a sentença do que a internet chama de tombo: “Nós vimos o vídeo”.

As mesmas redes sociais que se apressaram em condenar Jaqueline, atentaram contra a língua portuguesa e desconsideraram diversos outros fatores que estavam em flagrante evidência naquele diálogo, se convulsionam em torno de políticos de estimação e fazem laranjada para descartar provas irrefutáveis de crimes e mais crimes.

Este cenário de total e absoluta perversão talvez guarde mais relação do que uma breve espiada sugere. No “BBB” como já advertiram Leifert e Pedro Bial, o espectador é Deus e Deus é todo poderoso e definitivo. No nosso jogo democrático, embora a soberania popular também se concentre no voto, seus efeitos são muito mais mitigados e contraditórios para uma absorção tão simples e eloquente como “Fulano, vem ser feliz aqui fora”.

A maneira controvertida, inflamada e, em última instância, injusta com que Jaqueline foi  tratada na esfera midiática na esteira de sua eliminação demonstra que há muito com o que se preocupar em um Brasil de tanto imediatismo.

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