Faz pouco mais de três meses que o EXTRA conversou com Isabel Teixeira pela primeira vez. Na época, estávamos perto de ver um dos grandes momentos de Maria Bruaca em “Pantanal”: a descoberta dela sobre a segunda família do marido.
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O sucesso de Mary Bru, apelido que a personagem ganhou nas redes sociais, já estava posto ali, mas a atriz ainda se acostumava com a repercussão da novela. Bem como com o hábito de se ver na TV, processo que para quem construiu uma sólida carreira no teatro, como ela, não era uma realidade. Hoje é algo que se coloca bem mais simples do que já foi um dia.
— Não é que eu tenha me acostumado, mas já consigo. Faz parte do trabalho se ver. Não é algo narcisista. Fui descobrindo coisas no decorrer da novela sobre condução do olhar, começo e fim de quadro... E é muito legal, parece não ter fim esse aprendizado. O “me assistir” tem um propósito, que é do estudo da linguagem. Então está sendo fácil. Consigo ver que é a Maria Bruaca que está ali, não sou mais eu — conta Isabel, que fez sua estreia em novelas como a médica Jane de “Amor de mãe”, em 2019.
Agora, mesmo com quase quatro décadas de carreira, o aprendizado segue quando o assunto é lidar com o sucesso de sua atual personagem.
— Ainda estou descobrindo essa repercusão — diz a artista, que se empresta para que Maria Bruaca brilhe em cena, fazendo muitas vezes quem está lhe assistindo derramar lágrimas de emoção.
Mas o motivo de tanto êxito, para a paulistana, não está em seu trabalho como atriz. Muito menos no papel que interpreta. Isabel pontua que a mãe de Guta (Julia Dalavia) diz o que as pessoas querem — e muitas vezes precisam — ouvir:
— Posso ser uma atriz brilhante, fazer meu melhor papel, mas não imprimir (não fazer tanto sucesso). E isso já aconteceu comigo antes (num outro papel), porque as pessoas não estavam querendo ouvir algo que a personagem falava por conta de uma conjuntura que vai além da nossa compreensão. Quem faz o sucesso dessa personagem não sou eu, não é ela nem a Ângela Leal (intérprete de Maria Bruaca na primeira versão do folhetim, em 1990). É o público.
Com tanta falação, a atriz sente como se estivesse a todo tempo saindo de uma peça.
— Tudo virou um grande hall do teatro — descreve, em referência ao momento em que o público se encontra com os artistas após o fim de um espetáculo para conversar sobre o que viram.
Como se vê nesta entrevista, que aconteceu virtualmente por cerca de uma hora e meia, Isabel demonstra prazer ao refletir sobre sua jornada até este momento da carreira. E longe de qualquer vislumbre com a nova visbilidade:
— Não acredito que eu “tenha chegado”, e isso eu escuto às vezes: “Agora você alcançou”. Não alcancei nada, não é meu objetivo chegar a lugar algum. Meu objetivo é estar sempre no percurso.
Nas redes sociais, o aumento de seguidores e interações é exponencial desde que a artista apareceu no remake. São tantas mensagens que às vezes fica até difícil dar conta de tudo. Mas ela tenta.
— Tem uma frequência de mensagens falando de mães, avós... São muitas mulheres falando de outras mulheres. Mas também tem muitas falando de si próprias. E essas, em primeira pessoa, são as mais difíceis de receber e responder. É curioso porque a pessoa não conta exatamente o que está acontecendo, mas fala em relação à personagem: “Eu também estou me libertando, tentando”. Eu penso o que essa pessoa gostaria de ouvir e talvez seja exatamente o que ela está vendo agora na televisão. Sempre respondo: “Se perdoe, se dê seu tempo”. O restauro de uma vida é algo muito complicado — relata a atriz.
A relação que começou tímida com o audivisual, com pontas em algumas produções e sua estreia na série “Desalma” (a produção foi gravada antes de “Amor de mãe”, no primeiro semestre de 2019, indo ao ar em 2020), hoje já virou casamento. Mas por que não vimos Isabel mais cedo na TV? A resposta é mais simples do que se possa imaginar:
— Porque é o caminho. Não procurei pois também fiz uma peça depois da outra, nunca pude parar de trabalhar. Sou um pouco multifocada, faço várias coisas ao mesmo tempo e aceitei isso de uns tempos pra cá. Não me recriminando, falando que não tenho foco. Posso ser mãe, escritora, dar aulas, sair e voltar. E uma coisa foi levando à outra.
Família orgulhosa
Não é difícil pensar numa cena em que Maria Bruaca tenha despertado a euforia do público. Em uma delas, a personagem, já em sua fase como Maria Chalaneira, solta a voz ao lado de Eugênio (Almir Sater). O resultado foi fruto da junção de trabalhos de vários membros da equipe da novela, que Isabel faz questão de ressaltar. A ideia, no entanto, partiu do ator e cantor.
— A cena do canto foi algo totalmente do Almir, uma ideia dele. O Bruno (Luperi, autor do remake) topou e colocou isso no texto. Escolhemos juntos as músicas: eu, Almir e o Rafael Luperi (um dos produtores musicais da novela). Na segunda viagem que fizemos ao Pantanal (para as gravações), passei um dia inteiro na casa do Almir, ensaiamos umas oito horas — recorda ela, citando a fazenda que o artista tem na região.
A música “Meu primeiro amor”, gravada pela dupla Cascatinha & Inhana, foi uma das que a personagem cantou no folhetim. Uma sugestão da atriz, que surgiu não apenas de observações suas sobre a personagem e trocas com a equipe da novela, mas também a partir de conversas com seu pai, Renato Teixeira. O músico, no entanto, não sabia que a filha cantaria tal canção.
— Meu pai não conseguiu falar comigo por uns dois dias. É o jeito de ele dizer que ficou muito emocionado, conheço. É ficar um pouco quieto para conseguir falar depois. Então, quando ficou na dele por um dia, eu já falei: “Ih, pegou nele” — conta a filha do músico, que fala ainda da relação com o irmão, Chico Teixeira: — Ele já é todo esparramado, fala na hora, diz: “Estou chorando, que coisa linda”. E é louco, porque é uma família de cantores e eu não sou cantora. Sou uma atriz que canta. É a Maria Bruaca que canta.
Tanto Renato qaunto Chico fizeram participações no remake, interpretando o peão Quim nas duas fases da trama. Isabel conta que a novela, inclusive, aproximou ainda mais o trio, pois virou um assunto em comum sobre um mesmo projeto que teve os três juntos pela primeira vez.
E os elogios pelo trabalho não partem somente do pai e do irmão, mas também dos filhos de Isabel. A paulistana é mãe de Flora, de 11 anos, e Diego, de 18, e não esconde o brilho nos olhos na hora de falar sobre eles. Quando esteve no “Domingão com Huck”, a artista recebeu uma homenagem dos dois: a caçula esteve no palco em uma surpresa para a mãe, enquanto o rapaz deixou uma mensagem gravada, já que está nos Estados Unidos fazendo faculdade.
— Meu filho que batalhou a ida dele lá para fora. Eu não fiz nada. Foi uma batalha de dois anos e meio, três anos. Eu ainda falava: “Tem que ter um plano B, e se o A não der certo?!”. Desde os 3 anos dele eu viajo muito, e para ele é muito natural isso. Mas por mais preparada que eu seja, quando fomos nos despedir no aeroporto, ele virou a esquina do embarque, e eu fiz: “Volta!”. Era só para ver ele mais uma vez, sabe? — conta Isabel, saudosa do primogênito, mas com um sorriso de orgulho estampado no rosto: — Falo com ele todo dia, confio nele pra caramba. Vai ficar quatro anos lá. Foi como goleiro do time de futebol de uma universidade, é uma bolsa. Ele treina, trabalha no campus e estuda Jornalismo.
O mesmo olhar da mãe babona aparece quando a atriz fala sobre a caçula, Flora:
— Ela dança, toca, faz teatro, conversa com as amigas, muda looks... Aprendo um monte com ela.
Com o ritmo de gravações intenso no Rio de Janeiro, a paulistana pondera:
— Ainda tenho que me justificar muito por ser uma mãe que trabalha fora. Às vezes penso que se eu fosse um homem, eu não teria que me justificar. Perguntas que me são feitas nem seriam feitas. Sobre como eu lido com isso de estar o tempo inteiro viajando etc. Ouvi muito isso de um jeito como se eu tivesse que dar conta de tudo, como se tudo fosse minha responsabilidade sozinha, como se eu tivesse que acertar conta. E não é assim.
Em cena
Na novela, a personagem de Isabel vive agora um momento de luta pelos seus direitos — “Uma fase de reconstrução para estar no mundo”, define a atriz —, onde Maria vivencia a sororidade.
— A cozinha fica quente com Zefa (Paula Barbosa), Irma (Camila Morgado), Mariana (Selma Egrei), Filó (Dira Paes), Muda (Bella Campos)... E o restauro da dignidade e da autoconfiança que é feito com o acolhimento do José Leôncio (Marcos Palmeira) e da Filó é uma construção linda! É do texto, mas também dos atores. Tenho gravado cenas naquela cozinha com a Dira que são uma escola — diz a artista, que comemora o fato de sua personagem lhe permitir transitar entre os núcleos do folhetim: — Fui tão sortuda... A parte da tapera também foi muito gostosa de fazer. Eu e Alanis (Guillen, a Juma) ficamos muito amigas no Pantanal, dividimos quarto lá. Duas mulheres de gerações diferentes e que têm muita troca de experiências e informação. Ela é muito especial.
Esse contato com as mulheres na fazenda poderia ser encarado como a terapia de Maria Bruaca. Isabel, que faz análise há bastante tempo e enxerga a prática como algo saudável e benéfico, diverte-se com a ideia de ver a personagem no divã.
— Acho que ela não saberia o que levar para a terapia, descobriria com o processo. Imagina como seria uma terapeuta no Pantanal? Isso do restauro da Maria, que acontece agora ao lado das mulheres, também é uma terapia. Um jeito de a gente se olhar, de fazer uma reflexão coletiva para se enxergar de outra forma. E nem isso a Maria Bruaca tinha — reflete a atriz.
Os elogios aos colegas de trabalho se estendem também a Juliano Cazarré, o Alcides desta versão do folhetim, a quem Isabel chama de “ator poeta e muito generoso”:
— Tem horas em que ele espera eu entender uma coisa que está acontecendo com muita generosidade. Não me dá uma aula de como tem que ser a televisão. Ele me ensina fazendo em alguns momentos. Às vezes tenho 14 cenas e fico com medo, ele me diz: “Vamos uma por uma, por vezes é bom a gente estar cansado”. É uma delícia contracenar com ele. Sorte a minha!
Mesmo num processo contínuo de aprendizado, a atriz não deixou de dar seu toque à personagem. Ao assistir à primeira versão da novela, percebeu que a Maria de Ângela Leal fumava escondido como uma válvula de escape em meio a tantos abusos por parte do marido. Ex-fumante, Isabel optou por pensar em outra ação para sua versão do papel. Os “pantaneiros” (como se chamam os fãs da novela) podem ter percebido o detalhe quando a mãe de Guta ainda morava na fazenda de Tenório.
— Me veio uma história da minha avó Paula, que meu pai adora contar. Ela tinha sempre um copinho com um limão dentro para saúde, com um pires em cima. Era proibido mexer naquilo, ela era brava. Um dia, meu pai, com uns 14 anos, foi jogar uma pelada, naquele calorão, e tinha acabado a água do filtro. Não tinha ninguém na cozinha, ele abriu a geladeira e tomou aquela limonada geladinha inteira. E desmaiou! Era pinga! Lembrei disso e falei: “Pronto” — narra a atriz.
Isabel depois de Maria
Aprendizados técnicos, novos amigos que extrapolam o profissional e visibilidade não são os únicos frutos que o trabalho em “Pantanal” tem rendido para Isabel. A paulistana, que pôde relembrar o sentimento dos tempos de escola de arte dramática ao engatar no processo de aprender novas regras para o audiovisual, pontua o que Maria ainda trouxe para sua vida:
— É o trabalho de maior fôlego que eu fiz. É uma maratona. No teatro, já fiquei três anos em cartaz, e a gente repete. Aqui, é a permanência de uma personagem que muda. Fazer novela é aprender técnicas diferentes. Fora isso, é muita reflexão sobre o que eu achava que era normal e não é, observando se o que eu estou vivendo é bom para mim. Às vezes, a pessoa está a fim de arrumar a casa, esperar o marido... E ela pode ser assim. Não é uma Maria Bruaca sempre quem faz o trabalho doméstico. Existiu ali (na trama da novela) um abuso que ela normatizou. Não que eu tenha algo assim na minha vida, mas esse olhar observador ela me deixou.
Ao ser indagada sobre o que lhe aproxima da personagem, a atriz, que está solteira, responde que “tem muita coisa” de Maria Bruaca.
— Esse alumbramento que ela tem com o mundo em um determinado momento da trama, eu tenho. Esse “uau!”, que ela gosta de viver. Me reconheci ali — pontua a artista, que vai além: — Também durante a vida, nas inseguranças de não saber como agir... Acho que todos nós temos isso. Ela é uma personagem clássica, com certeza todo mundo tem um pouco dela.
Depois de ter vivido toda a intensidade de “Pantanal”, que segue para seu desfecho (a novela termina em outubro), Isabel percebe que não é mais a mesma pessoa de antes da novela:
— Antes eu estava no passo da coerência. E depois, continuarei. Não parece, mas muda muito! Não saí de nenhum trabalho que já fiz na vida sem estar transformada por ele de alguma maneira. Nunca. Também sempre pensei nos próximos trabalhos que faria. Mas, por mais que planeje, a vida sempre me surpreende. Agora já decidi que, além de ser multifocada, estou mais solta, mais Zeca Pagodinho: deixa a vida me levar, vida leva eu.
Inspiração e respeito pelo passado
Ao ganhar o papel de Maria Bruaca na ficção, a paulistana de 48 anos fez questão de assistir com olhos atentos à primeira versão de “Pantanal” e até hoje exalta o trabalho feito por Ângela Leal naquela época. No início deste mês, as duas atrizes postaram um foto do primeiro encontro entre elas, que deixou tocado até mesmo quem visualizava o registro por meio das redes sociais.
— Esse encontro foi um presente que ganhei da minha “irmã”, Rita Wainer. Foi muito bonito, todo mundo ficou emocionado. Parecia que eu a conhecia há muito tempo. A gente já tinha conversado virtualmente, quando eu estava no Pantanal, mas era longe. Eu não tinha abraçado ela — relembra Isabel, que não esconde a admiração que sente por Ângela: — Já tínhamos combinado que essa Maria Bruaca de hoje é nossa. Uma criação coletiva, mas quero honrar a ela.
A atriz que vive a personagem no remake acredita que ainda tem muito o que conversar com Ângela e fala sobre uma homenagem que prestou a ela:
— Como um pequeno manifesto, demonstração de afeto e respeito, coloquei fixo no meu Instagram a foto de nós duas. Porque como estou tendo um aumento exponencial de seguidores, imagino que quando a gente se interessa por alguma pessoa nós olhamos os primeiros posts. Então quis deixar nós duas ali enquanto a novela estiver no ar para as pessoas verem que somos eu e ela.
As ‘Marias’ em Isabel
Maria Faladeira
“Eu amo falar, conversar e contar histórias”.
Maria Muda
“Mas também adoro ficar quieta, sozinha. Em casa, em ateliê... Acho isso uma dádiva”.
Maria Mãe
“Essa é uma que sou mesmo. E às vezes vem como uma mãe amiga, brincalhona. Às vezes vem como uma mãe mandona, que precisa colocar limites, ordem”.
Maria do Centro de São Paulo
“Amo minha cidade, andar pelo Centro de São Paulo, que, para mim, começa no meu bairro, que é Santa Cecília, e vai assim: Minhocão, Copan, Liberdade...”.
Maria Escrevinhadora
“Estou sempre escrevendo, rabiscando. Amo caneta, folha, papelaria em geral, diários, cadernos. É uma Maria muito presente na minha vida”.
E muitas outras
“Eu ainda seria Maria Organizadora, Maria Limpeza, Maria Supermercado, Maria Cineminha (risos). Tenho várias Marias detro de mim!”.
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