Enquanto Alanis Guillen dava esta entrevista, por videochamada, a paisagem verde em que estava era preenchida apenas pelo som dos pássaros e do vento. “Aqui, o silêncio é cheio de barulhos”, observa a protagonista de “Pantanal”. A paz daquela manhã da última quinta-feira se combinava com a calma e a doçura de Alanis, que está de volta à região no Mato Grosso do Sul para uma nova leva de gravações como Juma, personagem que caiu no gosto do público.
Na redes sociais, é fácil ter uma noção do sucesso da menina-onça, que ganhou uma enxurrada de memes nos últimos capítulos com a viagem ao Rio para conhecer a família de Jove. A química entre a atriz e Jesuita Barbosa também tem sido elogiada, e há quem aposte que a relação dos personagens ganhou forma também na vida real. Os dois, no entanto, negam que estejam namorando, mas não é por isso que Alanis deixa de falar do parceiro (ao menos de cena) com carinho:
— A gente foi desenvolvendo uma amizade de muita admiração. Já admirava o artista que ele é e sonhava trabalhar com ele. A gente se conecta num silêncio, numa intimidade muito bonita. Nunca falei isso para ele, mas a gente se tem num mistério. Às vezes, só de se olhar a gente se sente, se conecta, se sabe, se fala sem falar. Por isso que fica muito rico. A gente no set é “faça o que quiser de mim, que eu faço o que quiser de você”.
Sexualidade
Diferentemente de Juma, que tinha aversão ao “bicho homem” e está descobrindo sua sexualidade com Jove, Alanis é bem resolvida nesse quesito. Ela prefere não se limitar a rótulos, se “relaciona com pessoas” e vê como revolucionária a forma com que mulheres do meio artístico têm assumido a bissexualidade:
— Nossos desejos são nossos, não para servir a alguém. Mas entendo como é afrontoso ser uma mulher livre, que se expressa e que se tem pra ela.
“Pantanal” é o segundo trabalho de Alanis na TV. O primeiro foi “Malhação: toda forma de amor” (2019), em que também foi protagonista, como a mocinha Rita. Sua formação em Teatro se deu pouco antes, em dezembro de 2018, em sua cidade natal, Santro André (SP). Em janeiro do ano seguinte, já estava no Rio se preparando para sua estreia. Começar assim foi “uma responsa”, diz a artista.
‘Queria encontrar o meu bicho’
Mas se a Rita da novela teen era uma mocinha urbana e fácil de gerar identificação, Juma é uma jovem mulher selvagem, que herdou da mãe, Maria Marruá (Juliana Paes), o dom de virar onça e uma espingarda.
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— Desde que a Juma chegou para mim, tentei resgatar os instintos que foram domesticados na gente. Testei comer com as mãos, estar com o pé no chão, busquei atividades que me fizessem estar em contato com nossos sentidos. Queria encontrar o meu bicho, a minha mulher selvagem — conta Alanis, que fez aulas de equitação, kung fu e, depois de cinco anos sendo vegana, voltou a consumir carne como parte do desenvolvimento da personagem — Até torci para que eu não gostasse (de carne), mas faz parte do processo.
O tal processo também foi de perrengues. Mesmo amando estar em contato com a natureza, Alanis conta alguns percalços que viveu no Pantanal em gravações.
— Teve um dia em que estávamos na tapera da Juma e parecia que a gente estava em cima de um formigueiro de saúvas. Dava para fazer um filme, era saúva escalando todo mundo, as paredes. O chão coberto de formiga, e eu descalça, não tinha para onde correr, a gente tinha que gravar. Elas comiam a roupa da galera. O pessoal estava todo vestido para não ser picado, eu estava na pele lisa ali. É muito engraçado, parece que estamos no “Indiana Jones”. A casa da Juma é quase um ninho de coisas. A primeira vez em que fui abrir a porta, pulou um bicho e eu senti um choque no meu dedo, até hoje eu não sei que bicho era esse — conta a atriz, que antes de entrar na casa da personagem precisa que os bombeiros da equipe inspecionem o local, afinal, sapos “enormes”, cobras e aranhas podem estar por lá: — Oo bombeiro faz uma limpa geral. Já tiraram cobra enrolada do teto da tapera.
Contato com a Onça
O contato mais próximo com a onça Matí, que aparece na novela, no entanto, ainda não aconteceu. Alanis conta que a cena em que Juma encontra o animal pela primeira vez depois da morte da mãe precisou ser feita com tecnologia porque a onça já estava cansada:
— A cena em que aparecem as duas na frente da tapera, gravamos separadamente e colamos com computação. Vou acabar com a alegria de todos, minha mãe mesmo falou: “Ai, não queria saber disso, foi lindo”. Tivemos que respeitar o momento dela, é a onça que manda — garante Alanis, filha do engenheiro e músico Fúlvio Caratella e da arquiteta Valéria Guillen.
Corpo aceso
Para incorporar a onça, tanto em forma animal quanto humana, é preciso concentração e técnica.
— Realmente, eu sou muito mais lânguida e zen do que a Juma, então começo aguçando os sentidos. Às vezes, principalmente no estúdio, eu roubo uma anilha (equipamento que serve como um peso, usado na musculação por exemplo) ou um saco de areia dos bastidores e fico malhando braço, fazendo agachamento, para dar calor e deixar o corpo aceso — explica Alanis, acrescentando que, para sair da personagem, o processo é bem mais simples: — É só tirar a roupa dela e prender o cabelo (risos).