O jornalista Kaio Cézar pediu demissão ao vivo da TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo no Ceará, durante o "Globo Esporte" no mês passado. Na época, o rapaz escreveu um texto em seu Facebook explicando alguns dos motivos que o fizeram sair da empresa onde esteve durante 11 anos. Na publicação, ele fala que ele e sua família foram ofendidos no meio da redação. Além disso, o profissional cita Paulo César Norões, diretor da empresa, e o acusa de não saber lidar “com quem pense diferente".
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Em entrevista ao iG Gente , o jornalista voltou a falar sobre a demissão e os motivos que o levaram a tomar essa decisão. Segundo Kaio, ele não fez isso “do nada” e passou por muita coisa até se decidir, sendo uma delas a diminuição de seu salário. Ele diz que tiraram o salário que recebia na rádio Verdes Mares, onde narrava jogos, mas continuou exercendo sua função lá esporadicamente.
“Reduziram meu salário, me tiraram da rádio, tinham me tirado dos jogos do Premiere e da SporTV e o que me restava era a TV Verdes Mares , mas já estavam me tirando de lá, então decidi que chegou a hora”, disse ele. Nesse dia, o profissional conta que pediu demissão ao vivo, cumprimentou os funcionários do “Globo Esporte” e foi direto para casa, sem voltar na redação.
Além disso, Kaio também conta que sofreu assedio moral de seu chefe, Paulo César Norões, que, segundo o profissional, chegou a xingá-lo e o colocou em situações constrangedoras no meio da redação e na presença de colegas de profissão. "Tudo isso por eu simplesmente discordar dele. Sempre tratei [Norões] com respeito, eu sempre acreditei que ele iria me respeitar, mas as coisas foram piorando", explica
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Por conta dessas duas situações, entre outros fatos, o jornalista resolveu processar a TV Verdes Mares, a rádio Verdes Mares e a TV Diário, empresas do grupo Rede Globo , que também está sendo processada por Kaio, que entrou na empresa como estagiário, aos 17 anos.
Perseguição
Junto com tudo isso, uma sequência de acontecimentos fizeram Kaio acreditar que ele estava sendo perseguido por Norões e isso aumentou quando sua esposa, Mirella, apresentadora na TV Diário, foi demitida apenas um mês depois de voltar de licença maternidade. "Ela foi demitida numa sexta e nos casamos na segunda seguinte. Ela pediu folga no final de semana para se dedicar a organizar as coisas do casamento", conta ele. A demissão de Mirella aconteceu há um ano.
Mais fatos foram acontecendo ao longo desse ano até que Kaio foi escalado para narrar um jogo no meio da semana e ficou sabendo poucos dias antes que não ia mais. "Estavam me forçando a pedir demissão. Eu cheguei a pedir as contas, mas me pediram paciência e pouco tempo depois aumentaram meu salário por um lado, mas tiraram hora extra por outro". A ideia do narrador era pegar o dinheiro da rescisão e investir de alguma forma, mas a perseguição, segundo ele, continuou. " Eu já tinha feito de tudo, reclamado, o que eles queriam?".
Processo milionário
A decisão de processar as empresas foi tomada por Kaio apenas um dia antes de pedir demissão ao vivo e ele não comunicou sua chefia antes disso. "Eu não tinha como conversar com o PC, o cara me mandou tomar naquele lugar e não tinha conversa com ele", disse.
Ao iG , o advogado de Kaio, José Teles Bezerra Junior, especialista em direito do trabalho, deu mais detalhes do processo, onde eles pedem um valor de R$ 3,7 milhões. "O Kaio entrou como estagiário aos 17 anos e nesse período não teve a carteira assinada, estamos pedindo a assinatura dessa carteira", disse. "Ele trabalhou quase dois anos sem carteira assinada", mas, de acordo com ele, isso é "o de menos" nesse processo.
"Nessa sequência, ele passou a trabalhar para a TV Diário, para a TV Verdes Mares e também para a rádio. Ele começava o trabalho 5 horas da manhã , terminava 14 horas, tinha um intervalo de 4 horas e voltava, alguns dias da semana voltava para a TV ou pra rádio para narrar", continua. "Ele terminava meia noite, uma jornada muito grande".
Além disso, o jornalista não recebia as chamadas diárias de viagem, onde o empregador ganha 10% de seu salário por dia em que está fora mesmo com suas viagens para o Chile, onde narrou jogos da Copa América, e para a Rússia, na Copa do Mundo. "Só pagaram a ele uma diária e ainda usaram uma justificativa esdrúxula".
O iG teve acesso ao processo e ao cálculo até chegar aos R$ 3,7 milhões pedidos por eles. Nele, só de 13º salário de 2019 o advogado pede mais de R$ 19 mil. Na conta ainda tem adicional noturno e horas extras do mesmo ano. Ainda é possível ver que entram na contas horas extras, adicionais noturnos, férias, 13º salário e diárias de viagens desde 2014.
Segundo o advogado, desde que entrou na empresa, Kaio nunca conseguiu tirar férias corretamente. Ele tirava da emissora que trabalhava na parte da manhã, por exemplo, mas tinha que trabalhar nos outros períodos.
As atitudes de chefe junto com os problemas financeiros, de acordo com José, fizeram Kaio chegar a pensar em suicídio. "Ele pensou em se matar e chegou a executar o ato", contou. Agora, as quatro empresas estão no processo, sendo que a Rede Globo entra nisso porque responde de forma subsidiária, ou seja, se as outras empresas não pagarem, a Globo que terá que pagar.
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O iG
entrou em contato com a TV Verdes Mares, onde o jornalista
trabalhava, para ouvir o lado da empresa, mas, por meio da secretária de redação, a direção disse que "não está se pronunciando sobre esse fato".