Em abril vai ao ar a próxima novela de Glória Perez , “A Força do Querer”. E como é comum à autora, alguns temas importantes serão retratados no folhetim. Um deles será a identidade de gênero, retratada pela atriz Carol Duarte. Estreante em novelas, Carol interpretará Ivana, uma jovem criada pela mãe para celebrar tudo o que remete ao feminino. Porém, como a menina percebe ao longo da vida, não é assim que ela se identifica. Ela se vê como homem e, durante a novela, passará por um processo de mudança de gênero.
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Ivana terá muito obstáculos a enfrentar, não só físicos, como também psicológicos. E o primeiro deles deverá ser sua mãe Joyce (Maria Fernanda Cândido), que não deve lidar bem com o conflito da filha. Essa será a primeira vez que uma novela retrará identidade de gênero dessa maneira, durante o processo de mudança. E isso é muito significativo, não só para a comunidade LGBT em geral, como para os transexuais homens, que pouca, ou nenhuma, visibilidade possuem na grande mídia. Desde 1970 até 2013 apenas um transexual tinha sido mostrado em novelas. O dado vem de Fernanda Nascimento, autora do livro “Bicha (Nem Tão) Má: LGBTs em Novelas".
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Fernanda comenta que essa personagem será muito importante, justamente por nunca ter sido retratada dessa maneira antes. Ela espera que o papel desmistifique a imagem dos transexuais . “Essa história será importante para mostrar que não é só uma transformação cirúrgica. É hormonal, de sociedade”, comenta. Ela acredita ainda que o público deve se identificar com a história de Ivana. “Novelas que tem narrativas de revelação recebem mais empatia”, explica.
LGBTs nas novelas
Muitas coisas mudaram desde os anos 1970, o que é motivo de comemoração. O primeiro personagem homossexual apareceu em “Assim na Terra como no Céu”, em 1970, interpretado por Ary Fontoura. Mas foi apenas com o maquiavélico Félix (Mateus Solano) de “Amor à Vida” (2013) que o primeiro beijo gay aconteceu na Rede Globo. O SBT, porém, já havia mostrado o primeiro beijo gay da dramaturgia brasileira dois anos antes na novela “Amor e Revolução”.
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Fernanda mapeou que em pouco mais de quatro décadas, foram 126 papéis em 62 folhetins. Desses, 76 eram gays, 24 lésbicas, 16 bissexuais (sendo 13 homens), oito transexuais, um personagem sem definição de identidade de gênero e orientação sexual e um travesti.
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Fernanda comenta ainda que outras discussões podem surgir com esses personagens, como a questão de gênero versus sexualidade. No começo de “A Força do Querer” , Ivana terá um relacionamento com Cláudio (Gabriel Stauffer) mas, pela descrição da personagem, “ela se esforça para namorar ele, mas não consegue ir adiante, embora goste bastante dele. E os conflitos internos se agravam”. Já Cláudio parece querer ficar com Ivana, independente do que aconteça. “Essa é uma boa oportunidade para destacar que (a personagem) não precisa se relacionar com uma mulher ou homem, gênero é uma coisa e sexualidade é outra”, comenta. Ela cita como exemplo a personagem Xana (Aílton Graça) em “Império”. Ela era uma travesti, que se envolveu e casou com uma mulher, a Naná (Viviane Araújo).
Conflitos familiares
Um sinal da evolução das personagens LGBT nas novelas está na história. Ao invés de servir apenas como um alívio cômico, essas personagens têm histórias reais, conflitos e personalidade que vão além de seu gênero e sua sexualidade. Um bom exemplo disso é o próprio Félix. “O personagem tem outros conflitos. Isso mostra que a sexualidade é só um aspecto do ser humano”, comenta Fernanda. Para ela, é importante retratar LGBTs como vilões, mocinhos, personagens cômicos ou sérios. O problema está na personagem ser motivo de chacota. “O telespectador deve rir com a personagem, e não dela”, conclui.
Representatividade no elenco
“A Força do Querer” não terá somente Ivana como uma interlocutora da identidade de gênero . Outros artistas também terão destaque na trama. Silvero Pereira será Nonato, um rapaz que veio do nordeste para tentar a vida no Rio de Janeiro e trabalha como motorista de Eurico (Humberto Martins), além de ser travesti.
Silvero chamou a atenção de Glória Perez com seu espetáculo BR-TRANS, onde é a travesti Gisele Almodóvar e conta a história real de diversas transexuais. A atriz trans Jane Di Castro, uma das maiores ativistas dos direitos trans, também terá uma participação na novela.
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