No cinema, é comum reconhecer o trabalho de diretores pela estética, estilo e linguagem de seus filmes: Woody Allen, Pedro Almodóvar e Tim Burton, por exemplo. Na TV brasileira, o único diretor a ter um estilo próprio reconhecido é Luiz Fernando Carvalho, que nos presenteia esta semana com a minissérie "Dois Irmãos".
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Há mais de 20 anos Luiz Fernando Carvalho
vem mostrando seu diferencial no cuidado com cenografia, fotografia e na maneira de contar a história, tanto em séries como em minisséries. A parceria com Benedito Ruy Barbosa
rendeu bons frutos. Nos anos 90, "Renascer" e "O Rei do Gado" chamaram a atenção por tudo isso - a primeira fase da saga dos italianos Mezenga e Berdinazzi, em 1996, foi primorosa.
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Nesta década, o diretor criou uma atmosfera lúdica e transformou o remake de "Meu Pedacinho de Chão", originalmente uma história rural, em um dos marcos das 18h - os personagens cantavam, o figurino e os cenários eram multicoloridos, feitos com material reaproveitado. "Velho Chico", embora irregular, também teve uma primeira fase arrebatadora , encantando pela atenção aos detalhes, cenas contemplativas e interpretações marcantes - recuperando essas características na reta final, quando Luiz Fernando arrancou de atores veteranos como Antônio Fagundes e Selma Egrei interpretações dignas de prêmios.
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Mas não é só no universo rural que ele se destaca: em 2012, a série "Subúrbia" contou de forma ágil a vida de Conceição, que passa por perrengues ao se mudar do interior de Minas Gerais para uma comunidade do Rio de Janeiro. O diretor adora apostar em novos talentos e lançou Érika Januza, atualmente em "Sol Nascente". Em "Velho Chico", descobriu o talento da sanfoneira Lucy Alves, que roubou a cena vivendo Luzia.
Grandes obras entraram para a história da TV graças às mãos de Luiz Fernando Carvalho. Em 2005, a minissérie "Hoje é Dia de Maria" agradou tanto que ganhou uma "segunda jornada", mantendo o universo lúdico e o envolvimento do telespectador. Com o prestígio conquistado, ele ganhou espaço para apostar em microsséries e dirigiu A Pedra do Reino" (2007), "Capitu" (2008) e "Afinal, O Que Querem as Mulheres?".
Mesmo com a audiência nem sempre correspondendo - às vezes despencando os índices, caso da minissérie "Os Maias" (2001) e até de "Velho Chico" - ele resiste às pressões e mantêm seu estilo, não abrindo mão de silêncios e contemplações em cenas com fotografia e ângulos que parecem pensados com carinho. Por tudo isso, em uma indústria que preza pela rapidez na produção, Luiz Fernando Carvalho é o único diretor que, só de olhar para a TV, o telespectador já identifica sua obra.